Jesus um dia foi questionado sobre uma mulher apanhada em adultério. Queriam que Ele a condenasse.
O sol ainda nascia quando trouxeram a mulher.
Arrastada, descomposta, cercada por olhares de fúria e dedos prontos para acusar.
Diziam: “Foi apanhada em adultério!” e o eco da palavra soava como sentença.
Queriam ver o que Jesus faria.
O mestre, que pregava o amor e o perdão, agora tinha diante de si a lei, a multidão e a mulher de cabeça baixa, tremendo entre o medo e a vergonha.
Ele não respondeu de imediato.
Apenas se abaixou e começou a escrever na terra.
O pó levantava com o vento, o murmúrio crescia e Jesus, calado, escrevia.
Insistiram: “Mestre, Moisés mandou apedrejar. E Tu, o que dizes?”
Então, Ele ergueu o olhar, e sua voz cortou o tumulto com a serenidade dos que veem o coração humano por dentro:
“Aquele que dentre vós estiver sem pecado, atire a primeira pedra.”
O silêncio caiu como chuva sobre a raiva.
Um a um, foram deixando as pedras no chão.
Os mais velhos primeiro talvez porque sabiam o peso do erro, e depois os mais jovens, até restarem apenas Jesus e a mulher.
“Mulher, onde estão os que te condenavam? Ninguém te condenou?”
Ela respondeu: “Ninguém, Senhor.”
E Ele disse:
“Nem Eu te condeno. Vai, e não tornes a pecar.”
Não houve discurso. Não houve castigo. Houve compaixão.
Jesus sabia que o adultério é apenas um espelho rachado de uma alma que perdeu o caminho.
Sabia também que, entre a culpa e o arrependimento, há uma jornada que só o amor é capaz de conduzir.
Naquela manhã, a lei cedeu lugar à misericórdia.
E o pó onde Jesus escrevera ficou marcado, não com o nome de quem errou, mas com o gesto de quem perdoa.
Porque o adultério pode ser a queda
mas o perdão é sempre o recomeço.
O adultério não é só o que se faz entre corpos.
É tudo o que se adultera o que se falsifica dentro do coração.
Adulterar é trair o que é puro, é distorcer o amor, a verdade, a própria consciência.
Há quem adultere o afeto quando promete o que não sente.
Quem adultere o tempo quando vive fingindo pressa para não se escutar.
Quem adultere a fé quando diz “Senhor, Senhor”, mas não perdoa nem o irmão da casa ao lado.
Adulterar é mentir ao coração, é vender o silêncio da alma por um instante de ilusão.
E Jesus sabia disso.
Por isso, quando olhou para a mulher, viu mais que o pecado, viu a humanidade inteira, com suas quedas e disfarces, com o medo de ser descoberta e o desejo profundo de ser acolhida.
Naquele olhar, Ele não enxergou apenas uma transgressão, mas todas as adulterações da vida:
os amores por conveniência, as palavras sem verdade, as promessas feitas por medo, os gestos sem coração.
E o que fez Jesus diante disso?
Perdoou.
Não para absolver o erro, mas para mostrar que o perdão é o único elo entre o que fomos e o que ainda podemos ser.
Porque só quem é capaz de olhar para dentro de si e reconhecer suas próprias adulterações entende o peso e a beleza dessa frase:
“Vai, e não tornes a pecar.”
O adultério, no fundo, é o distanciamento de si mesmo.
Mas o perdão é o retorno lento, humilde, luminoso àquilo que é verdadeiro em nós.
Fernanda
Boa tarde de Paz, querida amiga Fernanda!
ResponderExcluirUm post e tanto...
Vou lhe confessar uma coisa:
NUNCA traí.
Não é da minha natureza. Não foi porque é 'pecado ' nem nada similar. Nunca senti vontade. Gracas a Deus! Sentiria peso na consciência. Não foi por falta de oportunidade tampouco.
Sei que tem mulher e homem que traem com toda naturalidade pelos mais diversos motivos.
O que sinto de verdade é que quem ama não trai.
Creio ser impossível, se há AMOR...
A passagem bíblica da Samaritana me lê, mesmo não tendo sido mulher prostituida (pela Graça de Deus).
Gosto tanto dela que, ao criar o primeiro blog, coloquei no template a imagem da passagem em questäo.
Para mim, ela é claríssima.
-Senhor, eu não sou digna de atirar a primeira pedra (nem a última), mas dizei uma só palavra e serei salva.
Sinto o extremo gesto da Misericórdia Divina.
Se não temos um pecado X, temos um Y...
Assim que, primeiro devemos olhar para nosso nariz, depois, para o nosso de novo e de novo...
