Às vezes me
perguntam como sou. E eu penso que não caibo numa resposta só. Porque sou feita
de muitas Fernandas, costuradas pelas escolhas que fiz, pelas dores que
atravessei e pelo amor que insisto em carregar.
Sou a mulher
que aprendeu cedo demais o que era solidão. Mas que não deixou a solidão
endurecê-la. Sou aquela que correu pelas ruas com o coração miúdo, mas os olhos
atentos como quem já sabia que Deus habitava os cantos mais improváveis. Sou
filha da esperança e mãe da coragem. Sou alma velha em corpo ainda jovem,
porque vivi mais do que parece.
Fernanda é
quem fala com o Senhor do Alto como quem conversa com um amigo de infância. Quem
chora escondido e sorri por fora, mas que aprendeu, com o tempo, a unir os dois
sorrisos o de dentro e o de fora. Sou abrigo para oito filhos, mas também sou
abrigo de mim mesma. Sou mulher de fé, mas não de fé cega: de fé vivida, suada,
rasgada às vezes, mas sempre renascida.
Gosto do
cheiro de sabão na cozinha, do vento na varanda, do barulho das crianças
correndo pelos cômodos. Guardo no peito um baú com as bondades que recebi, e é
de lá que tiro forças quando o mundo pesa. Sou feita de perguntas e silêncios. De
palavras e memórias. De cicatrizes que viraram asas.
Fernanda é
quem escreve porque precisa se escutar. É quem ama mesmo quando tem medo. É
quem segue mesmo quando não vê o caminho porque confia na luz que vem de dentro.
O nome que me deram, o nome que me tornei Meu nome não foi sussurrado por uma mãe. Não foi escolhido com alegria ou anotado no canto de um caderninho bordado. Meu nome veio seco, oficial, dado por alguém que provavelmente nem me olhou nos olhos. Era o que me diziam. Durante muito tempo, ele soava estranho. Como uma roupa emprestada, folgada demais. Eu o repetia em silêncio, tentando me acostumar com o som. “Fernanda.”
Não havia uma história por trás, nem ninguém que o dissesse com carinho. Mas, ainda assim, era meu. Meu ponto de partida. Meu rastro no mundo.Com o tempo, fui preenchendo esse nome com quem eu era. A menina que fugiu. Que aprendeu observando. Que sobreviveu. A que cuidava dos outros sem saber o que era ser cuidada. A que escrevia escondido, como quem colhe estrelas em papel.
Fui me tornando Fernanda e, aos poucos, esse nome se tornou casa. Hoje, entendo que um nome não é só dado. Ele é vivido. É a história que você escreve por dentro até que ele se encaixe. E, mesmo sem saber quem o escolheu, agradeço. Porque nele, eu me reconheço.
Olá, querida amiga Fernanda!
ResponderExcluirVou começar daqui:
"Quem ama mesmo quando tem medo. "
Assim sou eu...
Fui lendo e me identificando com alguns pontos mais intensamente.
Como você, não deixei a solidão me endurecer ainda.
Sou alma jovem em corpo não tão novo.
Minhas cicatrizes me levam a lugares longínquos no tempo e no coração.
A fé me mantém viva.
O meu verdadeiro nome me foi dado pelo meu primeiro filho: Orvalho do céu. É nele que tenho que me fixar antes de ser trovoada a mim e aos demais.
Você é viajante corajosa... siga assim.
Faça sempre valer os ignificado do seu nome, como eu.
Tenha um anoitecer abençoado!
Beijinhos fraternos de paz
Querida Roselia,
ExcluirQuanta beleza há nas tuas palavras e quanta verdade suave, como orvalho mesmo.
Fico tocada em saber que você ama, mesmo com medo… isso, pra mim, é a mais pura forma de coragem.
Suas cicatrizes contam histórias que, mesmo de longe, posso sentir pulsarem em cada linha. São feridas que viraram sabedoria, como tantas de nós carregamos.
Teu nome, dado pelo teu filho, é uma poesia inteira. Orvalho do céu… que presente! Que chamado!
E que força há em escolher ser brisa mesmo quando a alma ameaça virar trovoada.
Recebo teu carinho como bênção, e retribuo com o mesmo afeto.
Seguimos, então cada uma com seu nome, sua fé, sua luz atravessando a vida com coragem mansa e coração disponível.
Um abraço de alma,
Fernanda
Muito sensível e belo o texto. Achei o blog ótimo. Estarei acompanhando.
ResponderExcluirObrigada Dell , fique a vontade.
ExcluirBem-vindo!
Entre as muitas fernandas, há uma só, mas são muitas, e quanto é bom que haja muitas fernandas em uma. Mas esse autorretrato nos dá a conhecer as muitas e sabermos que podemos contar com todas sempre que o navio aportar ou deixar o cais.
ResponderExcluirUm abraço, Fernanda!
Eros, suas palavras são como brisa boa num fim de tarde tocam com leveza e dizem tanto.
ResponderExcluirSim, entre as muitas Fernandas, há uma só inteira, mas feita de fragmentos.
E que alegria é ser reconhecida assim: múltipla, mas leal às suas margens.
Que bom saber que, a cada porto, há quem enxergue a embarcação por dentro e respeite o mar que a move.
Obrigada por me ler com essa generosidade que acolhe todas as versões de mim.
Um abraço cheio de gratidão,
Fernanda