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Eu amo escrever. Escrevo porque às vezes não cabe tudo aqui dentro. Porque há sentimentos que só se organizam quando viram palavras, e pensamentos que só fazem sentido quando dançam na página. Amo também olhar o céu e talvez isso diga tudo. Há quem olhe o céu para prever o tempo, eu olho para prever a mim mesma. Há algo em observar as nuvens, as estrelas ou o silêncio azul que me faz lembrar que existe poesia mesmo nos dias comuns. Este blog nasce desse encontro: entre a escrita e o céu. Vai ser um espaço para dividir pensamentos, contar histórias, guardar pedaços de mim e talvez, de você também, que me lê agora. Obrigada por estar aqui. Que você se sinta à vontade. Que cada texto seja como uma janela aberta, onde o vento entra leve e, quem sabe, traz um pouco de luz também

✿Amor sempre....

✿Amor sempre....
Caminho entre flores. O chão continuará pra nós com outras paisagens. Sou o que sou, porque é tudo que sei ser. E todo meu olhar escrito que você nunca aprendeu a ler, permanecerá no descaso para quem não compreende.

09 julho, 2025

A Barbie do Tênis 39

Aleatoriamente um toque de poesia



Era pra ser só uma passada rápida no shopping. Entrar, escolher um tênis confortável, pagar, sair. Plano simples, direto. Até que entrei na loja… e topei com ela.

Uma senhora elegante, sentada na área dos calçados femininos, segurando uma caixa de sapato e um olhar fixo em mim. Eu ainda nem tinha chegado no espelho e já sentia o raio X dos olhos dela atravessando minha alma (e meus tornozelos). Me olhava como quem acabou de ver uma aparição. Ou uma celebridade. Ou um OVNI de saia lápis.

Sentei pra experimentar o tênis. A vendedora me trouxe o par tamanho 39 (sim, pode rir 39, com todas as sílabas) e, nesse momento, a senhora deu aquele suspiro leve, com a mão no peito. Tipo suspiro de vó emocionada no casamento do neto.

Desculpe a ousadia, querida… disse ela, inclinando o corpo em minha direção mas você é tão… Barbie. Linda, linda! Uma Barbie que calça 39!

Parei. Travei. Ri. E disse:

Olha, se a Barbie calçasse 39, ela teria muito mais estabilidade, para andar com  o  Ken.

A senhora gargalhou. Gargalhou mesmo! Daquelas risadas que fazem as outras senhoras da loja virarem o pescoço. Pegou na minha mão e falou:

Mas é verdade, minha filha! Olha pra você! Essa pele, esse cabelo, esse jeito de sentar… Só falta a caixa da Mattel!

Começamos a rir juntas. E eu ali, de meia descartável e calcanhar torto, pensando que talvez a Barbie fosse, sim, uma mulher com bom humor, sapato largo e disposição pra conversar com estranhas na loja.

Ela continuou:

E ainda tem estilo, viu? Porque olha, esse tênis ficou um charme em você! Não parece nem que é grandão… parece só… cheio de presença.

Cheio de presença. Pronto. A senhora tinha me dado o melhor elogio do mês. Esqueci o número, esqueci o preconceito, esqueci o trauma das sapatilhas que explodem nos meus pés feito castanhas portuguesas.

Minha senhora disse eu, a Barbie pode até ter calçado 36 na caixa. Mas aqui fora, na vida real, ela calça 39, paga boleto e compra tênis por necessidade e dignidade. Hahaha 

Saí da loja flutuando nos meus centímetros de sola. E com a certeza: ser Barbie é saber rir de si, aceitar o tamanho do pé e fazer amizade no setor de calçados.

