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12 novembro, 2025
Os vícios que nos escolhem
14 comentários:
depois que a letra nasce
não há silêncio
há um choro que só eu ouço
e um medo que ninguém vê
o medo de mostrar demais
de sangrar diante de estranhos
de ser lida com desdém
ou pior: com pressa
porque parir palavras
é também deixar o peito aberto
num mundo que não sabe lidar
com quem sente fundo
a escrita respira fora de mim
e eu, nua, assisto
alguns dizem que é lindo
outros nem leem até o fim
há quem tente vestir meu poema
com a própria assinatura
como se dor fosse transferível
como se parto tivesse atalho
e é aí que mais dói
quando roubam o nome da minha filha
e fingem que nasceu de outra boca
quando arrancam o umbigo do texto
e dizem: “isso é meu”
não é
eu sei cada madrugada que ela levou
cada perda que empurrou esse verso
cada lágrima que virou frase
não quero aplauso
mas exijo respeito
porque minha escrita
anda no mundo com meu rosto
meus olhos, minha história
e quando alguém a toma como se fosse nada
está me dizendo:
“você também é nada”
mas eu sou tudo
o que ninguém teve coragem de escrever
e continuo parindo
mesmo ferida
porque escrever é a única forma
que conheço de sobreviver
(Fernanda)

Oi, Fernanda! Boa tarde! Acredito que a humanidade, em sua essência complexa, encontra certo consolo e até certa harmonia em seus hábitos arraigados, esses vícios que acompanham a existência como companheiros inseparáveis. Não vejo malevolência na presença desses vícios, antes uma peculiar e curiosa saúde psíquica que os revela. A verdadeira dificuldade, ao meu ver, reside na escolha consciente destes empréstimos à alma, pois nem todos são benignos ou edificantes. Alguns vícios, quais sombras quase invisíveis, deslizam silenciosamente pela moldura da consciência, difíceis de serem explorados ou compreendidos; outros, ao contrário, vestem-se com a ostentação de um manto escancarado, revelando sua natureza sem disfarce. De modo geral, estes hábitos entrelaçam-se indissoluvelmente com os dogmas e crenças que cada ser carrega como um antigo relicário, acumulados nas rotinas da vida. A chave, penso, repousa na sábia decisão do vício a que se permitirá aposentar-se. É o que penso. Abraço!
ResponderExcluirLuciano!
ExcluirQue comentário profundo. Obrigada por compartilhá-lo. Concordo contigo: há uma espécie de harmonia paradoxal nos hábitos que nos acompanham, mesmo naquilo que chamamos de vícios. Eles revelam a alma em suas tentativas de compensar, preencher, compreender o próprio vazio.
Achei muito interessante tua leitura de que há “peculiar saúde psíquica” nesses vínculos, porque de fato, muitos deles são formas de sobrevivência mecanismos que, num primeiro momento, nos sustentam, ainda que depois precisem ser superados.
Essa ideia da “escolha consciente dos empréstimos à alma” me tocou profundamente. É mesmo aí que reside o aprendizado: perceber quais hábitos nos fortalecem e quais apenas repetem antigos ruídos internos. Nem tudo que parece conforto é cura, e nem toda disciplina é libertação.
Aposentar um vício, como disseste, é um gesto de amadurecimento quase um ritual de passagem.
E sabe de uma coisa? Este texto não ia postar hoje hahah. Distraidamente publiquei.
Hahaha, típico! 😂 A gente vai só “dar uma olhadinha” no que escreveu, o pão de queijo sai do forno, o cheiro toma conta da casa… e pronto, o texto vai junto, publicado antes da hora! 😛 Mas olha, essas distrações rendem as melhores histórias e quem sabe até um novo texto sobre isso?
Obrigada pela visita 🙏🏻😘
Um abraço com gratidão pela reflexão tão rica,
Oi Fernanda que linda maneira de pensar e escrever. Uma boa reflexão. Parabéns. Você é uma boa escritora..bjs querida
ResponderExcluirOlá Nal, fico horada com seu elogio.Obrigada!
ExcluirAmei o carinho que deixou no meu cantinho. Bjsss
ResponderExcluir🙏🏻😘
ExcluirBoa noite de Paz, querida amiga Fernanda!
