Hoje acordei com uma vontade súbita de falar sobre bolsas. Mas o dia foi só correria então, deixei pra escrever a noite.
Bolsas? Sim, bolsas. Porque, se tem um objeto que denuncia quem somos sem precisar abrir a boca, é ela. E como eu mesma vivo tropeçando na minha e no que mora dentro dela achei justo trazer esse assunto pra mesa. Então, vamos falar de bolsa?
Toda mulher carrega uma bolsa que, de tão misteriosa, merecia constar no catálogo das sete maravilhas contemporâneas. Não porque seja bonita embora muitas sejam mas porque ali dentro vive um pequeno universo portátil, um cosmos dobrado, amassado, esquecido, urgente, e às vezes até vencido.
Se um dia alguém me pedisse para definir a alma feminina, eu não usaria metáforas grandiosas. Eu apontaria para a bolsa. Aquela companheira silenciosa, sempre estufada de mais vida do que o mundo imagina.
Porque ali, entre o batom e o boleto, mora a mulher inteira.
Na minha, por exemplo, tem sempre um hidratante. Porque mulher desidratada não pensa, não ama, não filosofa 😊e eu tenho a pretensão de fazer as três coisas. Tem também um caderninho, meio torto, onde escrevo pensamentos que surgem no cafezinho, na fila do banco ou no meio de alguma dor inesperada. Nele, há frases começadas e nunca terminadas, como muitas das minhas conversas comigo mesma.
E sempre há um elástico de cabelo, mesmo quando estou de cabelo solto, talvez um lembrete de que tudo pode ser reorganizado, amarrado, domado, ainda que apenas por alguns minutos.
Carrego uma coleção involuntária de recibos do mercado, que insistem em sobreviver mais do que meus planos financeiros. Tem um remédio para dor de cabeça haha porque ser mulher em 2025 exige preparo para as pressões externas e internas. Tem também uma caneta que nunca funciona, mas que me recuso a jogar fora porque, em algum nível, acredito que um dia ela se redima.
E não posso esquecer a chave da casa, que se esconde no fundo como se tivesse medo de assumir responsabilidade. A chave é a mais rebelde; sempre desaparece quando estou com pressa, mas aparece num instante quando estou tranquila. Parece até gente.
Mas o que pesa mesmo não é o objeto é o que ele significa.
Cada mulher leva na bolsa aquilo que não pode deixar cair no mundo: sua pressa, sua falta de tempo, seu desespero contido, sua ternura, seus cuidados, seu improviso.
Carrega também memórias: de uma maternidade iminente ou negada, de um amor que tentou e outro que desistiu, de uma amiga que disse “tá tudo bem?” e não estava, de um perfume que lembra alguém que não volta mais.
A bolsa é o lugar onde a gente coloca aquilo que ninguém vê, mas que sustenta a gente enquanto atravessamos a vida.
E por isso eu digo: desconfie da leveza de uma bolsa. Se ela pesa pouco, é porque a mulher está carregando tudo dentro de si.
A bolsa é só o arquivo externo.
Nós somos o HD.
E seguimos haha 😛 elegantes, atrasadas, caóticas, fortes, equilibrando o mundo inteiro dentro de um zíper. E você? Me diga, o que carrega na sua?
Será, que os meninos, irão falar sobre as bolsas de suas princesas? Quem sabe? 🤗
Nossa minha bolsa rsrs tem tantas coisas, e sim tem sentimentos, dores, segredos tudo dentro de uma bolsa. Rsrs
ResponderExcluirQue lindo texto, tão sensível, profundo, amei. Parabéns!
Olá, Fernanda, ainda não consigo entender por que as mulheres levam tantas coisas nas suas bolsas.
ResponderExcluirEm casa, às vezes a Taís me pede para apanhar alguma coisa que está na sua bolsa, eu digo a ela que não farei isso, porque tenho medo de encontrar coisas
que possam morder ou ter veneno, então pego a bolsa fechada e levo no local onde ela está, para que abra a sua bolsa.
A bolsa da Taís está 3 vezes mais pesada do que a pasta que carrego.
Gostei muito dessa sua crônica!
Grande abraço, amiga Fernanda, um bom final de semana.