Quando a solidão apertava demais, eu escrevia histórias. Dizia pra mim mesma: "Menina, sua mãe está em algum lugar distante, sem poder sair. E seu pai é um marinheiro e vai mandar lhe buscar num navio azul. Às vezes, eu me dizia que fui deixada por engano no orfanato que iam perceber logo, logo, e voltar correndo. Outras vezes, me dizia que eu era filha de estrelas e que, por descuido, caí na Terra.
Essas histórias não eram mentiras. Eram cordas que me seguravam do lado de cá da esperança. Quando o vazio ameaçava me engolir, eu puxava uma dessas fábulas do bolso e me aninhava nelas. Elas me aqueciam. Ouvia que eu era “criativa”. Mas o que eu era, na verdade, era carente de um enredo que me fizesse sentido. Precisava de um motivo, de uma explicação que não doesse tanto quanto a realidade mais era muito menina pra entender.
E assim fui
crescendo, entre histórias e silêncios que engoli. Cada uma delas me salvou um
pouco. Cada uma me ensinou que, mesmo sem passado, eu podia criar futuro. Bastava
seguir contando até que a dor virasse poesia e virou.
Olá, querida amiga Fernanda!
ResponderExcluirEstou impressionada com sua história de vida.
Acho que Deus me pôs em seu caminho de novo (depois de 2018) para eu reler minha própria história.
Tem pontos significativos aqui em seu post:
"Menina, sua mãe está em algum num lugar distante, sem poder sair. "
Sim, no céu haverei de encontrá-la.
Tive uma mãe que me criou e numa certa ocasião, pude fazer uma regressão para saber como foi eu nascimento. Deus m e falou exatamente que quem me pegou nas mãos após parto foi Ele.
Tive um sossego enorme depois da experiencia e tenho o meu Deus com um amor matricial imenso.
"O que eu era, na verdade, era carente de um enredo que me fizesse sentido. "
Pois bem, quer ida, a literatura me permite cria enredos significativos e amorosos.
Quando um deles não me sai bem, passo a limpo.
Atualmente estou revisando dois enredos.
Dando um azul lindo neles para poder sobreviver com brio e de cabeça erguida.
Não é fácil ser abandonada várias vezes, mas é possível sobreviver bem e de sorriso nos lábios, sinceros.
Minha dor também virou poesia desde pequenina, só que descobri o dom só na maturidade.
Com lágrimas nos olhos me despeço, vou aos meus escritos em prosa e verso que são minha cura.
Tenha um final de dia abençoado!
Beijinhos fraternais de paz
Querida Roselia, suas palavras me tocam com a força de quem também conhece o silêncio que dói, mas escolheu fazer dele canção. Que lindo é saber que, mesmo entre feridas, Deus te pegou pelas mãos e seguiu contigo com esse amor que consola e dá coragem para reescrever os enredos da vida com tons de azul.
ExcluirSim, somos feitas de memórias, mas também da beleza que conseguimos construir com elas. Que a literatura continue sendo para nós esse refúgio e essa ponte, onde a dor vira cura e a poesia encontra casa.
Com carinho imenso,
Fernanda
Nanda, só imagino o quanto de saudades e tantas perguntas gostarias de ter feito à tua mãe! Ainda bem, por teu merecimento, tiveste amos de uma linda família e agora tens a tua, grande e linda onde todos convivem! beijos, chica
ResponderExcluirChica querida, você sempre tão sensível… Sim, há saudades que nunca se desfazem, e perguntas que vivem no silêncio do tempo. Mas é verdade: tive amor, e ainda tenho em muitas formas e presenças. Sua amizade também faz parte dessa teia bonita que sustenta. Obrigada por estar sempre por perto com suas palavras doces.
ExcluirUm beijo cheio de carinho,
Nanda
Estou aqui, Fernando, batucando no teclado para encontrar as palavras que transfigurem o sentimento ou a emoção da leitura dessa breve história. Como é bom saber que você teve força e criatividade mental para superar as adversidades e quanto você, de algum modo, ensina com o seu exemplo. Apesar de tudo, você se reporta aos fatos com “engenho e arte” que a solidão, angústia, a dor são transfiguradas de tal modo que não sinto amargura no modo que você ou narra. E mais não digo por que não se faz necessário. O silêncio também tem um alfabeto.
ResponderExcluirUm abraço,
Eros, suas palavras tocam com suavidade e profundidade, como quem conhece os silêncios por dentro. Fico comovida por saber que, na leitura, você sentiu não a amargura, mas a transfiguração que é talvez o dom mais raro da escrita: transformar a dor em algo que se possa tocar sem medo. Obrigada por esse olhar generoso, por esse silêncio que também fala.
ExcluirCom carinho,
Fernanda
Nossas histórias de vida em muito contribuem para nos moldar. A falta de pai e mãe, as suas perguntas por eles, suas histórias inventadas para aplacar a dor, por fim, acabaram por te fazer mãe de um "batalhão" rs. Será que foi planejado ou a vida foi acontecendo?
ResponderExcluirEduardo, você captou com sensibilidade o fio invisível que costura tudo: a ausência que virou pergunta, a dor que virou invenção… e, no fim, essa maternidade tão ampla que a vida me confiou. Nada foi exatamente planejado acho que fui sendo escolhida pelas circunstâncias, pelas pessoas, pelos afetos.
ResponderExcluirTalvez, no fundo, era meu coração que já sonhava esse “batalhão”, mesmo sem saber. E a vida, generosa e imprevisível, foi abrindo caminho.
Ainda há o abrigo de crianças e dos idosos😉
Obrigada por suas palavras sempre tão verdadeiras.
Com carinho,
Fernanda