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Eu amo escrever. Escrevo porque às vezes não cabe tudo aqui dentro. Porque há sentimentos que só se organizam quando viram palavras, e pensamentos que só fazem sentido quando dançam na página. Amo também olhar o céu e talvez isso diga tudo. Há quem olhe o céu para prever o tempo, eu olho para prever a mim mesma. Há algo em observar as nuvens, as estrelas ou o silêncio azul que me faz lembrar que existe poesia mesmo nos dias comuns. Este blog nasce desse encontro: entre a escrita e o céu. Vai ser um espaço para dividir pensamentos, contar histórias, guardar pedaços de mim e talvez, de você também, que me lê agora. Obrigada por estar aqui. Que você se sinta à vontade. Que cada texto seja como uma janela aberta, onde o vento entra leve e, quem sabe, traz um pouco de luz também

✿Amor sempre....

✿Amor sempre....
Caminho entre flores. O chão continuará pra nós com outras paisagens. Sou o que sou, porque é tudo que sei ser. E todo meu olhar escrito que você nunca aprendeu a ler, permanecerá no descaso para quem não compreende.

04 junho, 2025

Aquela que Mastiga Cinzas

Aleatoriamente um toque de poesia


Ninguém sabe de onde veio tanta arrogância.
Talvez tenha sido moldada do vento seco,
ou parida pelas ruínas de alguma guerra esquecida.
Mas caminha.
Caminha como quem jamais parou.

O rosto é uma máscara de pedra gasta, e sob os olhos não há sombra  há vácuo.
Na boca, dentes que não mordem pão, mas palavras amargas, secas, como sementes mortas.

Ela não fala com ninguém.
Murmura. E o que murmura
murcha as flores ao redor.

Teve nome, sim.
Mas desfez-se dele como se fosse trapo  nome é afeto, e afeto queima.

As asas que carrega
não servem para voar.
São restos de orgulho empedrado, penas duras, cheias de espinhos,
que se cravaram nela mesma cada vez que recusou um abraço.

Olha para os outros como quem olha para ratos.
Diz que são ruidosos, frágeis, cheios de esperanças inúteis.
Sorri de canto 
mas o sorriso dela gela.

Não se alegra com o nascer do dia. Para ela, todo amanhecer é um erro.
O mundo deveria ter terminado ontem.

Guarda mágoas em potes de vidro, alinhados como troféus num altar esquecido.
Cada mágoa tem um nome,
um gesto, um tom de voz.

Às vezes, à noite,
ela dança. Mas não como quem celebra. Dança como quem conjura, como quem pisa as lembranças
até que virem poeira.

Se alguém ousa se aproximar, ela cospe verdades azedas, olhos faiscando o desprezo dos que se acham deuses
por terem sofrido demais.

E segue, magra como o tempo, fria como uma lápide, caminhando entre vivos, mas pertencendo aos mortos.

Seu nome? 
Soberba.

6 comentários:

  1. Noooooooooossa, eu já estava imaginando quem seria a "bruxa má",rs... Palavras fortes, cheias de expressividade para descrever a soberba! Ninguém a suporta! Pena, alguns a alimentam! beijos,chica

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  2. Hahaha! Chica, você me fez rir alto agora! 😂
    A “bruxa má” quase ganhou nome e CPF por aqui, hein?
    E olha… soberba realmente tem um perfume forte, mas é daqueles que a gente sente de longe e atravessa a rua! Tem gente que alimenta achando que é caviar, mas no fundo… é só jiló com glitter! 😅
    Beijo grande, minha querida! Sempre adoro seus comentários afiados e divertidos!

    Obrigada 🙏🏻
    😘🥰

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  3. Também pensei em algo parecido, Nanda, mas segui a leitura porque independente de a tomarmos pela caracterização como uma bruxa má sempre estou atento à linguagem, às imagens. Você sabe usá-las ou às crias com uma propriedade que seduz o leitor. Aquele que gosta da simplicidade, também valoriza a atmosfera que o autor cria para mantê-lo preso à cadeira. Seu texto é soberbo.
    A soberba é má, porém está ótima do ponto de vista da linguagem. Parabéns pelo retrato acabado da soberba.
    A propósito, seu comentário em "levados pelos ventos" também está soberbo. Muita sensibilidade para andar com tanta desenvoltura pelas entrelinhas.
    Fique com o meu carinho de agradecimento, Nanda!

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    Respostas
    1. José,

      que generosidade a tua ao ler não só o que escrevo, mas também o que vibra por trás das palavras. Fico feliz que a linguagem tenha te tocado é nela que deposito meus silêncios, minhas tensões e também meus excessos. A soberba, nesse caso, foi instrumento, quase personagem, e fico encantada que a tenhas percebido assim, com essa leitura tão sensível. Quanto ao teu carinho em “levados pelos ventos”, recebo com gratidão dobrada porque vindo de ti, leitor atento e profundo, é presente raro. Obrigada por caminhar comigo pelas entrelinhas. Um abraço terno!

      Nanda!

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    2. Como respondi pelo telemóvel não me dei cints que não estava na página do blogue de Eros de Passagem. Somos muitos e um só, depende do instante!

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    3. Eros, que bonito isso somos muitos e um só, depende do instante. Talvez seja exatamente isso que nos une por aqui: essa dança entre o que somos e o que nos tornamos ao cruzar as páginas uns dos outros. Não importa onde a resposta caiu, ela encontrou-te e isso já é gesto de afinidade. Obrigada por estar sempre tão presente, mesmo quando os instantes se confundem.

      Obrigada 🙏🏻
      Nanda

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depois que a letra nasce
não há silêncio
há um choro que só eu ouço
e um medo que ninguém vê
o medo de mostrar demais
de sangrar diante de estranhos
de ser lida com desdém
ou pior: com pressa
porque parir palavras
é também deixar o peito aberto
num mundo que não sabe lidar
com quem sente fundo
a escrita respira fora de mim
e eu, nua, assisto
alguns dizem que é lindo
outros nem leem até o fim
há quem tente vestir meu poema
com a própria assinatura
como se dor fosse transferível
como se parto tivesse atalho
e é aí que mais dói
quando roubam o nome da minha filha
e fingem que nasceu de outra boca
quando arrancam o umbigo do texto
e dizem: “isso é meu”
não é
eu sei cada madrugada que ela levou
cada perda que empurrou esse verso
cada lágrima que virou frase
não quero aplauso
mas exijo respeito
porque minha escrita
anda no mundo com meu rosto
meus olhos, minha história
e quando alguém a toma como se fosse nada
está me dizendo:
“você também é nada”
mas eu sou tudo
o que ninguém teve coragem de escrever
e continuo parindo
mesmo ferida
porque escrever é a única forma
que conheço de sobreviver
(Fernanda)