Às vezes, me pego observando como algumas pessoas chegam aos textos como quem entra em uma galeria de arte: com pressa, apenas para deixar um rastro, um comentário rápido, um link brilhante que aponta para outro lugar. Mas pouco se demoram diante das obras, pouco sentem o que está ali, entre as linhas e os espaços silenciosos.
É curioso como a pressa em ser visto ou comentado faz esquecer que palavras pedem atenção, que histórias pedem presença. Ler com cuidado, deixar o pensamento fluir e depois escrever… isso faz toda a diferença. Pois cada texto é uma pequena viagem, e só se viaja de verdade quando se permite sentir o caminho.
No final, percebo que nem sempre é sobre os links que compartilhamos, mas sobre os gestos de leitura que conseguimos oferecer silenciosos, atentos, sinceros. E isso, por si só, já transforma qualquer comentário em um abraço para quem escreveu.😉
Fernanda
A beleza está em cada passo dado, mesmo sem mapa certo. O que fica não é a rota prevista, mas as marcas da estrada dentro de nós.
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depois que a letra nasce
não há silêncio
há um choro que só eu ouço
e um medo que ninguém vê
o medo de mostrar demais
de sangrar diante de estranhos
de ser lida com desdém
ou pior: com pressa
porque parir palavras
é também deixar o peito aberto
num mundo que não sabe lidar
com quem sente fundo
a escrita respira fora de mim
e eu, nua, assisto
alguns dizem que é lindo
outros nem leem até o fim
há quem tente vestir meu poema
com a própria assinatura
como se dor fosse transferível
como se parto tivesse atalho
e é aí que mais dói
quando roubam o nome da minha filha
e fingem que nasceu de outra boca
quando arrancam o umbigo do texto
e dizem: “isso é meu”
não é
eu sei cada madrugada que ela levou
cada perda que empurrou esse verso
cada lágrima que virou frase
não quero aplauso
mas exijo respeito
porque minha escrita
anda no mundo com meu rosto
meus olhos, minha história
e quando alguém a toma como se fosse nada
está me dizendo:
“você também é nada”
mas eu sou tudo
o que ninguém teve coragem de escrever
e continuo parindo
mesmo ferida
porque escrever é a única forma
que conheço de sobreviver
(Fernanda)