Aguarde os próximos capítulos...

Eu amo escrever. Escrevo porque às vezes não cabe tudo aqui dentro. Porque há sentimentos que só se organizam quando viram palavras, e pensamentos que só fazem sentido quando dançam na página. Amo também olhar o céu e talvez isso diga tudo. Há quem olhe o céu para prever o tempo, eu olho para prever a mim mesma. Há algo em observar as nuvens, as estrelas ou o silêncio azul que me faz lembrar que existe poesia mesmo nos dias comuns. Este blog nasce desse encontro: entre a escrita e o céu. Vai ser um espaço para dividir pensamentos, contar histórias, guardar pedaços de mim e talvez, de você também, que me lê agora. Obrigada por estar aqui. Que você se sinta à vontade. Que cada texto seja como uma janela aberta, onde o vento entra leve e, quem sabe, traz um pouco de luz também

Amor sempre....

Amor sempre....
Caminho entre flores. O chão continuará pra nós com outras paisagens. Sou o que sou, porque é tudo que sei ser. E todo meu olhar escrito que você nunca aprendeu a ler, permanecerá no descaso para quem não compreende.

09 maio, 2025

As histórias que me fizeram sobreviver

Aleatoriamente um toque de poesia

Quando a solidão apertava demais, eu escrevia histórias. Dizia pra mim mesma: "Menina, sua mãe está em algum  lugar distante, sem poder sair. E seu  pai é um  marinheiro e vai mandar lhe  buscar num navio azul. Às vezes, eu me dizia que fui deixada por engano  no orfanato que iam perceber logo, logo, e voltar correndo. Outras vezes, me dizia  que eu era filha de estrelas e que, por descuido, caí na Terra.

Essas histórias não eram mentiras. Eram cordas que me seguravam do lado de cá da esperança. Quando o vazio ameaçava me engolir, eu puxava uma dessas fábulas do bolso e me aninhava nelas. Elas me aqueciam. Ouvia que eu era “criativa”. Mas o que eu era, na verdade, era carente de um enredo que me fizesse sentido. Precisava de um motivo, de uma explicação que não doesse tanto quanto a realidade mais era muito menina pra entender.

E assim fui crescendo, entre histórias e silêncios que engoli. Cada uma delas me salvou um pouco. Cada uma me ensinou que, mesmo sem passado, eu podia criar futuro. Bastava seguir contando até que a dor virasse poesia e virou.


8 comentários:

  1. Olá, querida amiga Fernanda!
    Estou impressionada com sua história de vida.
    Acho que Deus me pôs em seu caminho de novo (depois de 2018) para eu reler minha própria história.
    Tem pontos significativos aqui em seu post:
    "Menina, sua mãe está em algum num lugar distante, sem poder sair. "
    Sim, no céu haverei de encontrá-la.
    Tive uma mãe que me criou e numa certa ocasião, pude fazer uma regressão para saber como foi eu nascimento. Deus m e falou exatamente que quem me pegou nas mãos após parto foi Ele.
    Tive um sossego enorme depois da experiencia e tenho o meu Deus com um amor matricial imenso.
    "O que eu era, na verdade, era carente de um enredo que me fizesse sentido. "
    Pois bem, quer ida, a literatura me permite cria enredos significativos e amorosos.
    Quando um deles não me sai bem, passo a limpo.
    Atualmente estou revisando dois enredos.
    Dando um azul lindo neles para poder sobreviver com brio e de cabeça erguida.
    Não é fácil ser abandonada várias vezes, mas é possível sobreviver bem e de sorriso nos lábios, sinceros.
    Minha dor também virou poesia desde pequenina, só que descobri o dom só na maturidade.
    Com lágrimas nos olhos me despeço, vou aos meus escritos em prosa e verso que são minha cura.
    Tenha um final de dia abençoado!
    Beijinhos fraternais de paz



    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Querida Roselia, suas palavras me tocam com a força de quem também conhece o silêncio que dói, mas escolheu fazer dele canção. Que lindo é saber que, mesmo entre feridas, Deus te pegou pelas mãos e seguiu contigo com esse amor que consola e dá coragem para reescrever os enredos da vida com tons de azul.
      Sim, somos feitas de memórias, mas também da beleza que conseguimos construir com elas. Que a literatura continue sendo para nós esse refúgio e essa ponte, onde a dor vira cura e a poesia encontra casa.

