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Eu amo escrever. Escrevo porque às vezes não cabe tudo aqui dentro. Porque há sentimentos que só se organizam quando viram palavras, e pensamentos que só fazem sentido quando dançam na página. Amo também olhar o céu e talvez isso diga tudo. Há quem olhe o céu para prever o tempo, eu olho para prever a mim mesma. Há algo em observar as nuvens, as estrelas ou o silêncio azul que me faz lembrar que existe poesia mesmo nos dias comuns. Este blog nasce desse encontro: entre a escrita e o céu. Vai ser um espaço para dividir pensamentos, contar histórias, guardar pedaços de mim e talvez, de você também, que me lê agora. Obrigada por estar aqui. Que você se sinta à vontade. Que cada texto seja como uma janela aberta, onde o vento entra leve e, quem sabe, traz um pouco de luz também

✿Amor sempre....

✿Amor sempre....
Caminho entre flores. O chão continuará pra nós com outras paisagens. Sou o que sou, porque é tudo que sei ser. E todo meu olhar escrito que você nunca aprendeu a ler, permanecerá no descaso para quem não compreende.

09 dezembro, 2025

A história do pijama de bolinhas

Aleatoriamente um toque de poesia


Eu nunca tinha usado pijamas.
Pode parecer detalhe pequeno, quase irrelevante, mas para quem nunca teve um lugar fixo para voltar, pijama é luxo. É promessa de noite. É certeza de amanhã.

Quando fui morar com meus pais, eu não sabia exatamente como se parecia uma vida normal. Eu sabia sobreviver. "Dormir "acordada. Aprender rápido demais. Mas descansar… isso eu ainda não conhecia.

No dia em que saí do Rio de Janeiro para Brasília-DF, algo dentro de mim também se deslocou. Eu deixava de ser a menina de rua suja de graxa,  aquela que se movia de um banco para outro, sempre pronta para ir embora, para tentar aprender a ser filha. E fui ser. Filha de um pai, de uma mãe e irmã de um menino pequeno que ainda não sabia o quanto ele me salvava só por existir.

Naquele mesmo dia logo a tardinha, entramos em uma loja. Uma loja comum. Mas para mim era um mundo inteiro. Vi os pijamas pendurados, alinhados, esperando alguém que tivesse noites. Fiquei quietinha. Eu já tinha aprendido que desejar podia doer.

Minha mãe disse que eu podia escolher dois pijamas. Dois. Tremi por dentro. Entre eles, havia um de bolinhas. Era alegre, redondo, quase infantil demais para quem cresceu antes da hora. Eu amei. Daquele amor que não pede. Mas ele era mais caro. Escolhi os mais simples. O de bolinhas ficou só no coração, esse lugar onde a gente guarda o que acha que não merece.

O tempo passou. A vida me ensinou muitas outras formas de falta, mas também de encontro. Até o dia em que conheci Felipe. E o amor, quando é verdadeiro, escuta o que a gente nunca disse em voz alta.

Sem que eu contasse minha história, sobre amar pijamas, sem saber da loja, do silêncio, ou do pijama  abandonado na arara,😍 ele me deu de presente um pijama. Quando desembrulhei, senti o chão mudar de lugar: era de bolinhas!!!

Ah… eu fiquei tão, tão feliz.
Não era sobre o pijama. Era sobre alguém ter ido, sem saber, buscar uma parte esquecida da minha infância. Felipe era o meu anjo amor mesmo.
Daí eu lhe contei minha preferência por pijamas de bolinhas.

Depois que nos casamos, vieram muitos outros pijamas de bolinhas com uma margarida junto. Como se ele dissesse, todos os dias: agora você pode descansar. Agora você fica. Agora você é casa. E vinha com um eu te amo!

Hoje, quando visto minhas bolinhas antes de dormir, eu me lembro da menina que saiu do Rio de Janeiro sem saber o que era ter noite tranquila. E penso, com um nó no peito em Lipe e na paz no coração: algumas histórias não terminam. Elas se reconciliam.

E eu durmo com gratidão por tudo que fui e sou.
Obrigada meu Pai do alto.

Fernanda

Um comentário:

  1. Boa noite de Paz, querida amiga Fernanda!
    Já estou deitada, com meu pijaminha. Só a blusa é de bolinhas.
    Na verdade, seu post não é sobre pijamas...

    "O amor, quando é verdadeiro, escuta o que a gente nunca disse em voz alta."
    Sim... se é verdadeiro.
    Lendo você eu me reporto à minha própria história...

    "Agora você pode descansar. Agora você fica. Agora você é casa."

    Ouvir coisa similar é para amar para sempre...
    Alguém que seja casa para nosso coração é sublime.
    Eu também sai do RJ.
    Procurei colo, mas a vida se encarregou de tirar o que tinha.
    Independente, afradeco ao 'Pai do Alto.'
    Ele nunca nos abandona. Merece toda nossa gratidão.
    Bom soninho, como já ouvi muito do meu amado, quando a vida não tinha me arrancado ele das minhas noites e dos meua pijamas com ou sem bolinhas.
    Beijinhos fraternos

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depois que a letra nasce
não há silêncio
há um choro que só eu ouço
e um medo que ninguém vê
o medo de mostrar demais
de sangrar diante de estranhos
de ser lida com desdém
ou pior: com pressa
porque parir palavras
é também deixar o peito aberto
num mundo que não sabe lidar
com quem sente fundo
a escrita respira fora de mim
e eu, nua, assisto
alguns dizem que é lindo
outros nem leem até o fim
há quem tente vestir meu poema
com a própria assinatura
como se dor fosse transferível
como se parto tivesse atalho
e é aí que mais dói
quando roubam o nome da minha filha
e fingem que nasceu de outra boca
quando arrancam o umbigo do texto
e dizem: “isso é meu”
não é
eu sei cada madrugada que ela levou
cada perda que empurrou esse verso
cada lágrima que virou frase
não quero aplauso
mas exijo respeito
porque minha escrita
anda no mundo com meu rosto
meus olhos, minha história
e quando alguém a toma como se fosse nada
está me dizendo:
“você também é nada”
mas eu sou tudo
o que ninguém teve coragem de escrever
e continuo parindo
mesmo ferida
porque escrever é a única forma
que conheço de sobreviver
(Fernanda)