Cheguei tão alegre no trabalho e uma de minhas amigas já estava cinza. Não era a cor da roupa, era a cor da alma. Os olhos baixos, o sorriso apagado, o corpo ali, mas a presença distante.
Naquele instante, percebi como muitas vezes a gente se acostuma a andar cinza por dentro, esperando que algo ou alguém venha nos devolver o colorido. Mas as cores não caem do céu: elas precisam nascer de dentro de nós.
Olhei para ela e pensei em quantas vezes nos deixamos acinzentar! Silenciamos, esperando que a vida nos cure. Até descobrir que: a cura não chega se não a convido. É quando decido me acolher, quando me permito rir de novo, quando respiro fundo e escolho não me abandonar, que tudo flui.
Há feridas que ninguém vê, mas que sangram por dentro. Há dores que não se explicam, apenas se sentem. E, diante delas, quase sempre esperamos que alguém venha nos salvar, nos resgatar, nos devolver ao que acreditamos ter perdido.
Mas a verdade é que a cura raramente vem de fora. Ela nasce dentro, no instante em que você decide se acolher. Quando escolhe se ouvir, se perdoar, se respeitar. Quando entende que não precisa mais fugir de si, mas aprender a caminhar ao lado das próprias sombras.
Não tenha medo de ser sua própria cura. Isso não significa carregar tudo sozinho, mas assumir a parte que é sua: o gesto de se levantar, a coragem de recomeçar, o cuidado de se tratar com amor.
Você é seu próprio remédio quando descobre que pode se reinventar, quando troca a rigidez pela ternura, a cobrança pela paciência, o medo pela confiança.
A cura não é mágica nem instantânea.
É um processo. Mas começa quando você decide:
“não vou me abandonar”.
E a partir daí, a vida se abre.
Fernanda
A maior cura começa quando você escolhe permanecer ao seu próprio lado.😜
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depois que a letra nasce
não há silêncio
há um choro que só eu ouço
e um medo que ninguém vê
o medo de mostrar demais
de sangrar diante de estranhos
de ser lida com desdém
ou pior: com pressa
porque parir palavras
é também deixar o peito aberto
num mundo que não sabe lidar
com quem sente fundo
a escrita respira fora de mim
e eu, nua, assisto
alguns dizem que é lindo
outros nem leem até o fim
há quem tente vestir meu poema
com a própria assinatura
como se dor fosse transferível
como se parto tivesse atalho
e é aí que mais dói
quando roubam o nome da minha filha
e fingem que nasceu de outra boca
quando arrancam o umbigo do texto
e dizem: “isso é meu”
não é
eu sei cada madrugada que ela levou
cada perda que empurrou esse verso
cada lágrima que virou frase
não quero aplauso
mas exijo respeito
porque minha escrita
anda no mundo com meu rosto
meus olhos, minha história
e quando alguém a toma como se fosse nada
está me dizendo:
“você também é nada”
mas eu sou tudo
o que ninguém teve coragem de escrever
e continuo parindo
mesmo ferida
porque escrever é a única forma
que conheço de sobreviver
(Fernanda)