Dessa vez, a mesa seria mais silenciosa. Mais ampla também com cadeiras de outras culturas, aromas de outros tempos, línguas misturadas em poesia. Se cada poeta pudesse tomar um café com seus autores estrangeiros do coração, eu, certamente, precisaria de um intérprete não de idiomas, mas de silêncios. Porque o que se trocaria ali não caberia só em palavras.
Emily Dickinson chegaria primeiro.
Não por pontualidade, mas por aversão a multidões.
Sentaria num canto, vestida de branco, com as mãos repousadas sobre o colo e os olhos observando tudo com uma timidez feroz.
Seu café seria morno, e eu nem me atreveria a perguntar se estava bom.
Conversaríamos por bilhetes. Curto. Cortante. Infinito.
Pablo Neruda, ao contrário, ocuparia a sala inteira.
Com a voz grave, me contaria de cebolas e revoluções, de amores e exílios.
Teria cheiro de mar e sal e vinho chileno.
Faria versos sem papel, só com a entonação e me ensinaria que poesia também é um jeito de ocupar o mundo.
Sylvia Plath viria com seus abismos à flor da pele.
Chegaria depois de hesitar algumas vezes.
Talvez não tomasse café. Talvez nem conseguisse sorrir.
Mas se dissesse uma única frase, me deixaria em silêncio pelo resto do encontro.
Porque há dores que reconhecem outras, mesmo sem tradução.
Rainer Maria Rilke me olharia como quem escreve com os olhos.
Falaria devagar, com um sotaque que ecoaria como prece.
Me contaria sobre as cartas a um jovem poeta, e eu "mentiria" dizendo que entendi tudo, só pra não interromper a profundidade do momento.
Seu café seria quase espiritual. Com gosto de espera.
Walt Whitman seria pura presença.
Abraçaria todo mundo, cantaria seu próprio nome e o da humanidade.
Trajaria liberdade como roupa, e diria que o mundo cabe inteiro dentro de uma folha de grama.
Me pediria pra ouvir o corpo o meu, o dele, o de todos.
Tomaria café forte, gargalharia alto, e deixaria o chão levemente desorganizado.
Virginia Woolf chegaria elegante e exausta.
Trazendo no olhar um mundo inteiro em colapso e lucidez.
Me falaria sobre os quartos próprios, sobre as margens, sobre escrever contra a corrente.
Faria poesia dentro da prosa e me lembraria que o feminino também é revolução.
Deixaríamos o café esfriar e conversaríamos sobre o tempo e as coisas que escorrem entre as palavras.
Federico García Lorca viria com flores nos bolsos e tragédia nos ombros.
Falaria com as mãos, com o corpo inteiro.
Diria que a poesia é feita de sangue, guitarra e silêncio andaluz.
Seu café teria gosto de despedida, e eu o ouviria com reverência.
Anna Akhmátova se sentaria firme, com dignidade de mártir.
Seu silêncio falaria mais que qualquer verso.
Tocaria minha mão com os olhos e deixaria em mim a lembrança de uma mulher que resistiu à censura com poesia costurada nos ossos.
E por fim, quando o encontro já parecesse ter acabado,
entraria Leonard Cohen, de chapéu e voz rouca.
Sentaria devagar, como quem tem tempo.
Diria que há uma fresta em tudo e que é por ela que entra a luz.
Beberia café preto, colocaria uma música qualquer de fundo.
E me ensinaria que poesia é também oração que a gente canta baixinho.
Eu?
Eu escreveria nas margens do guardanapo.
Eu faria silêncio.
Talvez chorasse sem alarde.
Porque se cada poeta pudesse tomar um café com seus autores preferidos,
o que eu faria era isso mesmo:
guardar cada palavra como quem coleciona pedras raras no bolso.
E sair dali com mais perguntas do que respostas.
Mas com uma certeza quente no peito:
a de que não se está só quando se é feita, também, de versos dos outros.
Fernanda!
Obrigada, amigos, por virem até aqui, nessa mesa poética. Trouxeram palavras, memórias e encantamentos. Fizeram da tarde um café com gosto de eternidade.
ResponderExcluirAgora, a mesa é de vocês tragam seus versos, seus silêncios, seus exageros e suas ternuras.
Eu fico aqui, com a xícara na mão e o coração aberto,
esperando cada poema que ainda há de pousar entre nós.