Quem sabe um dia, aquela senhora elegante também ganhe sua própria boneca? A “Senhora Visionária que Descobre Barbies no Shopping”. E o acessório principal? Uma sapatilha ortopédica cor-de-berinjela, claro. 😊




Fernanda

16 comentários:

  1. Bom dia de bom humor, querida amiga Fernanda!
    Feliz de quem sabe fazer do casual uma crônica assim tão instigante. Você e Taís o fazem muito bem.
    Até a Barbie passa a ser bem-aventurada (feliz).
    Sabia que você diminuiu um número?
    Sim, eu pedi o meu 37/ 38, a moça me trouxe um 37, quando contestei, ela me disse que não tem mais numeração dupla. O 3.7 coube perfeitamente em mim. Ao menos no pé diminuímos o tamanho, kkk.
    Fez-me lembrar de outro dia na farmácia que uma senhora elegante de quase 90 anos me pegou para conversar (adoro conversar com pessoas idosas) e me deu um ânimo tremendo, sem mais nem menos? Assim como nos passou aqui. Um banho de autoestima.
    É tão bom recebê-lo em meio à uma sociedade esmagadora, cheia de condicionamentos para beleza.
    Gosto do seu jeito Barbie de ser.
    Não tem ken que resista... rs à espontaneidade. O mundo anda tão artificial.
    Amo a cor do tênis comprado, muito estiloso. Ainda mais ortopédico.
    Por falar em senhoras à caça de prosas, hoje fui convidada a um chá/café com cinco senhoras todas muito mais idosas do que eu, vamos do 67 ao 86... adoro estar com pessoas que têm assuntos mais relevantes do que as novas e suas futilidades (na maioria).
    Curte bastante sua Presença e seu Tênis! Ambos, marcantes.
    Adorei começar meu dia por aqui, ainda na cama com dois edredons.
    É a vantagem de ser aposentada...
    Tenha um dia abençoado seja como for!
    Beijinhos fraternos






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    1. Que comentário mais delicioso, Roselia!
      É sempre uma alegria te encontrar por aqui, com essa mistura única de humor, afeto e sabedoria cotidiana. Você também faz do simples uma arte o tênis, o número, a conversa na farmácia… tudo vira cena viva em suas palavras.
      Fiquei sorrindo com a história do número 37. Olha só: estamos mesmo encolhendo onde dá! Que seja no pé e não no coração, né? E adorei o convite para o chá com as senhoras: aí está o verdadeiro luxo da vida boas conversas com quem tem histórias de verdade, e não só feed atualizado. Obrigada pelo carinho e pelas risadas discretas que dei aqui enquanto lia. Que seu dia siga leve, cheio de edredons, prosas e tênis estilosos também! Um beijo grande e fraterno da sua amiga de crônicas e afetos.

      Fernanda!

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  2. Uauuu... adorei o diálogo!
    Os momentos de boa disposição e humor são indispensáveis na nossa vida.
    Caso contrário tudo era um arrastar fastidioso dos dias e das horas, onde o sorriso aperece tímido e envergonhado quando precisamos de dar uma gargalhada!
    Gosto muito fa tua escrita. É sempre um prazer!

    Um abraço com afeto Fernanda!

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    1. Oi, Albino! 😊

      Que comentário mais acolhedor, obrigada! Concordo contigo sem humor, a vida vira mesmo um arrastar enfadonho, um dia depois do outro sem brilho. E o riso, ah, o riso! Ele vem como respirar como alívio e, às vezes, até como cura. Fico feliz demais que tenhas gostado do diálogo. Escrever com leveza, pra mim, é um jeito de abrir janelas no cotidiano.
      Recebo teu abraço com carinho e retribuo com afeto e gratidão! Até a próxima prosa, com mais sorrisos e alguma boa maluquice. Risos…🤭

      Com carinho😘

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  3. A curiosidade e falta do que fazer da senhora intrometida, ao final, causou boas risadas e quem sabe ela ganhe uma boneca A fofoqueira,rs...
    beijos, chica

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    1. Oi, querida Chica!
      Adorei sua leitura essa senhora “intrometida”, com jeitinho curioso, foi mesmo uma personagem à parte, não é? Acho que toda história ganha tempero com essas pitadas inesperadas, e uma boneca “fofoqueira” ia cair como uma luva pra ela! Rs. Obrigada pelo riso compartilhado e pelo carinho de sempre.

