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04 junho, 2025
Aquela que Mastiga Cinzas
6 comentários:
depois que a letra nasce
não há silêncio
há um choro que só eu ouço
e um medo que ninguém vê
o medo de mostrar demais
de sangrar diante de estranhos
de ser lida com desdém
ou pior: com pressa
porque parir palavras
é também deixar o peito aberto
num mundo que não sabe lidar
com quem sente fundo
a escrita respira fora de mim
e eu, nua, assisto
alguns dizem que é lindo
outros nem leem até o fim
há quem tente vestir meu poema
com a própria assinatura
como se dor fosse transferível
como se parto tivesse atalho
e é aí que mais dói
quando roubam o nome da minha filha
e fingem que nasceu de outra boca
quando arrancam o umbigo do texto
e dizem: “isso é meu”
não é
eu sei cada madrugada que ela levou
cada perda que empurrou esse verso
cada lágrima que virou frase
não quero aplauso
mas exijo respeito
porque minha escrita
anda no mundo com meu rosto
meus olhos, minha história
e quando alguém a toma como se fosse nada
está me dizendo:
“você também é nada”
mas eu sou tudo
o que ninguém teve coragem de escrever
e continuo parindo
mesmo ferida
porque escrever é a única forma
que conheço de sobreviver
(Fernanda)
Noooooooooossa, eu já estava imaginando quem seria a "bruxa má",rs... Palavras fortes, cheias de expressividade para descrever a soberba! Ninguém a suporta! Pena, alguns a alimentam! beijos,chica
ResponderExcluirHahaha! Chica, você me fez rir alto agora! 😂
ResponderExcluirA “bruxa má” quase ganhou nome e CPF por aqui, hein?
E olha… soberba realmente tem um perfume forte, mas é daqueles que a gente sente de longe e atravessa a rua! Tem gente que alimenta achando que é caviar, mas no fundo… é só jiló com glitter! 😅
Beijo grande, minha querida! Sempre adoro seus comentários afiados e divertidos!
Obrigada 🙏🏻
😘🥰
Também pensei em algo parecido, Nanda, mas segui a leitura porque independente de a tomarmos pela caracterização como uma bruxa má sempre estou atento à linguagem, às imagens. Você sabe usá-las ou às crias com uma propriedade que seduz o leitor. Aquele que gosta da simplicidade, também valoriza a atmosfera que o autor cria para mantê-lo preso à cadeira. Seu texto é soberbo.
ResponderExcluirA soberba é má, porém está ótima do ponto de vista da linguagem. Parabéns pelo retrato acabado da soberba.
A propósito, seu comentário em "levados pelos ventos" também está soberbo. Muita sensibilidade para andar com tanta desenvoltura pelas entrelinhas.
Fique com o meu carinho de agradecimento, Nanda!
José,
Excluirque generosidade a tua ao ler não só o que escrevo, mas também o que vibra por trás das palavras. Fico feliz que a linguagem tenha te tocado é nela que deposito meus silêncios, minhas tensões e também meus excessos. A soberba, nesse caso, foi instrumento, quase personagem, e fico encantada que a tenhas percebido assim, com essa leitura tão sensível. Quanto ao teu carinho em “levados pelos ventos”, recebo com gratidão dobrada porque vindo de ti, leitor atento e profundo, é presente raro. Obrigada por caminhar comigo pelas entrelinhas. Um abraço terno!
Nanda!
Como respondi pelo telemóvel não me dei cints que não estava na página do blogue de Eros de Passagem. Somos muitos e um só, depende do instante!
ExcluirEros, que bonito isso somos muitos e um só, depende do instante. Talvez seja exatamente isso que nos une por aqui: essa dança entre o que somos e o que nos tornamos ao cruzar as páginas uns dos outros. Não importa onde a resposta caiu, ela encontrou-te e isso já é gesto de afinidade. Obrigada por estar sempre tão presente, mesmo quando os instantes se confundem.
ExcluirObrigada 🙏🏻
Nanda