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Eu amo escrever. Escrevo porque às vezes não cabe tudo aqui dentro. Porque há sentimentos que só se organizam quando viram palavras, e pensamentos que só fazem sentido quando dançam na página. Amo também olhar o céu e talvez isso diga tudo. Há quem olhe o céu para prever o tempo, eu olho para prever a mim mesma. Há algo em observar as nuvens, as estrelas ou o silêncio azul que me faz lembrar que existe poesia mesmo nos dias comuns. Este blog nasce desse encontro: entre a escrita e o céu. Vai ser um espaço para dividir pensamentos, contar histórias, guardar pedaços de mim e talvez, de você também, que me lê agora. Obrigada por estar aqui. Que você se sinta à vontade. Que cada texto seja como uma janela aberta, onde o vento entra leve e, quem sabe, traz um pouco de luz também

✿Amor sempre....

✿Amor sempre....
Caminho entre flores. O chão continuará pra nós com outras paisagens. Sou o que sou, porque é tudo que sei ser. E todo meu olhar escrito que você nunca aprendeu a ler, permanecerá no descaso para quem não compreende.

08 dezembro, 2025

Engarrafamento e pijamas

Aleatoriamente um toque de poesia
Diário


Tentando chegar em casa, o trânsito está caótico e eu exausta. Muitas vezes sinto que o cansaço não chega de repente ele fica à espreita, paciente, esperando um descuido da alma. E eu refletindo, parada no engarrafamento, com o corpo cansado e a cabeça cheia.

Tenho estado tão ocupada nesses últimos dias. Tantos atendimentos na clínica, idas aos prontos atendimentos dos bairros, histórias que a gente acolhe e leva junto mesmo sem querer. Cuida de um, escuta outro, sustenta dores que não são só nossas. No fim do dia, o silêncio pesa.

Sinto falta de escrever poemas. Falta mesmo!Talvez a poesia tire um pouco do cansaço diário, talvez ela seja esse descanso que não cabe em horas de sono. Escrever também cura ainda que ninguém chame de atendimento.

Por hora, só penso numa chuveirada quente e no meu pijama de bolinha. Pijamas não são só pijamas, são um estado de espírito. Quando visto um, estou dizendo ao mundo que sobrevivi ao dia. O de bolinhas me espera como um abraço mudo, sem perguntas, sem exigências. Ele entende.

Enquanto o trânsito não anda, observo. Um motoqueiro atravessa entre os carros como um louco, numa negligência sem medida. Parece até que a vida, para alguns, é brincadeira como se houvesse sempre outra chance, outro recomeçar automático.

Penso em escrever ali mesmo, no meio do barulho mas o cansaço pede pausa. Talvez a poesia não precise de tempo livre, só de honestidade. Até o trânsito vira crônica quando a gente não desiste de sentir.

Chegar em casa é ritual: jogar a bolsa num canto, tirar o sapato sem culpa, prender o cabelo de qualquer jeito, beijar os meninos, a família. Então a chuveirada, a água levando embora o excesso do dia. E finalmente o pijama. Uniforme da rendição digna.

Talvez eu não esteja escrevendo poemas, mas continuo vivendo poesia. No cansaço, no trânsito, no cuidado com o outro, no simples desejo de descansar. Até o pijama vira personagem principal.

E ali, cansada e inteira, percebo: escrever às vezes é só isso não ir dormir sem antes se reconhecer viva.

E fico ali, já de pijama, sentada na beira da cama, como quem estaciona o corpo depois de um longo percurso. O silêncio da casa não é vazio, é respeitoso. Ele me olha e diz: agora pode descansar.

Penso que talvez eu não tenha parado de escrever só mudei o lugar. Tenho escrito nas pessoas que escuto, nos corredores apressados, nos bairros distantes, nas pausas entre um atendimento e outro. Tenho escrito no cansaço acumulado e nessa vontade quase infantil de sumir dentro de um pijama confortável.

O pijama de bolinha testemunha tudo. Ele sabe das minhas hesitações, das frases que não anotei, dos poemas que ficaram só pensados. Ele não exige produtividade, só presença.

E enquanto a noite avança, percebo que a poesia não me abandonou. Ela apenas aprendeu a esperar. Espera eu desligar o mundo, tirar as camadas do dia, baixar a guarda. Espera eu lembrar que também sou alguém que merece colo.

Amanhã talvez eu volte a escrever versos. Ou talvez não. Mas hoje escrevi sobrevivendo e isso também é literatura.

Apago a luz com uma sensação suave de pertencimento. Não ao dia que passou, mas a mim mesma. E isso, penso antes de dormir, já é muito.
Obrigada papai do alto🥰



Fernanda

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depois que a letra nasce
não há silêncio
há um choro que só eu ouço
e um medo que ninguém vê
o medo de mostrar demais
de sangrar diante de estranhos
de ser lida com desdém
ou pior: com pressa
porque parir palavras
é também deixar o peito aberto
num mundo que não sabe lidar
com quem sente fundo
a escrita respira fora de mim
e eu, nua, assisto
alguns dizem que é lindo
outros nem leem até o fim
há quem tente vestir meu poema
com a própria assinatura
como se dor fosse transferível
como se parto tivesse atalho
e é aí que mais dói
quando roubam o nome da minha filha
e fingem que nasceu de outra boca
quando arrancam o umbigo do texto
e dizem: “isso é meu”
não é
eu sei cada madrugada que ela levou
cada perda que empurrou esse verso
cada lágrima que virou frase
não quero aplauso
mas exijo respeito
porque minha escrita
anda no mundo com meu rosto
meus olhos, minha história
e quando alguém a toma como se fosse nada
está me dizendo:
“você também é nada”
mas eu sou tudo
o que ninguém teve coragem de escrever
e continuo parindo
mesmo ferida
porque escrever é a única forma
que conheço de sobreviver
(Fernanda)