Hoje foi dia de sol, garfo e "ciúme" nessa ordem.
Começou com aquele clima de “vamos encontrar os meus amigos que estão na cidade” e terminou com “onde foi que eu achei você?” dito com um sorriso meio encantado, meio desconfiado, e 100% possessivo. Risos...
Almoçamos com os amigos de André gente simpática, bem-humorada, aquele tipo que fala com as mãos, ri alto e comenta a sobremesa com a seriedade de um crítico gastronômico da ONU. Foi uma daquelas refeições que viram evento social, em que o prato principal é a conversa e a sobremesa, a “fofoca”.
Claro que eu, sem querer querendo, fui eu mesma: tagarelei, fiz graça, comentei teoria política, debati signos, filosofei sobre a diferença entre café forte e café corajoso, e ainda consegui elogiar a sogra do amigo do André
(sem nunca tê-la
conhecido). Uma verdadeira performance informal. Naturalmente, um sucesso.
Depois de alguns elogios disfarçados de comentários (“nossa, ela é tão articulada!”, “como você sabe de tanta coisa?”, “gente, que mulher!”), veio o momento. O clímax. O ápice do ciúme disfarçado de romantismo filosófico:🧐
Amor… que assunto você não sabe falar?
Eu olhei de canto, rindo. Porque a pergunta não era uma curiosidade inocente. Era investigação. Era o CSI Brasília: episódio especial Amigos demais acharam graça na minha mulher.
Respondi com a calma de quem sabe o poder que tem: Risos...
Revestimentos hidráulicos em ruínas bizantinas, amor. Nunca estudei. Pode ficar tranquilo.
Ele riu, mas o olhar denunciava: não era sobre o tema, era sobre o encanto.
Ele disse, que os amigos dele, tinham gostado demais de mim. E esse “demais” é uma medida subjetiva que ativa o ciúme até no mais evoluído dos budistas.😌
Eis então que ele confessa:
Eles perguntaram onde foi que eu encontrei esse tesouro.
Ah, o tesouro. Aquela palavra que mistura conto de pirata com dor de cotovelo amoroso.
André estava orgulhoso, mas também um tiquinho inquieto. Porque tesouro, por definição, desperta interesse geral. Tesouro chama mapa. Tesouro atrai caçador. Tesouro exposto dá nervoso. Mas sabia que não precisava se preocupar.
A verdade? Ele ficou feliz, claro. Mas também ficou tipo aquele menino que leva o lanche mais gostoso da escola e de repente todo mundo quer um pedaço. E ele pensa: pode olhar, mas encostar não.
No fim, ele disfarçou com carinho:
Você é impressionante, amor.
Mas eu sei. A frase verdadeira estava ali, nas entrelinhas:
Você podia ter sido um pouco menos encantadora, só hoje. Só nesse almoço.
A gente riu, seguimos o dia, e eu segurei a mão dele com mais força. Porque eu também, de vez em quando, tenho “ciúmes” do mundo que o admira. Mas amar é isso: aceitar que o outro vai brilhar, sim. E que nem sempre a gente consegue esconder o diamante no bolso.
O fato é que ele me ama. E eu o amo de volta.
E entre elogios de amigos, sobremesa e análise de signos, o mais gostoso mesmo foi o temperinho a mais do dia: um “ciúme”bobo, mas inteiramente apaixonado.
🥰
Foi tão cheio de humor e bem legal. Amei!
Olá, Fernanda, a boa cronista faz assim mesmo, busca as melhores palavras, constrói as melhores frases, deixa o vazio proposital em certos trechos, e assim vai captando a atenção do leitor, uma espécie de vítima da cronista, que presta a atenção em tudo que ela diz na sua escrita.
ResponderExcluirAssim, entendi mais ou menos, esse encontro familiar do casal com seus amigos, a recepção, o jantar, a sobremesa etc.
Uma ótima crônica, Fernanda, que gostei muito de ler.
Uma boa semana, um abraço!