      Com carinho imenso,
      Fernanda

      Excluir
  2. Nanda, só imagino o quanto de saudades e tantas perguntas gostarias de ter feito à tua mãe! Ainda bem, por teu merecimento, tiveste amos de uma linda família e agora tens a tua, grande e linda onde todos convivem! beijos, chica

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Chica querida, você sempre tão sensível… Sim, há saudades que nunca se desfazem, e perguntas que vivem no silêncio do tempo. Mas é verdade: tive amor, e ainda tenho em muitas formas e presenças. Sua amizade também faz parte dessa teia bonita que sustenta. Obrigada por estar sempre por perto com suas palavras doces.

      Um beijo cheio de carinho,
      Nanda

      Excluir
  3. Estou aqui, Fernando, batucando no teclado para encontrar as palavras que transfigurem o sentimento ou a emoção da leitura dessa breve história. Como é bom saber que você teve força e criatividade mental para superar as adversidades e quanto você, de algum modo, ensina com o seu exemplo. Apesar de tudo, você se reporta aos fatos com “engenho e arte” que a solidão, angústia, a dor são transfiguradas de tal modo que não sinto amargura no modo que você ou narra. E mais não digo por que não se faz necessário. O silêncio também tem um alfabeto.
    Um abraço,

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Eros, suas palavras tocam com suavidade e profundidade, como quem conhece os silêncios por dentro. Fico comovida por saber que, na leitura, você sentiu não a amargura, mas a transfiguração que é talvez o dom mais raro da escrita: transformar a dor em algo que se possa tocar sem medo. Obrigada por esse olhar generoso, por esse silêncio que também fala.

      Com carinho,
      Fernanda

      Excluir
  4. Nossas histórias de vida em muito contribuem para nos moldar. A falta de pai e mãe, as suas perguntas por eles, suas histórias inventadas para aplacar a dor, por fim, acabaram por te fazer mãe de um "batalhão" rs. Será que foi planejado ou a vida foi acontecendo?

    ResponderExcluir
  5. Eduardo, você captou com sensibilidade o fio invisível que costura tudo: a ausência que virou pergunta, a dor que virou invenção… e, no fim, essa maternidade tão ampla que a vida me confiou. Nada foi exatamente planejado acho que fui sendo escolhida pelas circunstâncias, pelas pessoas, pelos afetos.
    Talvez, no fundo, era meu coração que já sonhava esse “batalhão”, mesmo sem saber. E a vida, generosa e imprevisível, foi abrindo caminho.
    Ainda há o abrigo de crianças e dos idosos😉
    Obrigada por suas palavras sempre tão verdadeiras.

    Com carinho,
    Fernanda

    ResponderExcluir

depois que a letra nasce
não há silêncio
há um choro que só eu ouço
e um medo que ninguém vê
o medo de mostrar demais
de sangrar diante de estranhos
de ser lida com desdém
ou pior: com pressa
porque parir palavras
é também deixar o peito aberto
num mundo que não sabe lidar
com quem sente fundo
a escrita respira fora de mim
e eu, nua, assisto
alguns dizem que é lindo
outros nem leem até o fim
há quem tente vestir meu poema
com a própria assinatura
como se dor fosse transferível
como se parto tivesse atalho
e é aí que mais dói
quando roubam o nome da minha filha
e fingem que nasceu de outra boca
quando arrancam o umbigo do texto
e dizem: “isso é meu”
não é
eu sei cada madrugada que ela levou
cada perda que empurrou esse verso
cada lágrima que virou frase
não quero aplauso
mas exijo respeito
porque minha escrita
anda no mundo com meu rosto
meus olhos, minha história
e quando alguém a toma como se fosse nada
está me dizendo:
“você também é nada”
mas eu sou tudo
o que ninguém teve coragem de escrever
e continuo parindo
mesmo ferida
porque escrever é a única forma
que conheço de sobreviver
(Fernanda)