      Com carinho,
      Nanda😘

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  4. Fernanda; como esses idosos são elegantes e despojados ao mesmo tempo né?
    A minha mãe é difícil de lidar! Ela tem 78 anos e é rainha no quesito arrumar uma gtreta na família.
    Mas eu não conheço uma pessoa mais comunicativa e fácil de se relacionar com desconhecidos como ela.
    Quando ela sai de uma sala de espera de um consultório, ela sai conhecendo as 20 pessoas que estavam lá!
    É incrível.

    Mas agora voltando o foco para você: Se a velhinha te comparou com uma Barbie e falou que só falta a caixa da Mattel... Ah, pode ficar tranquila, que a última coisa que os homens (e muitas mulheres), vão reparar, é nos seus pés.
    Kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk.

    Um abração minha amiga!

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    1. André, você é ótimo! 😂
      Tua mãe merecia um troféu: “Rainha da Treta, Categoria Família com Menção Honrosa em Simpatia Pública”. Que linda!
      Adorei esse combo explosivo de causar nos almoços de domingo e fazer amizade até com o segurança do consultório. Essas senhoras são de outro nível, né? A gente nunca sabe se vai sair com uma lição de vida ou com um novo grupo no WhatsApp! Risos…
      Agora, sobre a Barbie… confesso que ainda estou à procura da tal caixa da Mattel mas acho que, se depender dos meus pés kkk ela vai ter que vir adaptada, tipo edição especial: Barbie Realista com mas diga-se de passagem: meus pés, são lindos tá? 😊& Estilosos.
      E sinceramente? Viva quem repara nas ideias antes do calçado! 🙌
      Obrigada pela risada e pela amizade sempre leve e divertida.
      Um abração de volta, meu amigo! 😄hahah esse Andre! Kkkkk muito bom teu comentário🙏🏻

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  5. Que post divertido e agarrado ao espírito “Barbie do ténis”! 🎾 Adorei a tua forma de brincar com o contraste entre estilo e performance. Dá mesmo vontade de apanhar uma raquete e embarcar nesse mood cheio de cor e energia!

    💜 Desejo-te uma excelente semana!
    Com carinho,
    Daniela Silva
    🔗 https://alma-leveblog.blogspot.com
    🦋 Visita também o meu cantinho 🌸

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    1. Obrigada, Daniela!
      O teu comentário deixou o o momento mais leve que bom que captaste esse lado divertido da “Barbie do ténis”! Estilo e suor podem (e devem!) andar de mãos dadas, não é?
      Desejo-te também uma semana linda, cheia de boas jogadas!

      😘

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  6. Querida Fernanda, posso dar o meu mais profundo kkkkkkkkkk?
    Que bom humor, hein, amiga? Que delícia. Mas qual é o problema de um pezito 39 se você tem de altura 1.80? Ou me enganei a altura? Ruim ficaria se você tivesse um pezito 36!!! Tá tudo na proporção, querida!
    Sabe, sou parecida com a Roselia, desde adolescente eu preferia conversar com pessoas mais velhas, eu sentia muito carinho, bom papo, simpatia e elas se , talvez sentissem também que eu gostava muito delas. E o papo nada tinha de ruim, era sempre gostoso, eu perguntava muito coisa delas e adoravam. Eu gosto muito dessas interferências simpáticas!
    Sabe, Fernanda, eu tenho o maior cuidado com vendedoras, uma vez pedi um número 36, o meu, e ela trouxe 35, disse que não tinha mais o meu número, mas que eu levasse porque esse couro cedia muito, ela tinha um igual. Então ei disse pra ela:
    "...mas então é um sapato muito vagabundo!!!"
    Agradeci e me mandei do shopping. Essas são nossas compras, amiga,
    sempre têm um quê para não esquecermos!
    Uma feliz quinta-feira!
    Beijinhos, e muita paz e sorte na compras kkkkkk
    Agora vou ler um pouco mais aqui, não deixe de postar. 😅🙋‍♀️👍