Com carinho,
Fernanda ☕
Querida anfitriã Fernanda poeta,
ResponderExcluirchegando ao alegre café poético,
com serenidade, no asceta cântico.
É grande a minha doce expectativa
A alardear meu coração, estou cativa,
Creio perder pulsação de emoção.
Abraço-te, sento-me perto de Clarice,
A Lispector, não vejo nela chatice,
Sou adepta aos pensamentos escritos.
Ao saborear o chá de hortelã quentinho,
Biscoitos amanteigados com trufados,
Deixam meu âmago bem adocicadinho.
Sou tão bem acolhida aqui na Tertúlia,
Ganhei uma nova amiga, a Maria Julia,
Silenciosas, entre cafés, prosas amorosas.
No momento de toda calma, a alma se regala,
Por você proporcionado com fraterno amor,
Saio da reunião feliz plena de poesia de valor.
💐🤝💌💝🍽🍴☕🍮🍬🍰
Roselia querida,
ResponderExcluirTua chegada à mesa foi um presente bordado em versos desses que a gente lê sorrindo e sente como abraço. Teu canto, feito de hortelã, emoção e Clarice, trouxe leveza e encanto à tertúlia. Que alegria ver tua alma pousar entre nós com tamanha delicadeza, saboreando os detalhes com olhos de poeta e coração acolhedor. Fico comovida ao ver como cada gesto aqui é transformado em poesia por ti. E saber que te sentes bem nessa roda me diz que a mesa está completa porque onde há poesia partilhada, há irmandade. Volta sempre, minha amiga de alma serena. Teu lugar está guardado com chá, silêncio, afeto e verso.
Obrigada poetisa!
Com carinho poético,
Fernanda ☕️
É aqui é onde as queixas e os risos são colocados. Parecido com o “Diário” onde falo o que não falo pras minhas amigas.
ResponderExcluirEstou seguindo o seu Blog.
Que delícia saber disso! Seja muito bem-vinda aqui é mesmo esse cantinho meio desabafo, meio riso contido (ou escancarado). Um diário paralelo onde a gente escreve o que o coração não teve coragem de contar no café com as amigas. Fico feliz demais com sua companhia por aqui.
ExcluirTambém te seguindo.
😘
Ah!... Mais que um poeta,
ResponderExcluirgostava de me encontrar
com um poema!
conhecer os seus contornos,
a melodia das palavras
O suspiro das sílabas
penetrar a sua alma
desvendar os seus enigmas
até encontrar a rima perfeita!
Depois... tomar um café
com qualquer poeta
porque
Na serenidade do rosto
de um poeta,
há sempre um poema
esculpido em aventura...
Ou talvez um sonho disperso
ou uma carícia perdida
que procura
umas mãos, sedentas de ternura!
Um beijo, Fernanda.
Albino, tua chegada à mesa dos poetas foi como quem não apenas senta, mas já traz o vinho, o silêncio bom e um poema inteiro no olhar.
ExcluirQue encanto esse teu comentário que mais parece uma dança entre palavras, dessas que fazem a gente respirar devagar pra não interromper a música.
Sim… há poetas que escrevem, e há os que são, por si, um poema. E você pousou aqui como quem conhece o caminho entre o mistério da rima e a ternura do gesto. Obrigada poeta, por esse presente e por compartilhar tua alma vestida de versos com a gente. Que nunca nos falte esse café com poesia.
Um beijo com admiração e afeto,
Fernanda
Que belíssimo convite poético! 💙 A ideia de cada poeta sentar-se à mesa para um café e revelar seus versos me enche de admiração — é como partilhar mundos interiores, abrindo portais de inspiração entre palavras e sorrisos.
ResponderExcluir💜 Desejo-te uma excelente semana!
Com carinho,
Daniela Silva
🔗 https://alma-leveblog.blogspot.com
🦋 Visita também o meu cantinho 🌸
Olá Daniela,
ExcluirAhh, que alegria ter você chegando assim, com palavras que já vêm adoçadas de afeto e poesia!
Essa mesa só faz sentido quando se torna encontro de versos, de vozes, de silêncios partilhados. E quando uma alma sensível como a tua se senta, a conversa ganha outra música. Obrigada por esse carinho que transborda nas entrelinhas. Que a tua semana seja tão bonita quanto esse gesto de se demorar aqui com a gente.
Um beijo com gratidão e ternura,
Fernanda ☕