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Eu amo escrever. Escrevo porque às vezes não cabe tudo aqui dentro. Porque há sentimentos que só se organizam quando viram palavras, e pensamentos que só fazem sentido quando dançam na página. Amo também olhar o céu e talvez isso diga tudo. Há quem olhe o céu para prever o tempo, eu olho para prever a mim mesma. Há algo em observar as nuvens, as estrelas ou o silêncio azul que me faz lembrar que existe poesia mesmo nos dias comuns. Este blog nasce desse encontro: entre a escrita e o céu. Vai ser um espaço para dividir pensamentos, contar histórias, guardar pedaços de mim e talvez, de você também, que me lê agora. Obrigada por estar aqui. Que você se sinta à vontade. Que cada texto seja como uma janela aberta, onde o vento entra leve e, quem sabe, traz um pouco de luz também

✿Amor sempre....

✿Amor sempre....
Caminho entre flores. O chão continuará pra nós com outras paisagens. Sou o que sou, porque é tudo que sei ser. E todo meu olhar escrito que você nunca aprendeu a ler, permanecerá no descaso para quem não compreende.

04 dezembro, 2025

A poesia quentinha de Pedro

Aleatoriamente um toque de poesia
Diário



Ontem,
encontrei um bilhetinho de amor.
De quem? De Pedro.
Meu filhote de nove anos, que ainda mistura as letras do caderno com migalhas de biscoito e o cheiro de recreio. O bilhetinho estava escondido entre os gibis, como tudo o que é precioso nesta casa sempre acaba ficando haha.😅

Depois da escola, sentei o pequeno ao meu lado, como quem convoca uma reunião extraordinária do coração e perguntei.
Vida, a mamãe achou isso aqui no meio dos seus livros.

Ele olhou o papel amassadinho, respirou fundo e, com a naturalidade de um sábio centenário, soltou: Mamãe, eu tinha perdido isso! Ia dar pra Flavinha hoje. A poesia tá quentinha… fiz ontem à noite.

Quentinha.
A poesia.
E eu ali, segurando o riso, o susto e um certo orgulho que cresceu sem pedir licença.

Vida, você quer me explicar essa história direito?

Ele ajeitou o tênis, ergueu o queixo e disse, como quem anuncia um decreto irrevogável:
Sim, mamãe. É que já tá muito certo que quando a gente crescer vamos casar.
Pausa dramática.
Eu sei que a senhora ficou assustada, né?

Assustada não era bem a palavra.
Eu diria… surpreendida, tentando não rir nem chorar de ternura.

Mas Pedro não perdeu o embalo:
É a lei da natureza do homem, mamãe. Quando tiver condições, ele tem sua companheira… igual a senhora e o papai. E aí vivem felizes.

André, do outro lado da sala, quase explodiu numa gargalhada.
Eu só precisei lançar um olhar daqueles que já vêm prontos no kit maternidade:
“Não estraga o momento do menino.”
E ele entendeu.

Ficamos ali, nós três: eu, contendo risos; André, engolindo o deboche amoroso; e Pedro, com sua convicção de gente grande e seu bilhetinho de amor quentinho.

E no meio de tanta poesia inesperada, eu pensei:
O amor, quando começa cedo, sempre sabe o caminho.
Ainda que passe por uma folha de caderno, uma Flavinha de olhos brilhantes e a certeza absoluta de um menino de nove anos que acredita na lei da natureza, aquela que só o coração das crianças conhece bem.

E então, depois de todo o discurso dele sobre destino, casamento e as leis secretas da existência, Pedro respirou fundo, como quem finaliza uma tese, e completou:

 Mamãe, eu só não dei hoje porque perdi o bilhete. Mas amanhã eu dou. Não posso deixar a poesia esfriar.

Ah, meu Deus.
Eu quis abraçar o mundo inteiro naquele instante.

E o que tem nessa poesia, Vida? perguntei, tentando não soar curiosa demais.

Ele deu de ombros, com a serenidade de quem escreve versos há décadas:

Mamãe a senhora não leu?
Bom, eu corri os olhos nela mas…
Tudo certo mamãe é só um poema sobre o sorriso dela. Porque às vezes ele é tão bonito que parece que o sol saiu só um pedacinho, só pra ela.

Olhei pra André.
André olhou pra mim.
Nós dois nos derretemos oficialmente.

E então veio o golpe final do meu pequeno poeta:

A senhora não acha bonito um homem gostar de alguém e dizer?

Pronto.
Eu, que já estava com a maternidade em brasa no peito, virei pura manteiga derretida.

