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12 novembro, 2025
Os vícios que nos escolhem
2 comentários:
depois que a letra nasce
não há silêncio
há um choro que só eu ouço
e um medo que ninguém vê
o medo de mostrar demais
de sangrar diante de estranhos
de ser lida com desdém
ou pior: com pressa
porque parir palavras
é também deixar o peito aberto
num mundo que não sabe lidar
com quem sente fundo
a escrita respira fora de mim
e eu, nua, assisto
alguns dizem que é lindo
outros nem leem até o fim
há quem tente vestir meu poema
com a própria assinatura
como se dor fosse transferível
como se parto tivesse atalho
e é aí que mais dói
quando roubam o nome da minha filha
e fingem que nasceu de outra boca
quando arrancam o umbigo do texto
e dizem: “isso é meu”
não é
eu sei cada madrugada que ela levou
cada perda que empurrou esse verso
cada lágrima que virou frase
não quero aplauso
mas exijo respeito
porque minha escrita
anda no mundo com meu rosto
meus olhos, minha história
e quando alguém a toma como se fosse nada
está me dizendo:
“você também é nada”
mas eu sou tudo
o que ninguém teve coragem de escrever
e continuo parindo
mesmo ferida
porque escrever é a única forma
que conheço de sobreviver
(Fernanda)

Oi, Fernanda! Boa tarde! Acredito que a humanidade, em sua essência complexa, encontra certo consolo e até certa harmonia em seus hábitos arraigados, esses vícios que acompanham a existência como companheiros inseparáveis. Não vejo malevolência na presença desses vícios, antes uma peculiar e curiosa saúde psíquica que os revela. A verdadeira dificuldade, ao meu ver, reside na escolha consciente destes empréstimos à alma, pois nem todos são benignos ou edificantes. Alguns vícios, quais sombras quase invisíveis, deslizam silenciosamente pela moldura da consciência, difíceis de serem explorados ou compreendidos; outros, ao contrário, vestem-se com a ostentação de um manto escancarado, revelando sua natureza sem disfarce. De modo geral, estes hábitos entrelaçam-se indissoluvelmente com os dogmas e crenças que cada ser carrega como um antigo relicário, acumulados nas rotinas da vida. A chave, penso, repousa na sábia decisão do vício a que se permitirá aposentar-se. É o que penso. Abraço!
ResponderExcluirLuciano!
ExcluirQue comentário profundo. Obrigada por compartilhá-lo. Concordo contigo: há uma espécie de harmonia paradoxal nos hábitos que nos acompanham, mesmo naquilo que chamamos de vícios. Eles revelam a alma em suas tentativas de compensar, preencher, compreender o próprio vazio.
Achei muito interessante tua leitura de que há “peculiar saúde psíquica” nesses vínculos, porque de fato, muitos deles são formas de sobrevivência mecanismos que, num primeiro momento, nos sustentam, ainda que depois precisem ser superados.
Essa ideia da “escolha consciente dos empréstimos à alma” me tocou profundamente. É mesmo aí que reside o aprendizado: perceber quais hábitos nos fortalecem e quais apenas repetem antigos ruídos internos. Nem tudo que parece conforto é cura, e nem toda disciplina é libertação.
Aposentar um vício, como disseste, é um gesto de amadurecimento quase um ritual de passagem.
E sabe de uma coisa? Este texto não ia postar hoje hahah. Distraidamente publiquei.
Hahaha, típico! 😂 A gente vai só “dar uma olhadinha” no que escreveu, o pão de queijo sai do forno, o cheiro toma conta da casa… e pronto, o texto vai junto, publicado antes da hora! 😛 Mas olha, essas distrações rendem as melhores histórias e quem sabe até um novo texto sobre isso?
Obrigada pela visita 🙏🏻😘
Um abraço com gratidão pela reflexão tão rica,