Meditação em Movimento
O dia começa e eu agradeço por ele. Há um perfume de recomeço no ar, como se cada respiração fosse uma nova chance de estar presente. A rotina ainda tenta repetir seus rituais, mas hoje me deixo conduzir por outro ritmo, mais lento, mais meu. Levo as crianças à escola como quem entrega sementes ao colo da terra fértil, e volto para casa acompanhada de um silêncio bom, quase orquestrado.
Trabalho só amanhã; hoje o tempo se abre em compassos suaves que me pertencem. Decido me exercitar. Alongar o corpo, acordar os músculos, sentir a vida escorrendo por dentro como rio calmo.
Antes, porém, coloco Beethoven para preencher os espaços da sala. A música chega como um maestro, costurando em mim cada gesto, cada movimento. É curioso: parece que ela conhece meus limites e minhas vontades antes mesmo de eu me dar conta.
Respiro fundo, braços se erguem, coluna se estica, e o corpo dança em sincronia com a sinfonia. Fecho os olhos, abro o coração. Há instantes em que não sou eu que me movo: é a própria música que me conduz, como se tivesse descoberto um segredo guardado pelos anjos.
E então penso: minhas palavras sempre procuram repouso nas notas que ouço. Como se escrever fosse responder a algo que já estava no vento, no olhar atento, no poema escondido no silêncio do mundo.
Há uma cumplicidade serena entre aquilo que falo e aquilo que me é dado ouvir. Entre minhas frases, que caminham simples como passos pelo chão, e as sinfonias, que voam altas, descrevendo a eternidade. Nesse encontro nasce uma música íntima: feita de afeto, de reconhecimento e de gratidão pelo instante.
Hoje, enquanto o mundo corre lá fora, fico aqui, em movimento e quietude ao mesmo tempo, a compreender que viver talvez seja justamente isso: escrever a vida com palavras humanas e deixá-la ser respondida por acordes divinos.
Início: O Agradecimento
Respire fundo.
Sinta o ar entrar e sair, como quem acolhe o perfume de um novo recomeço.
Agradeça pelo dia.
Não importa se a rotina se repete: agora, tudo pode ser diferente.
O Silêncio Bom
Imagine que o silêncio ao seu redor é uma orquestra discreta, afinando seus instrumentos.
Sinta o corpo presente, disponível.
Hoje, o tempo é seu.
O Convite ao Movimento
Coloque Beethoven para tocar.
Deixe que os primeiros acordes preencham a sala, como se fossem fios de luz desenhando o espaço.
Alongue o corpo devagar: braços se erguem, coluna se estica, pés firmes no chão.
Respire, e a cada respiração, sinta a música guiar seus gestos.
O Corpo em Sinfonia
Deixe-se mover suavemente, como se cada músculo fosse uma corda vibrando.
Permita que a melodia conduza seus passos, seu ritmo, seu coração.
Feche os olhos por um instante:
você não se move sozinha, é a própria música que dança em você.
O Encontro Entre Céu e Terra
Enquanto o corpo se alonga, perceba: suas palavras caminham no chão,
as notas da sinfonia voam no céu. E entre céu e terra, nasce uma música íntima, feita de afeto e reconhecimento.
O Final: O Acorde Divino
Agora, pare por um momento. Deixe apenas a respiração e a música fluírem.
Sinta-se em paz.
Talvez viver seja justamente isso:
mover-se em palavras humanas e ser respondida por acordes divinos.
Respire.
Sorria.
O dia começou dentro de você.
Bom Dia!
Bora?
Fernanda!
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depois que a letra nasce
não há silêncio
há um choro que só eu ouço
e um medo que ninguém vê
o medo de mostrar demais
de sangrar diante de estranhos
de ser lida com desdém
ou pior: com pressa
porque parir palavras
é também deixar o peito aberto
num mundo que não sabe lidar
com quem sente fundo
a escrita respira fora de mim
e eu, nua, assisto
alguns dizem que é lindo
outros nem leem até o fim
há quem tente vestir meu poema
com a própria assinatura
como se dor fosse transferível
como se parto tivesse atalho
e é aí que mais dói
quando roubam o nome da minha filha
e fingem que nasceu de outra boca
quando arrancam o umbigo do texto
e dizem: “isso é meu”
não é
eu sei cada madrugada que ela levou
cada perda que empurrou esse verso
cada lágrima que virou frase
não quero aplauso
mas exijo respeito
porque minha escrita
anda no mundo com meu rosto
meus olhos, minha história
e quando alguém a toma como se fosse nada
está me dizendo:
“você também é nada”
mas eu sou tudo
o que ninguém teve coragem de escrever
e continuo parindo
mesmo ferida
porque escrever é a única forma
que conheço de sobreviver
(Fernanda)