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Eu amo escrever. Escrevo porque às vezes não cabe tudo aqui dentro. Porque há sentimentos que só se organizam quando viram palavras, e pensamentos que só fazem sentido quando dançam na página. Amo também olhar o céu e talvez isso diga tudo. Há quem olhe o céu para prever o tempo, eu olho para prever a mim mesma. Há algo em observar as nuvens, as estrelas ou o silêncio azul que me faz lembrar que existe poesia mesmo nos dias comuns. Este blog nasce desse encontro: entre a escrita e o céu. Vai ser um espaço para dividir pensamentos, contar histórias, guardar pedaços de mim e talvez, de você também, que me lê agora. Obrigada por estar aqui. Que você se sinta à vontade. Que cada texto seja como uma janela aberta, onde o vento entra leve e, quem sabe, traz um pouco de luz também

✿Amor sempre....

✿Amor sempre....
Caminho entre flores. O chão continuará pra nós com outras paisagens. Sou o que sou, porque é tudo que sei ser. E todo meu olhar escrito que você nunca aprendeu a ler, permanecerá no descaso para quem não compreende.

22 setembro, 2025

Valores.

Aleatoriamente um toque de poesia
Crônica



Hoje o dia amanheceu primavera. Havia no ar um frescor leve, desses que enfeitam a rotina com pétalas invisíveis. Enquanto acordava com o carinho da minha turminha preciosa, agradeci em silêncio pela vida e pela saúde de cada um deles, de todos que amo.Hoje, é uma dessas manhãs em que até o simples arrumar das mochilas parecia um ritual de gratidão.

No caminho da escola, entre risadas e pequenos silêncios, contei-lhes uma história. Falei de uma garotinha que também amava estudar, mas cujo acesso ao banco escolar foi marcado por desafios. Essa menina viveu num orfanato e, embora fosse querida pelas amiguinhas, havia muita vontade de ir voar na vida. Ela foi. Tao pequenina e tão decidida.

Mas levou um tempo para ela entender muitas coisas.

Um dia, cheia de coragem, a garotinha foi até uma escola e pediu para estudar. Responderam-lhe que precisava de um adulto para assinar sua matrícula. E ela, tão pequena, saiu de lá com o coração apertado, mas sem desistir. Enquanto isso, pegava folhas velhas de jornais, catava cadernos usados com páginas em branco e riscava as letras como podia. Aos poucos, foi juntando sílabas, decifrando palavras, lendo o mundo mesmo sem a formalidade de um quadro-negro.

Às vezes, colava o ouvido na janela da sala de aula só para ouvir a professora repetir as lições. Outras vezes, pedia a alguém que já sabia ler que lhe contasse como soavam aquelas letras. E assim, devagar, foi aprendendo sozinha, até que um dia estava lendo. Com um tempo depois pôde ocupar, de fato, um banco escolar. Foi difícil, mas nada a impediu de perseguir esse sonho.

Enquanto contava, percebi o olhar atento da minha turminha. Talvez eles ainda não compreendessem a profundidade daquela história, mas espero que um dia entendam: estudar não é apenas obrigação, é privilégio. É caminho aberto para a vida florescer.

E assim, deixei-os na escola com um beijo rápido, como quem planta uma semente de consciência.

Mas vim refletindo. Como olhar para um passado tão humilde e o hoje? Como não agradecer, ao ver meus filhos abrirem suas mochilas cheias de lápis coloridos, cadernos novos e merendas preparadas com cuidado? A garotinha de ontem lutava para conseguir um banco escolar; a mãe de hoje suspira de gratidão porque pode oferecer a seus filhos o que um dia parecia tão distante.

A vida é assim: feita de recomeços. O banco da escola que antes foi conquista dolorosa agora é herança transformada em amor. E talvez essa seja a maior lição que deixo: nunca esquecer de onde vim, para valorizar ainda mais o que hoje tenho.


Fernanda

Um comentário:

  1. Nanda a hisat´poria daquela menininha nunca será esquecida e a cada olhada pra trás, te ajuda a valorizar mais e mais cada etapa de tua força e superação e sentir muito orgulho de tudo isso. E graças à Deus, podes ver teus filhos em outra situação...
    Gratidão mesmo! beijos praianos, chica

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depois que a letra nasce
não há silêncio
há um choro que só eu ouço
e um medo que ninguém vê
o medo de mostrar demais
de sangrar diante de estranhos
de ser lida com desdém
ou pior: com pressa
porque parir palavras
é também deixar o peito aberto
num mundo que não sabe lidar
com quem sente fundo
a escrita respira fora de mim
e eu, nua, assisto
alguns dizem que é lindo
outros nem leem até o fim
há quem tente vestir meu poema
com a própria assinatura
como se dor fosse transferível
como se parto tivesse atalho
e é aí que mais dói
quando roubam o nome da minha filha
e fingem que nasceu de outra boca
quando arrancam o umbigo do texto
e dizem: “isso é meu”
não é
eu sei cada madrugada que ela levou
cada perda que empurrou esse verso
cada lágrima que virou frase
não quero aplauso
mas exijo respeito
porque minha escrita
anda no mundo com meu rosto
meus olhos, minha história
e quando alguém a toma como se fosse nada
está me dizendo:
“você também é nada”
mas eu sou tudo
o que ninguém teve coragem de escrever
e continuo parindo
mesmo ferida
porque escrever é a única forma
que conheço de sobreviver
(Fernanda)