Hoje, uma
amiga me perguntou: Fê, me responde com sinceridade… qual é a religião certa
para ti? Olhei para ela com carinho. E, por dentro, um silêncio bonito se fez.
Respirei fundo, como quem ouve uma Voz antiga, que mora lá dentro, aonde
nenhuma doutrina chega. E respondi, sem pensar muito, porque o coração foi mais
rápido que a razão: Para mim, a religião certa é amar. É isso. Amar. Não
conheço verdade mais simples nem mais exigente.
Já vi gente
com os joelhos marcados pela reza, mas com o coração fechado para o outro. Já
vi quem soubesse de cor os livros sagrados, mas não enxergasse a dor de quem
dormia no mesmo quarto. E também vi o contrário: pessoas sem religião, mas com
um amor tão verdadeiro que iluminava tudo ao redor.
Amar é a
única prática que não precisa de templo, porque faz do próprio corpo um altar. É
a única oração que se reza com os braços estendidos, com o prato dividido, com
o perdão oferecido mesmo quando dói.
Talvez, no
fim das contas, a gente não seja salvo por pertencer a essa ou àquela religião.
Talvez sejamos salvos cada vez que escolhemos amar, quando seria mais fácil
virar as costas. Amar quando há espinho. Amar quando há silêncio. Amar, mesmo
sem retorno.
Se um dia me
perguntarem no Céu qual era a minha religião, quero poder dizer com serenidade:
Senhor, tentei amar. Escolhi amar.
Porque vi de perto o que o desamor faz. Vi a fé ser pretexto para julgar e vi
Deus sendo usado como ameaça. Mesmo pequena, mesmo falha. Mas amei.
Amar é a
oração mais profunda que conheço. E se Deus habita mesmo em algum lugar, e sei que habita em todos os lugares. Deve
ser naquele instante em que alguém escolhe amar em vez de revidar. Amar em vez
de condenar. Amar, simplesmente amar.
Escolhi amar,
essa é minha fé. Essa é minha estrada. Porque amar me devolve à essência e me
aproxima do Céu, mesmo com os pés na terra.
Olá, querida amiga Fernanda!
ResponderExcluirSou católica coo deve saber, mas o amor é minha prioridade também.
Também já vi gente como as que relata aqui...
Faço de tudo para não ser uma delas pois iria ferir o Coração Divino que é o que não quero.
Já feri, já fui ferida, agora, quero ficar ao lado de Deus Amor pois só assim conseguirei perdoar aos que me feriram.
O mais é com o próximo.
Viver o céu cá na Terra é possível, independente de teorias e de adversidades.
Gosto das pessoas sinceras, creio, piamente, que Deus também. O que não quer dizer que sejamos sem ética.
Tenha os dias abençoados e cheios de Amor!
Beijinhos fraternos de paz
Querida Roselia, que palavras doces e tão profundamente verdadeiras!
ExcluirÉ bonito ver sua fé expressa com tanto amor e simplicidade. Sim, o que fere o Coração Divino não é a dúvida, nem as quedas, mas a falta de amor e de verdade. Todos já ferimos e já fomos feridos, como você disse tão bem… mas há uma beleza sagrada no recomeço, no desejo sincero de caminhar ao lado do Amor.
E eu também creio nisso: viver o céu aqui na Terra é possível não por ausência de dor, mas pela escolha diária de perdoar, de acolher, de ser presença. Deus habita o coração sincero, aquele que se oferece inteiro, mesmo ferido.
Obrigada por compartilhar sua luz comigo.
Que o Amor siga sendo teu norte e também tua morada.
Com carinho e paz,
Fernanda
Você respondeu bem. É mais ou menos isso que Tiago diz em sua epístola. Toda religião, de forma geral, busca comunhão com Deus (ou com os Deuses) e uma relação sadia com o próximo. O problema é que a religião foi criada pelo homem, bichinho difícil de entender...capaz de gestos de bondade e de gestos de violência e desamor.
ResponderExcluirNão sou um "religioso", mas me considero quase um "místico" no sentido em que a existência de tudo me faz contemplar o absurdo que é haver alguma coisa ao invés do nada. Conheço bem a teologia cristã, já que há muito tempo, cursei um seminário protestante. Mas como você bem diz, não é "doutrina certa" que é mais importante, e sim, suas atitudes.
Porque ainda que a fé esmoreça, sempre temos nossas ações para mostrar nossa fé, como também escreveu Tiago.
Eduardo, suas palavras ampliam com muita sensibilidade o que eu também acredito: mais do que um rótulo religioso, é a coerência entre fé e atitude que revela o que verdadeiramente cremos.
ExcluirTiago realmente nos chama à prática, à vivência concreta ao cuidado com o outro como expressão do divino em nós.
E você descreve isso com beleza, especialmente quando fala desse “espírito místico”, que contempla o mistério da existência com humildade.
A religião pode ser um caminho, mas quando ela se distancia do amor e da compaixão, perde sua essência.
Obrigada por essa partilha tão lúcida e humana.
Fernanda
Gosto das suas confissões, gosto do modo que você as diz ou as faz. Suas palavras, o modo de encadeá-las passam ao leitor uma confiança. Esse é caminho que se aprende em todas as religiões ou é o ensinado, não sabemos se é o aprendido. Mas suas palavras ecoam fortemente no leitor, mexem com os seus brios ou suas convicções. Claro, eu sei que não é a sua intenção. Não escreve para convencer o leitor das suas convicções; às vezes, as escrevemos para que tenhamos a certeza de que é o caninho que desejamos fazer. Ou o fazemos segundo as nossas convicções...
ResponderExcluirGosto da sua estética, da sua liberdade para dizer a si mesmo o que você deseja ouvir e ecoar no outro.
Um abraço, Fernanda!
Prezado Eros,
ExcluirAgradeço, com sincera consideração, suas palavras tão generosas e reflexivas.
É raro encontrar quem leia não apenas o conteúdo exposto, mas também o que se insinua nas entrelinhas e o senhor o fez com grande sensibilidade.
De fato, não escrevo para convencer, mas para compreender. Há momentos em que preciso nomear o que sinto, organizar o que me inquieta, e as palavras tornam-se um espelho onde busco reconhecer o caminho que desejo trilhar.
Se, nesse processo íntimo, minhas reflexões alcançam o outro e o tocam de alguma forma, recebo isso como um presente, não como um mérito.
Sua leitura atenta e seu retorno delicado me confirmam que a escrita, mesmo quando nasce de um gesto solitário, tem o poder de construir sintonias silenciosas.
Receba minha gratidão e o respeito de sempre.
Atenciosamente,
Fernanda