Poema
Com delicadeza,
ele tocou o dia que amanhecia dentro dela.
Não usou força, nem urgência
apenas o silêncio macio
de quem conhece a alma por dentro.
O amor, então,
foi se abrindo como cor em tela molhada.
Um gesto, um sopro,
um quase nada que vira tudo.
E ela percebeu
que havia um pincel que não se podia ver
desenhando caminhos no seu peito,
misturando lágrimas e esperanças,
criando tons que nunca imaginou sentir.
Porque amar é isso:
um artista anônimo,
pintando delicadezas
na parte do coração que a gente esqueceu de ver.
Fernanda

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depois que a letra nasce
não há silêncio
há um choro que só eu ouço
e um medo que ninguém vê
o medo de mostrar demais
de sangrar diante de estranhos
de ser lida com desdém
ou pior: com pressa
porque parir palavras
é também deixar o peito aberto
num mundo que não sabe lidar
com quem sente fundo
a escrita respira fora de mim
e eu, nua, assisto
alguns dizem que é lindo
outros nem leem até o fim
há quem tente vestir meu poema
com a própria assinatura
como se dor fosse transferível
como se parto tivesse atalho
e é aí que mais dói
quando roubam o nome da minha filha
e fingem que nasceu de outra boca
quando arrancam o umbigo do texto
e dizem: “isso é meu”
não é
eu sei cada madrugada que ela levou
cada perda que empurrou esse verso
cada lágrima que virou frase
não quero aplauso
mas exijo respeito
porque minha escrita
anda no mundo com meu rosto
meus olhos, minha história
e quando alguém a toma como se fosse nada
está me dizendo:
“você também é nada”
mas eu sou tudo
o que ninguém teve coragem de escrever
e continuo parindo
mesmo ferida
porque escrever é a única forma
que conheço de sobreviver
(Fernanda)