Eu nunca esperei facilidades. Aliás, eu sempre vivi os solavancos com um sorriso na face. No entanto lá pros lados da Rua General Urquiza - Leblon... eu também caminhei criança.
E via ir e vir do teatro do Leblon, pessoas que via em comerciais de TV ou em algumas revistas da banca de seu Macedo. E era na Rua João Lira que havia seu Neco, o Sr. que me dava jornais usados para forrar a minha cama nos bancos, mas é claro que isso ele nem de longe imaginava.
Nunca julguei minha trajetória como um esforço árduo, isso não. Eu achava a alegria no raiar do sol e na chuva quando chegava, aqueles tempos eram realmente bons tirando lá apenas algumas coisinhas.
Mas hoje sinto-me nocauteada.Nunca liguei para nada material, acho até que é por isso que elas vieram sem que eu pensasse nelas. Mas para o sentimento eu sempre me encantei. No entanto olho aquele rostinho pálido e amado, sinto uma dilaceração, e meu coração sente que está perdendo algo tão valioso que jamais vai ser recolocado. Para que possa reconstruir ali outra vez.
Me sinto literalmente arrastada num chão de pedras, olho o tempo lá fora como se estivesse hipnotizada.
Se há alguns gestos, quem faz são as lágrimas ao cair de meus olhos buscando abrigo onde não presto atenção agora. Tudo tão igual às nuvens dançado no céu, os pássaros voejando e cantando a felicidade deles num plainar de asas, as flores exalando seu perfume delicioso e enfeitando a vida de pessoas com gestos nobres. Numas a alegria de um pedido de namoro, noivado ou casamento, noutras fazendo bonita a despedida.
Não dor, você não tem o direito de me pôr face a face com este momento.
Eu não vou doer inteira porque eu tenho fé e acredito que o momento pode ser de flores sim, mas de flores num mimo à vida. Porque uma missão é algo forte e tem a benção divina.
Sabe? Eu nem percebi que a noite correu tão veloz, nem me dei conta de quanto olhei para esse céu e me banhei inteira nele por dentro e por fora. Sou muito compreensiva, mas sabe? Eu não tenho certeza se posso compreender isso.
A felicidade segurou na minha mão aos 14 anos e me chamou para caminhar junto com ela, eu tirei a graxa do rosto, e limpei a poeira das roupas surradas, olhei a vida de um jeito diferente, assustada com o que não conhecia, mas feliz porque iria conhecer. Tudo muito novo, cama limpa, uma janela para olhar a vida num quadrado transparente onde haviam luzes piscando de todas as cores na minha direção de menina-com-família.
Eu achei a vida parecendo as pétalas das flores que eu aprendi amar desde pequenina. E ela ia se mostrando bela, cheia de risos, vozes carinhosas e pijama limpinho. Eu amei segurar na mão daquela sra. Felicidade e lhe dizer obrigada por vir.
Mas o impulso maior havia saído antes quando num grito abafado pelas mãos limpinhas disse: Hei Deus, você me fez ganhar asas hein? Eu me sinto voejando mesmo depois de ter saído daquele treco de aço (avião) tão grande.
O tempo atingiu seu ápice quando Felipe chegou.
Meu coração parecia um carro de formula 1, acelerou de um jeito que meus pensamentos ficaram em off por alguns segundos. Pensei: O que é isto?
E não demorou muito para saber que isto era um amor colossal, um amor monogâmico. Comigo tudo é tão demorado eternamente.
Esta noite eu senti sua presença. Sim, senti que ele me abraçou enquanto eu estava imóvel, não questionei aquele momento, nem queria fazê-lo. Quis muito esse momento e estava tendo agora. É difícil acreditar no que o pensamento pode fazer? Ele pode tudo se você tiver entregue a isso de toda sua alma.
Chorei por tantas coisas, de emoção, de saudade, de tristeza, de dor, de solidão, de desamparo. Aquele momento era meu e de minhas fraturas expostas. Era a minha maneira de reagir diante de tantos solavancos. E senti que ele me segurava com todo aquele amor que ele conseguiu guardar. Agora estou só com meus olhos fechados e refletindo no que houve aqui. Não era sono, nem, imaginação fértil. Acreditem ou não eu sei de mim. Sinto ainda aquele abraço. Os olhos fechados facilitaram essa viagem cósmica entre o nosso amor.
De uma coisa sei que estou bem certa agora, tudo irá ficar bem.
Tudo irá se resolver com a felicidade segurando na minha mão e essa felicidade é um anjo que Deus deu para mim.
Entro no quarto trêmula e digo: Meu anjo!
Seus lindos olhos se abrem e fitam os meus, e um ar de riso quis sair daqueles lábios, e me deu novas esperanças, toda esta confusão terá um fim, e a vida um ponto seguido.
Antes que eu possa dizer qualquer coisa, eu preciso dizer para meu coração: obrigada por acreditar, por ser forte e me dar a força que eu procurava cá fora.
Vou até a cantina e peço uma garrafa com água, olho demoradamente, ergo para os Céus e faço uma pequena prece. Lembrei que a água é fonte de vida e que há um milagre nela. Inclino minha mão e abro deixando um pouco do milagre deslizar sobre aquelas mãozinhas com a fé mais profunda e a certeza mais confiante que jamais pensei ter.
Pronto Deus, eu acredito em milagre, porque ele jamais viria sem que você fosse o provedor. Você pode todas as coisas, e além de um brilhante arquiteto é um eterno médico para os seus doentes. Cura aflição, desamor, tristeza, raivas, ilumina os caminhos e faz brilhar as estrelas, faz chover bênçãos sobre a terra e deixa o homem escolher seu caminho, mesmo que esse caminho não o leve a Ti. O que queres é que saibamos amar o Ser grandioso que és, e o nosso irmão. Vês? Tu que sabes tudo, de quem nada fica oculto, conheces meu coração como nem eu mesma consigo conhecer. Põe na tua balança eterna o meu pedido. Hoje peço por meu anjo. Paulo na (1 Epístola aos Coríntios 15:37) fala de semear, do poder Divino, que somos herdeiros desse poder, que devemos cooperar com lições e valores. Minhas esperanças estarão sempre em Ti.
- Mamãe!
Sua voz sai tão baixinha...
Olá meu amor
- Eu te amo
Como descrever esse momento é muito difícil porque o meu corpo tremia, minhas forças se renovavam e minha fé explodia, eu estava ali e não estava. Tudo parecia harmonizador, uma suave fragrância de flores invadiu aquela ala, e até houve a pergunta se eu não havia abusado de algum perfume floral. Não há explicação para aquilo e eu até agora estou em êxtase.
Ajoelhei-me ali naquele chão como se ele estivesse coberto por aquelas flores que teimavam em exalar o ambiente. Não sei dizer por quanto tempo fiquei segurando aquelas mãozinhas e agradecendo por ela ter acordado.
Tudo ainda é uma incógnita para quem assistia extasiado aquela cena de amor, mas para mim tenho a certeza que a batalha não está perdida. Veio o socorro do alto e eu já não quero pensar em mais nada, apenas agradecer e fazer a minha parte.
Com o meu amor por Ti mais reforçado eu digo
Senhor da vida, muito obrigada
por ter vindo em meu socorro.
Texto e imagem: M. Fernanda