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Eu amo escrever. Escrevo porque às vezes não cabe tudo aqui dentro. Porque há sentimentos que só se organizam quando viram palavras, e pensamentos que só fazem sentido quando dançam na página. Amo também olhar o céu e talvez isso diga tudo. Há quem olhe o céu para prever o tempo, eu olho para prever a mim mesma. Há algo em observar as nuvens, as estrelas ou o silêncio azul que me faz lembrar que existe poesia mesmo nos dias comuns. Este blog nasce desse encontro: entre a escrita e o céu. Vai ser um espaço para dividir pensamentos, contar histórias, guardar pedaços de mim e talvez, de você também, que me lê agora. Obrigada por estar aqui. Que você se sinta à vontade. Que cada texto seja como uma janela aberta, onde o vento entra leve e, quem sabe, traz um pouco de luz também

✿Amor sempre....

✿Amor sempre....
Caminho entre flores. O chão continuará pra nós com outras paisagens. Sou o que sou, porque é tudo que sei ser. E todo meu olhar escrito que você nunca aprendeu a ler, permanecerá no descaso para quem não compreende.

16 dezembro, 2025

Um colo que nos encontra

Aleatoriamente um toque de poesia
Crônica 



Estes tempos eu estava sem tempo para escrever.
Não por falta de vontade, mas por excesso de trabalho, ainda está assim.
Mas quando consigo então é como um extravasar e eu amo.

O cotidiano muitas vezes chega em ondas altas, e eu, muitas vezes, apenas aprendo a respirar entre um plantão e outro. Há rascunhos espalhados pelo blog na edição, textos começados e interrompidos, ideias ainda quentes esperando um colo. Mas, eu queria escrever algo vivo, pulsante, algo da hora mas a hora nunca sobrava.

Foram dias de muitos atendimentos dentro e fora da clínica. Escutas profundas, histórias que se agarravam à gente mesmo depois que a porta se fechava. Há cansaços que não moram no corpo, mas na alma. E quando a alma cansa, o silêncio se torna a única língua possível.

Eu estava exausta.
Mas connseguindo conciliar um pouco agora.

Num desses dias, entre um compromisso e outro, fui ao refeitório. Queria apenas um café forte, desses que tentam acordar o que já está além do despertador. Sentei-me por um instante. Só um. E o corpo, traindo qualquer disciplina, desligou. Adormeci ali mesmo, vencida pelo cansaço.

E foi nesse espaço mínimo entre o sono e o esgotamento que o céu me visitou.

Sonhei com Nossa Senhora. Não uma imagem distante ou solene, mas a mesma que, quando eu era pequena, afirmava com convicção infantil e fé absoluta: ela é a minha mãe. No sonho, ela vinha até mim com passos leves, como quem não quer assustar quem já sofreu demais. Seu olhar tinha aquela calma que não pergunta nada, apenas acolhe.

Ela acariciava meu rosto.
Beijava-me com ternura.
Chamava-me de filha.

Não havia palavras longas, nem sermões, nem explicações. Só presença. Só aquele amor que não cobra, não exige, não pesa. Um amor que sustenta. E ela me abençoava não como quem faz um gesto, um  ritual, mas como quem cobre alguém com um manto de cuidado.

Acordei devagar, como quem retorna de um lugar sagrado. E antes mesmo de organizar os pensamentos, percebi o ar diferente. Um cheiro. Um perfume suave e inconfundível de rosas. Tão bonito, tão real, que por um instante pensei que ainda estivesse sonhando.

Mas não estava.

Olhei ao redor. Outras pessoas também perceberam. Não fui só eu quem sentiu. O Céu , quando quer, se faz testemunho. E naquele refeitório comum, sem altar nem velas, algo extraordinário havia acontecido.

Naquele momento entendi que nem sempre o descanso vem em forma de sono longo, férias ou pausas planejadas. Às vezes, ele vem como visita. Vem como lembrança antiga. Vem como mãe que chega quando a filha já não consegue pedir ajuda.

