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14 maio, 2025
O tempo é a gente
6 comentários:
depois que a letra nasce
não há silêncio
há um choro que só eu ouço
e um medo que ninguém vê
o medo de mostrar demais
de sangrar diante de estranhos
de ser lida com desdém
ou pior: com pressa
porque parir palavras
é também deixar o peito aberto
num mundo que não sabe lidar
com quem sente fundo
a escrita respira fora de mim
e eu, nua, assisto
alguns dizem que é lindo
outros nem leem até o fim
há quem tente vestir meu poema
com a própria assinatura
como se dor fosse transferível
como se parto tivesse atalho
e é aí que mais dói
quando roubam o nome da minha filha
e fingem que nasceu de outra boca
quando arrancam o umbigo do texto
e dizem: “isso é meu”
não é
eu sei cada madrugada que ela levou
cada perda que empurrou esse verso
cada lágrima que virou frase
não quero aplauso
mas exijo respeito
porque minha escrita
anda no mundo com meu rosto
meus olhos, minha história
e quando alguém a toma como se fosse nada
está me dizendo:
“você também é nada”
mas eu sou tudo
o que ninguém teve coragem de escrever
e continuo parindo
mesmo ferida
porque escrever é a única forma
que conheço de sobreviver
(Fernanda)
Olá!
ResponderExcluirVocê mudou o foco do tempo e fez com que uma entidade que nos domina com seu fluxo imparável, agora fosse prisioneiro das nossas ações e assim, ao invés do dominar, ser dominado.
Não é "deixar a vida me levar", é, "para onde agora eu vou direcionar a vida"?
Mas o tempo é um deus severo, não gosta de ser aprisionado...
Olá, Eduardo!
ResponderExcluirRisos…
Seu olhar ampliou ainda mais aquilo que apenas começava a se insinuar nas entrelinhas do meu texto.
Sim… talvez o que tentei fazer sem saber foi subverter a ordem. Tirar o tempo de seu trono intocável e convidá-lo a sentar-se à mesa conosco, não como senhor, mas como parceiro de travessia.
Não se trata de arrogância diante do tempo, esse deus antigo que tudo observa e tudo transforma. Mas talvez de ousadia afetiva: a de dizer ao tempo que também temos algo a oferecer escolhas, gestos, resistências, brechas. Porque, se ele nos leva, que ao menos saiba: também sabemos dançar com ele.
Risos…
Talvez o tempo não aceite ser aprisionado como bem disseste mas talvez aceite ser olhado. Talvez se deixe, de tempos em tempos, ser nomeado por nós: manhã, tarde, noite, silêncio, saudade. Talvez não o dominemos, mas possamos tocá-lo com leveza, como quem toca o vento sem querer prendê-lo.
E assim, sem brigar, sem fugir, perguntamos:
“Tempo, e se hoje for eu quem te conduz nem que seja só um pouco?”
Obrigada por dançar esse pensamento comigo.
Abraço!
Engraçado que eu já tive um blog que se chamava "Olhar o Tempo"..rs
ExcluirEu gosto muito de levar em consideração os versos de Toquinho quando ele diz que o tempo futuro é uma astronave que tentamos pilotar que sem pedir licença, muda nova vida e ainda nos convida a rir ou chorar.
Eduardo, adorei saber do seu blog “Olhar o Tempo”! Acho que o tempo gostou tanto do nome que resolveu seguir te acompanhando de perto … e, às vezes, de lado, só pra confundir! 😉
ExcluirE esses versos de Toquinho são perfeitos o tempo futuro é mesmo essa astronave desgovernada que a gente finge pilotar, mas no fundo só segura no cinto e torce pra pousar onde o coração aguenta.
Obrigada por compartilhar essa memória e esse olhar que ri, mesmo quando o tempo apronta!
Abraço!
Olá, querida amiga Fernanda!
ResponderExcluirOntem, no ensaio do Coral, no momento de reflexão que sempre temos, o tema foi sobre o tempo, justamente.
Falei que não me preocupo com o futuro, estou passando a limpo minha vida, reescrevendo minha história de vida, dando o curso que gostaria que ela tivesse tido. Isso me dá muita esperança em relação ao tempo que haverá de vir, visto que o ido embora, não vou atrás.
O tempo presente é de ação em tecer novo modo da minha vida. toda nova, dando cores novas, com pessoas novas ou que me queiram bem de fato.
Gosto muito de suas reflexões.
Tenha dias abençoados!
Beijinhos fraternos de paz
Querida Roselia,
ResponderExcluirQue bonita sua partilha… há tanta sabedoria nesse “passar a limpo” a própria vida. Reescrever a história com mãos conscientes e coração leve é uma das formas mais profundas de respeitar o tempo e também de honrá-lo.
Seu testemunho me toca, porque revela essa coragem rara de não se prender ao que já foi, nem se angustiar com o que virá, mas de habitar o agora como quem costura novos contornos para a própria alma.
Que bom saber que minhas reflexões te acompanham nesse processo tão bonito de renovação.
Receba meu carinho e meu desejo sincero de que seus dias sigam cheios de sentido, cor e verdade.
Beijinhos de paz e gratidão,
Fernanda