Aleatoriamente um toque de poesia
Crônica
Hoje o dia amanheceu primavera. Havia no ar um frescor leve, desses que enfeitam a rotina com pétalas invisíveis. Enquanto acordava com o carinho da minha turminha preciosa, agradeci em silêncio pela vida e pela saúde de cada um deles, de todos que amo.Hoje, é uma dessas manhãs em que até o simples arrumar das mochilas parecia um ritual de gratidão.
No caminho da escola, entre risadas e pequenos silêncios, contei-lhes uma história. Falei de uma garotinha que também amava estudar, mas cujo acesso ao banco escolar foi marcado por desafios. Essa menina viveu num orfanato e, embora fosse querida pelas amiguinhas, havia muita vontade de ir voar na vida. Ela foi. Tao pequenina e tão decidida.
Mas levou um tempo para ela entender muitas coisas.
Um dia, cheia de coragem, a garotinha foi até uma escola e pediu para estudar. Responderam-lhe que precisava de um adulto para assinar sua matrícula. E ela, tão pequena, saiu de lá com o coração apertado, mas sem desistir. Enquanto isso, pegava folhas velhas de jornais, catava cadernos usados com páginas em branco e riscava as letras como podia. Aos poucos, foi juntando sílabas, decifrando palavras, lendo o mundo mesmo sem a formalidade de um quadro-negro.
Às vezes, colava o ouvido na janela da sala de aula só para ouvir a professora repetir as lições. Outras vezes, pedia a alguém que já sabia ler que lhe contasse como soavam aquelas letras. E assim, devagar, foi aprendendo sozinha, até que um dia estava lendo. Com um tempo depois pôde ocupar, de fato, um banco escolar. Foi difícil, mas nada a impediu de perseguir esse sonho.
Enquanto contava, percebi o olhar atento da minha turminha. Talvez eles ainda não compreendessem a profundidade daquela história, mas espero que um dia entendam: estudar não é apenas obrigação, é privilégio. É caminho aberto para a vida florescer.
E assim, deixei-os na escola com um beijo rápido, como quem planta uma semente de consciência.
Mas vim refletindo. Como olhar para um passado tão humilde e o hoje? Como não agradecer, ao ver meus filhos abrirem suas mochilas cheias de lápis coloridos, cadernos novos e merendas preparadas com cuidado? A garotinha de ontem lutava para conseguir um banco escolar; a mãe de hoje suspira de gratidão porque pode oferecer a seus filhos o que um dia parecia tão distante.
A vida é assim: feita de recomeços. O banco da escola que antes foi conquista dolorosa agora é herança transformada em amor. E talvez essa seja a maior lição que deixo: nunca esquecer de onde vim, para valorizar ainda mais o que hoje tenho.
Fernanda
Nanda a hisat´poria daquela menininha nunca será esquecida e a cada olhada pra trás, te ajuda a valorizar mais e mais cada etapa de tua força e superação e sentir muito orgulho de tudo isso. E graças à Deus, podes ver teus filhos em outra situação...
ResponderExcluirGratidão mesmo! beijos praianos, chica