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    1. Querida Tais, eu amei o teu comentário! 😂 Você tem o dom de conversar como quem abraça é uma delícia te ler! E sim, confirmadíssimo: 1.80 de altura e pezito 39, com orgulho e estabilidade (ótima pra dias de vento forte!). 😄 Ri alto com a história da vendedora e o “sapato muito vagabundo”! Hahaha! Que resposta genial, só você mesmo! E concordo demais: nossas compras rendem histórias que nem vitrine mostra tem cada uma!
      Adorei saber dessa sua afinidade com pessoas mais velhas, eu tbm amo … É tão bonito quando a gente se conecta assim, com afeto e atenção. Também sou dessas que puxa papo e sai ganhando memória boa.
      Obrigada pelo carinho de sempre, Tais. Fico feliz que esteja aqui você ilumina o espaço com sua alegria!
      Beijinhos mil e que seus sapatos (e seus dias!) sejam sempre do tamanho certo. 😉
      Beijão!

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  7. Hahahaha Casos do dia a dia. Ótima crônica.

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    1. Hahaha sim, Dell! 😄
      Esses casos do dia a dia rendem as melhores crônicas aquelas que a gente vive e nem percebe que já são histórias prontas pra rir (ou quase chorar).
      Adorei a leveza do texto também! E seu Hahahaha
      😘

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  8. Nanda, amiga, adorei a sua história e seu bom humor. Por um momento, vou esquecer o 3 ponto 9 dos seus pés para me lembrar da centopeia, uma história infantil que ainda hoje as minhas filhas (são duas) relembram. É claro que ela tinha cem pés (cem patinhas) e era vendedora de calçados e vivia se queixando de quantas vezes ela subia e descia escada para levar e trazer pares e mais pares para o mesmo cliente muitas vezes. Imagine no final do dia quantos degraus ela subia... E o cansaço que ela sentia e não se abatia.
    Como é charmoso ouvir conta essa história com tanta verve, com tanto bom humor. E como eu gosto do seu verbo, menina, dessa simplicidade para contar uma história com um toque de poesia!
    Abraços, Nanda!

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    1. Eros, amigo, que delícia te ler! Essa centopeia vendedora de calçados me ganhou! 😂 Imagino a coitada subindo e descendo escada como quem faz crossfit no shopping e ainda com cem clientes exigentes de uma vez só! Hahaha!
      Adorei a lembrança das tuas filhas, esse tipo de memória compartilhada é puro ouro. E você, como sempre, transforma tudo em imagem viva já visualizei a centopeia com um avental e uma fita métrica no pescoço!
      Obrigada pelo carinho com meu texto, fico feliz demais de ter esse nosso papo leve e afetuoso por aqui.
      Obrigada, amigo, por sempre me ler com esse olhar tão generoso e por transformar até o tamanho do meu pezito 3.9 numa inspiração encantada!
      Abraços meus, com afeto e muitos degraus de boas risadas!
      Abraços com risadas e poesia, meu querido!

      Nanda!

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depois que a letra nasce
não há silêncio
há um choro que só eu ouço
e um medo que ninguém vê
o medo de mostrar demais
de sangrar diante de estranhos
de ser lida com desdém
ou pior: com pressa
porque parir palavras
é também deixar o peito aberto
num mundo que não sabe lidar
com quem sente fundo
a escrita respira fora de mim
e eu, nua, assisto
alguns dizem que é lindo
outros nem leem até o fim
há quem tente vestir meu poema
com a própria assinatura
como se dor fosse transferível
como se parto tivesse atalho
e é aí que mais dói
quando roubam o nome da minha filha
e fingem que nasceu de outra boca
quando arrancam o umbigo do texto
e dizem: “isso é meu”
não é
eu sei cada madrugada que ela levou
cada perda que empurrou esse verso
cada lágrima que virou frase
não quero aplauso
mas exijo respeito
porque minha escrita
anda no mundo com meu rosto
meus olhos, minha história
e quando alguém a toma como se fosse nada
está me dizendo:
“você também é nada”
mas eu sou tudo
o que ninguém teve coragem de escrever
e continuo parindo
mesmo ferida
porque escrever é a única forma
que conheço de sobreviver
(Fernanda)