Escrever pode esperar.
O mundo pode aguardar alguns minutos.
Mas a alma, quando chama, precisa ser atendida.

Naquele dia, aprendi que mesmo exausta, mesmo sem tempo, eu não estava só. Fui cuidada. Fui lembrada de quem sou. E voltei diferente mais inteira, mais serena, mais filha.

E talvez seja isso a fé:
um colo que nos encontra exatamente quando a gente adormece de cansaço.
Então com a ajuda da mãezinha, surgiu este texto.



Fernanda

4 comentários:

  1. Bom.dia de Paz, querida amiga Fernanda!
    Salve Maria!
    A ùnica Mãe que Deus me deixou aqui na Terra para me dar colo, carinho foi Nossa Senhora, Maria Santíssima... nossa Mãezinha para quem crê.
    Sim, é ela que nos cuida e protege.
    É ela que nos dá novo motivo de viver, com a permissão do seu Filho, somos cuidadas como filhas.
    É ela que nos banha no cansaço, como se fôssemos uma bebê.
    Temos tido dias cheios e de coisas boas que também dispendem energia...
    Näo fosse nossa Mâe do céu, estaríamos à mercê dos vendavais e cansaços diários.
    Amiga, descanse nos Braços da nossa Mãe toda vez que estiver exausta.
    Temos uma doce Mãe que nos põe em seu útero toda vez que precisamos.
    Tenha dias abençoados e descansados em dezembri!
    Beijinhos fraternos

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  2. Maravilhoso colo que te aconchegou no sonho!
    É incrível e tu, na certa nunca mais o esquecerá!
    Tens razão, quando a alma precisa falar ela sabe mandar recados... Adorei!
    Lindo dia!
    beijos, chica

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  3. Imagino seu cansaço.
    Na minha época de plantões eu não lembro de grandes cansaços porque nós dividíamos os horários.
    Mas lembro de boas noites de sonos, pós plantões.
    Sou uma mulher que não sonha.
    Nem dormindo nem acordada.
    Beijo,

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  4. Emocionante! Tão maravilhosamente acontecido!
    Foi muito mais que um sonho Nanda, foi uma porta que se abriu, para que alguém entrasse para colocar tudo em seu lugar.
    Foi sem dúvida, um momento divino, nessa pausa que precisavas. Mas nada acontece por acaso. Alguém fez acontecer para abençoar o teu cansaço, até que sorridente e feliz viste abrir a porta de saída!...
    Tudo o que é grande... acontece tão naturalmente!

    Um beijo carinhoso Fernanda.

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depois que a letra nasce
não há silêncio
há um choro que só eu ouço
e um medo que ninguém vê
o medo de mostrar demais
de sangrar diante de estranhos
de ser lida com desdém
ou pior: com pressa
porque parir palavras
é também deixar o peito aberto
num mundo que não sabe lidar
com quem sente fundo
a escrita respira fora de mim
e eu, nua, assisto
alguns dizem que é lindo
outros nem leem até o fim
há quem tente vestir meu poema
com a própria assinatura
como se dor fosse transferível
como se parto tivesse atalho
e é aí que mais dói
quando roubam o nome da minha filha
e fingem que nasceu de outra boca
quando arrancam o umbigo do texto
e dizem: “isso é meu”
não é
eu sei cada madrugada que ela levou
cada perda que empurrou esse verso
cada lágrima que virou frase
não quero aplauso
mas exijo respeito
porque minha escrita
anda no mundo com meu rosto
meus olhos, minha história
e quando alguém a toma como se fosse nada
está me dizendo:
“você também é nada”
mas eu sou tudo
o que ninguém teve coragem de escrever
e continuo parindo
mesmo ferida
porque escrever é a única forma
que conheço de sobreviver
(Fernanda)