Hoje eu queria bater um papo com cada um de vocês, amigos de blogs, essa vizinhança carinhosa em que a gente visita o quintal do outro, cheira a prosa nova, passa a mão na cerca e deixa um comentário como quem oferece bolo fresquinho.
Pois bem: vim aqui fazer meu mea-culpa público.
Sim, sou eu mesma, a blogueira que às vezes some por alguns dias de comentar alguns. E reaparece de madrugada e comenta como se tivesse acabado de pular o muro com uma caneca de café.
Não é falta de presença, juro. É excesso de vida.
Porque enquanto o texto de vocês nasce impecável, iluminado, cheiroso de estreia, eu estou muitas vezes no meio do plantão, tentando lembrar se já almocei ou se aquilo foi só um sonho. E aí penso: “preciso ler fulano, preciso comentar beltrano, preciso prestigiar cicrano…” e o café que era pequeno vira extensão da alma, tentando dar conta do relógio.
Vou em alguns e outros vou indo devagar mas vou.
Eu queria ir em todos vocês em poucos minutos: essa intensidade me define. Mas sou uma boa leitora daquelas que gostam de sentir o ritmo, mastigar a frase, rir no trecho certo, deixar o coração balançar. Comentário apressado não combina comigo.
Então, a você que me escreveu perguntando pela minha ausência no seu cantinho, deixo este abraço de crônica: mil perdões. Não é desatenção, nem sumiço proposital. É só a vida me puxando pelos braços, me dividindo entre plantões, e-mail, panela no fogo, chamada de vídeo da mãe que está viajando, tempo para a vó, papel de esposa, de filha, e mais um “amor, você viu minhas chaves?” Soando pela casa.
Mas eu chego.
Com carinho, sempre chego.
Talvez não na hora em que o texto nasce mas chego como quem bate à porta com respeito e vontade de ficar. Porque visitar vocês é descanso, é refúgio, é parte da minha alegria.
Então me dê a mão um instante só: respira comigo.
Eu vou aí, tá bom?
Às vezes correndo, às vezes atrasada… mas sempre inteira.
Beijinhos
Fernanda

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depois que a letra nasce
não há silêncio
há um choro que só eu ouço
e um medo que ninguém vê
o medo de mostrar demais
de sangrar diante de estranhos
de ser lida com desdém
ou pior: com pressa
porque parir palavras
é também deixar o peito aberto
num mundo que não sabe lidar
com quem sente fundo
a escrita respira fora de mim
e eu, nua, assisto
alguns dizem que é lindo
outros nem leem até o fim
há quem tente vestir meu poema
com a própria assinatura
como se dor fosse transferível
como se parto tivesse atalho
e é aí que mais dói
quando roubam o nome da minha filha
e fingem que nasceu de outra boca
quando arrancam o umbigo do texto
e dizem: “isso é meu”
não é
eu sei cada madrugada que ela levou
cada perda que empurrou esse verso
cada lágrima que virou frase
não quero aplauso
mas exijo respeito
porque minha escrita
anda no mundo com meu rosto
meus olhos, minha história
e quando alguém a toma como se fosse nada
está me dizendo:
“você também é nada”
mas eu sou tudo
o que ninguém teve coragem de escrever
e continuo parindo
mesmo ferida
porque escrever é a única forma
que conheço de sobreviver
(Fernanda)