 Acho bonito, sim respondi. Muito bonito, filho.

Ele então guardou o bilhete dentro de um livro como quem protege um tesouro.

Amanhã eu dou pra ela. E se ela não gostar, tudo bem. A poesia ainda fica comigo. Porque o que a gente sente, mamãe, ninguém tira, né?

Respirei fundo, tentando guardar aquele instante num potinho.

 É isso mesmo, Vida.
O que a gente sente… ninguém tira.

E enquanto ele saía da sala, todo importante, André finalmente riu. Riu solto, riu feliz, riu como quem reconhece que o amor tem dessas coisas começa cedo, é ingênuo, é corajoso e é lindo.

Ficamos em silêncio por alguns segundos, ouvindo Pedro no quarto ensaiar sua mochila para o grande dia.

Amor, disse André, estas crianças parecem ter saído de você! Eles tem seu jeitinho especial.

Sorri.

E  pensei:
Quem sabe um bilhetinho amassado seja mesmo o primeiro ensaio do coração?

Quem sabe o amor não começa assim, num verso quentinho escrito antes de dormir?

E quem sabe… amanhã… a Flavinha abra o papel, sorria, e o sol saia  um pedacinho só pra ela.

Quando Pedro terminou seus ensaios e foi brincar, fiquei ali pensando nesse enredo que começou tão cedo e tão naturalmente entre ele e Flavinha.

A verdade é que eles são amiguinhos desde os dois anos, daqueles que cresceram dividindo brinquedos, birras, aniversários com bolo de chocolate e todas as manias que só a infância entende. Estudam juntos desde sempre, e as famílias… as famílias também se encontraram pelo caminho.

Os pais dela são nossos grandes amigos, daqueles que a gente confia sem precisar pensar, que chegam pra somar. Crescemos todos juntos nesse pacto silencioso de cuidado e convivência, onde as crianças florescem livres, mas com raízes firmes.

E é por isso que levamos tudo com a seriedade que uma criança precisa sem exageros, sem romantizações adultas, sem projetar futuros que não nos pertencem.
Cuidamos com prudência, como quem segura um passarinho na palma da mão: com leveza, mas com responsabilidade.

Porque o carinho que nasce entre duas crianças é coisa pura, leve, quase sagrada.
É só amizade que cresce… e às vezes vira poesia quentinha escrita à noite.
É só ternura que ainda não sabe seu nome, mas já sabe seu caminho.

E ali, entre bilhetes perdidos, gargalhadas sufocadas de André e minha tentativa de manter o coração no peito, eu entendi: o amor que eles carregam não precisa ser explicado, moldado, ou direcionado.
Só observado, acolhido e protegido.

E, do jeito certo o jeito deles tudo segue bonito e tranquilo, como deve ser na infância.

Afinal… há sentimentos que precisam apenas de espaço para respirar.
E nós, adultos, ficamos guardando a porta aberta, vigiando com carinho e prudência, enquanto eles descobrem o mundo um bilhetinho amassado de cada vez.

E aqui em casa, guardamos varios fututuros poetas😍 



Fernanda

Um comentário:

  1. Oi, Fernanda! Bom dia! Que lindeza, não? Que seus filhos possam carregar o amor e a poesia que herdaram dos pais durante toda vida. É muito bonito quando há numa família essa harmonia amorosa e esse cuidado desde cedo. Abraço!

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depois que a letra nasce
não há silêncio
há um choro que só eu ouço
e um medo que ninguém vê
o medo de mostrar demais
de sangrar diante de estranhos
de ser lida com desdém
ou pior: com pressa
porque parir palavras
é também deixar o peito aberto
num mundo que não sabe lidar
com quem sente fundo
a escrita respira fora de mim
e eu, nua, assisto
alguns dizem que é lindo
outros nem leem até o fim
há quem tente vestir meu poema
com a própria assinatura
como se dor fosse transferível
como se parto tivesse atalho
e é aí que mais dói
quando roubam o nome da minha filha
e fingem que nasceu de outra boca
quando arrancam o umbigo do texto
e dizem: “isso é meu”
não é
eu sei cada madrugada que ela levou
cada perda que empurrou esse verso
cada lágrima que virou frase
não quero aplauso
mas exijo respeito
porque minha escrita
anda no mundo com meu rosto
meus olhos, minha história
e quando alguém a toma como se fosse nada
está me dizendo:
“você também é nada”
mas eu sou tudo
o que ninguém teve coragem de escrever
e continuo parindo
mesmo ferida
porque escrever é a única forma
que conheço de sobreviver
(Fernanda)