ResponderExcluirHoje fui a um lançamento de livro.
Foi uma noite para alimentar meu maior vício: ler e escrever.
Todos fomos crescendo com alguns vícios.
Quando eles eram maus, fomos corrigidos, para sorte nossa.
Quando eles eram bons, transformaram-se em VIRTUDES.
Repetindo os bons, tornamo-nos virtuosos para sorte nossa.
Vamos nos 'consumindo' pelo prazeroso vício da Leitura e escrita. Faz tão bem.
Tenha dias abençoados!
Beijinhos fraternos
P.S. daqui a pouquinho vou para outro vício/virtude: rezar antes de dormir.
Roselia,
Excluirquerida, que delícia ler você!
Há vícios que são verdadeiros presentes da alma e a leitura, a escrita e a oração certamente estão entre eles. São hábitos que nos afinam por dentro, que nos tornam mais sensíveis, mais atentos, mais vivos.
Que bom que sua noite foi regada a palavras e que outra será embalada pela prece. É assim mesmo que a gente vai se lapidando, repetindo o que faz bem até virar virtude.
Dias abençoados para você também, com esses vícios luminosos que só enriquecem.
Beijinhos fraternos!
😘🙏🏻
Great blog
ResponderExcluir🙏🏻
ExcluirVícios? Esses ruins de bebidas, cigarros, drogas, não tenho. Nem de café.
ResponderExcluirMas devo ter muitos outros. Desses que não incomodam a mim nem os outros.
O que eu tenho são rotinas.
E eu amo rotinas, amo ordens, amo organizações.
Mas não são coisas que incomodem a alguém.
E acho bom quando sou lembrada por isso.
Beijo, Fernanda.
Liliane,
Excluirque graça o seu comentário!
E é tão verdade: há vícios que nem merecem esse nome, porque são apenas jeitos bons de existir. Suas rotinas, sua organização, seu amor pela ordem tudo isso fala de cuidado, de presença, de alguém que sabe construir um ritmo próprio para a vida.
Se não incomoda ninguém e ainda te faz bem, então não é vício: é traço bonito, é identidade. E ser lembrada por isso é mesmo um carinho.
Beijo grande, Liliane!
Olá Fernanda, querida amiga!
ResponderExcluirTodos temos vícios. Como dizes, há vícios bons e a vícios maus.
Tal cotu, também tenho o vício de escrever, mas esse há muito deixou de ser vício para passar a ser paixão. Amo escrever. Tenho que escrever todos os dias, nem que sejam uma ou duas frases ou estrofes que de ocorrem espontaneamente.
Desde a primeira vez que te li, os teus textos me tocam profundamente a alma. Há uma grande convergência com os teus pontos de vista, com a perspectiva que tens do mundo e da vida, com todos os seus vícios bons e maléficos.
Dizes tudo o que é preciso dizer. Tudo o que eu diria. Mas permito-me sublinhar um pequeno excerto do teu belissimo texto:
"O vício de perdoar, de caminhar descalço, de olhar o céu sem pressa.
O vício de falar com Deus ao amanhecer."
Não são vícios... são bençãos Fernanda!
Que elas nunca nos abandonem!...
Ando atarefado na organização da edicão do meu novo livro... e como já previa, o tempo é sempre escasso.
Tudo de bom para ti querida amiga.
Deixo um grande abraço, com carinho!
Albino,
Excluirque comentário generoso!
É tão bom ler alguém que transforma o “vício” de escrever em paixão e que reconhece nessa entrega diária não um hábito qualquer, mas um modo de respirar. Consigo até imaginar suas frases surgindo espontaneamente, como quem abre a janela e deixa o vento entrar.
Fico profundamente tocada por saber que meus textos encontram tom em você. Essa convergência de visão, de sensibilidade, é rara… e preciosa.
E sim: aquilo que chamei de “vícios” perdoar, caminhar devagar, olhar o céu, conversar com Deus você nomeou ainda melhor: são bênçãos. Que possamos cultivá-las como quem cuida de uma luz que nunca deve se apagar.
Boa sorte com a preparação do seu livro, que certamente virá cheio dessa alma que você derrama no que escreve.
Um abraço grande, com carinho! 🤗