Deus é a MISERICÓRDIA INFINITA.
Adultero em relação a mim muitas vezes, quando penso mais nos outros a ponto de me prejudicar à saúde e outros.
Adultero quando sou egoísta.
Adultero quando não sou grata a Deus o suficiente.
Adultero quando sou conivente com a sociedade corrupta a fim de ganhar vantagem pessoal.
Ah! Amiga, têm tantos adultérios que estamos Incluidos como sociedade... que não deveriamos nos ater ao pé da letra como fazem muitos ao ler a Palavra de Deus e acaba até se mutilando para não errar no alvo (pecar)...
A questão é como você disse acima Aqui no post:
"Há quem adultere o afeto quando promete o que não sente.
Quem adultere o tempo quando vive fingindo pressa para não se escutar."
Como você foi feliz e Inspirada ao escrever tais parágrafos...
Menina, Deus te usa para mexer em feridas abertas da sociedade.
Tenha dias abençoados!
Beijinhos fraternos
Querida Roselia
ExcluirSuas palavras são um testemunho vivo daquilo que Jesus realmente quis ensinar que o adultério ultrapassa os limites do corpo e alcança as regiões mais sutis da alma. Também acredito, como você, que quem ama de verdade não trai nem o outro, nem a si mesmo, nem a Deus.
E é lindo o modo como você amplia o sentido: adulterar é desviar-se da própria essência, é perder o eixo da gratidão, da sinceridade, da compaixão. Todos, em algum momento, nos vemos nesse perfil que revela não a culpa, mas a necessidade de voltar à verdade.
A passagem da mulher samaritana e a do adultério se encontram na mesma luz: a da misericórdia.
Jesus nunca buscou a perfeição buscou o reconhecimento do que somos, com nossas falhas e nossa fome de amor.
Obrigada pela leitura tão sensível e por deixar o coração falar. Que o Cristo continue nos ensinando a olhar sem julgar e a amar sem medidas.
🙏🏻😘
Oi, Fernanda! Este texto que se apresenta é, sem dúvida, uma contemplação de suma importância, refletindo não apenas sobre os dias que correm, mas também sobre as eras passadas, desde os tempos em que Jesus caminhou entre os homens. A infidelidade já era um aspecto da experiência humana, ecoando ao longo da história. É um entendimento profundo que aqueles que verdadeiramente amam não se entregam à traição, embora a fragilidade da carne e os apelos do desejo carnal possam, por vezes, seduzir os incautos. Nos dias contemporâneos, a tentação parece ter ganhado novas dimensões, facilitada pela incessante presença da mídia e das redes sociais, que, em sua vastidão, incitam os instintos mais primitivos através de variadas formas de comunicação. Assim, para aqueles que se encontram no sagrado vínculo do matrimônio, ergue-se um desafio ainda mais complexo: a resistência à sedução do adultério. Contudo, cada indivíduo carrega consigo uma consciência própria, que, cedo ou tarde, o levará a ponderar sobre a natureza da traição, antes mesmo de se precipitar no ato. Penso que se Jesus vivesse hoje aqui nessa Terra sua visão não seria aquela que Ele tinha em sua época, vez que os tempos mudaram muito. Às vezes penso que vivemos atualmente noutro planeta ao constatar muitas mudanças se comparado com à época em que Jesus pisou por aqui. Abraço!
ResponderExcluirLuciano,
ExcluirÉ verdade! Os tempos mudaram, as formas de tentação se multiplicaram, e a distração espiritual se tornou uma constante. Ainda assim, há algo que permanece intacto desde os dias de Jesus: a consciência. Quando traímos o que há de mais verdadeiro em nós nossos valores, nossa fé, nossa consciência cometemos pequenas infidelidades espirituais. Não é preciso estar em um relacionamento para trair; basta nos desviarmos do propósito que sabemos ser justo. Talvez seja esse o adultério mais sutil e mais comum: aquele que se dá entre o ser e o parecer, entre o que o coração sente e o que o ego deseja mostrar. E, ainda assim, Jesus nos ensinou que sempre há retorno, sempre há perdão, sempre há caminho de volta para a inteireza.
A consciência é o altar mais íntimo onde cada escolha é avaliada, ainda que em silêncio. Talvez o que tenha mudado não seja tanto o mundo em si, mas a velocidade com que ele tenta nos afastar de nós mesmos. E é nesse ritmo apressado que o amor verdadeiro, aquele que exige presença, fidelidade e entrega, se torna um ato quase revolucionário. Que bom quando podemos parar como agora para refletir sobre isso com tanta profundidade. Abraço com carinho,
🙏🏻