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Eu amo escrever. Escrevo porque às vezes não cabe tudo aqui dentro. Porque há sentimentos que só se organizam quando viram palavras, e pensamentos que só fazem sentido quando dançam na página. Amo também olhar o céu e talvez isso diga tudo. Há quem olhe o céu para prever o tempo, eu olho para prever a mim mesma. Há algo em observar as nuvens, as estrelas ou o silêncio azul que me faz lembrar que existe poesia mesmo nos dias comuns. Este blog nasce desse encontro: entre a escrita e o céu. Vai ser um espaço para dividir pensamentos, contar histórias, guardar pedaços de mim e talvez, de você também, que me lê agora. Obrigada por estar aqui. Que você se sinta à vontade. Que cada texto seja como uma janela aberta, onde o vento entra leve e, quem sabe, traz um pouco de luz também

✿Amor sempre....

✿Amor sempre....
Caminho entre flores. O chão continuará pra nós com outras paisagens. Sou o que sou, porque é tudo que sei ser. E todo meu olhar escrito que você nunca aprendeu a ler, permanecerá no descaso para quem não compreende.

21 setembro, 2025

Agenda lotada

Aleatoriamente um toque de poesia


Iria sair às sete da manhã, mas acabei ficando. Ontem já tinha virado no plantão, e hoje a agenda não me deu trégua. Duas salas, uma chamada atrás da outra, e eu ali sustentando o ritmo que só quem vive de plantão conhece. Na hora do almoço, o corpo já pedia descanso; um cansaço manso, mas insistente. Ainda assim, sabia que só largaria às 19.

Na recepção, porém, o tempo parecia ter outro compasso. Uma senhora aguardava a hora de um exame. Enquanto esperava, conversava com todos funcionários, pacientes, acompanhantes. Um sorriso fácil, uma alegria que não cabia apenas nela. Eu a observei com curiosidade e admiração. Como pode alguém transformar a espera em encontro?

Fiquei pensando: a vida, às vezes, se esconde nesses detalhes. No riso compartilhado em meio ao incômodo da espera, no meio termo delicado entre a solidariedade e o simples prazer de conversar. Há quem transforme a sala de recepção em sala de estar, e quem transforme a rotina exaustiva em lição de leveza.

E eu, cansada, deixei-me contagiar. Aquela alegria me atravessou feito um sopro, lembrando que, por mais lotada que esteja a agenda, sempre há espaço para o humano esse fio que nos costura uns aos outros.

Com estas palavras, sigo costurando o dia. Eu que cheguei de viagem, ainda com cansaço da espera do voo dentro de mim, corri a curtir os filhotes, abraçar os pais, sorrir com André. E, no meio disso tudo, o trabalho que precisa ser feito, porque ele não espera, não pede licença. É exatamente assim: não desfiz as malas, não tive tempo de desconectar do cansaço, e minha vida parece ser feita dessa energia pura que vai me carregando de um lado a outro hahaha, como costumo brincar.

Mas a verdade é que, às vezes, sinto falta. Falta de um cafezinho sem pressa, de uma viola afinada, deitar numa rede, ouvir o canto dos pássaros. É nessa simplicidade que mora um tipo de descanso que nenhuma agenda consegue oferecer.

Talvez seja esse o segredo: aprender a buscar pequenos instantes de paz no meio da correria. Um olhar demorado para uma senhora alegre na recepção, um café rápido mas sentido, um pássaro que insiste em cantar mesmo que a gente não tenha tempo de escutar. É nesses intervalos que a vida nos devolve para nós mesmos.E um texto que não teria saído mas que saiu junto com o cafezinho e ponto.




Fernanda

Que o domingo seja cheio de amor uns para com os outros.

Um comentário:

  1. Dá bem pra imaginar,Nanda o teu cansaço e o tanto de trabalho tens! E maneter o sorriso mesmo nas salas de espera é muito bom! Principalmente não dar papo a quem só fala das doenças de A a Z que já teve, etc,rs... Não tenho o menor saco pra isso. Logo dou um corte! Muito melhor ficar calada se não temos boas palavras a dizer! Lindo domingo! beijos praianos, chica

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depois que a letra nasce
não há silêncio
há um choro que só eu ouço
e um medo que ninguém vê
o medo de mostrar demais
de sangrar diante de estranhos
de ser lida com desdém
ou pior: com pressa
porque parir palavras
é também deixar o peito aberto
num mundo que não sabe lidar
com quem sente fundo
a escrita respira fora de mim
e eu, nua, assisto
alguns dizem que é lindo
outros nem leem até o fim
há quem tente vestir meu poema
com a própria assinatura
como se dor fosse transferível
como se parto tivesse atalho
e é aí que mais dói
quando roubam o nome da minha filha
e fingem que nasceu de outra boca
quando arrancam o umbigo do texto
e dizem: “isso é meu”
não é
eu sei cada madrugada que ela levou
cada perda que empurrou esse verso
cada lágrima que virou frase
não quero aplauso
mas exijo respeito
porque minha escrita
anda no mundo com meu rosto
meus olhos, minha história
e quando alguém a toma como se fosse nada
está me dizendo:
“você também é nada”
mas eu sou tudo
o que ninguém teve coragem de escrever
e continuo parindo
mesmo ferida
porque escrever é a única forma
que conheço de sobreviver
(Fernanda)