Aguarde os próximos capítulos...

Eu amo escrever. Escrevo porque às vezes não cabe tudo aqui dentro. Porque há sentimentos que só se organizam quando viram palavras, e pensamentos que só fazem sentido quando dançam na página. Amo também olhar o céu e talvez isso diga tudo. Há quem olhe o céu para prever o tempo, eu olho para prever a mim mesma. Há algo em observar as nuvens, as estrelas ou o silêncio azul que me faz lembrar que existe poesia mesmo nos dias comuns. Este blog nasce desse encontro: entre a escrita e o céu. Vai ser um espaço para dividir pensamentos, contar histórias, guardar pedaços de mim e talvez, de você também, que me lê agora. Obrigada por estar aqui. Que você se sinta à vontade. Que cada texto seja como uma janela aberta, onde o vento entra leve e, quem sabe, traz um pouco de luz também

Amor sempre....

Amor sempre....
Caminho entre flores. O chão continuará pra nós com outras paisagens. Sou o que sou, porque é tudo que sei ser. E todo meu olhar escrito que você nunca aprendeu a ler, permanecerá no descaso para quem não compreende.

15 julho, 2025

Livros para refletir a vida

Aleatoriamente um toque de poesia
Crônica 


Tem dias em que a gente acorda com sede de alma. Não é fome de café, não é saudade de ninguém. É um espaço interno que grita por sentido e, nessas horas, um bom livro pode fazer mais do que um conselho amigo. Pode afiar a consciência, tocar a memória ou simplesmente colocar a gente no colo e dizer: “eu também já senti isso”.

Há livros que não lemos com os olhos, lemos com o coração atento. São aqueles que a gente fecha devagar, com o marcador ainda no meio da página, só pra respirar melhor. Porque, de repente, parece que alguém traduziu o que a gente nunca soube dizer.

Lembro do dia em que li O Profeta, de Khalil Gibran, numa tarde abafada de fevereiro. Cada página era como se alguém me puxasse pela mão e dissesse: “olha, viver é isso mesmo: perder e amar na mesma medida”. Gibran não me deu respostas, mas me ensinou a gostar das perguntas.

Depois veio Mulheres que correm com os lobos, da Clarissa Pinkola Estés. Não é um livro é um espelho. Me vi em cada fábula, em cada mulher ferida e forte, em cada lobo que uiva não por raiva, mas por querer voltar pra casa. Entendi, lendo, que às vezes a gente precisa desaprender a ser boazinha pra reaprender a ser inteira.

E teve também A insustentável leveza do ser, do Kundera, que me jogou no meio de um vendaval filosófico sobre escolhas, liberdade e o peso de ser quem se é. Leveza, aliás, não é ausência de dor. É a coragem de atravessar a dor com um pouco mais de lucidez.

Esses livros, e tantos outros, não nos dão fórmulas. Nos dão fôlego. Nos fazem refletir não sobre o que temos que fazer da vida, mas sobre como podemos senti-la mais profundamente.

Leitura, quando é verdadeira, não é passatempo. É passamento. A gente morre um pouquinho ao fim de cada história, e renasce com outra pele, outra escuta, outro olhar.

Hoje, se alguém me perguntasse quais livros ler para refletir sobre a vida, eu responderia com uma pergunta: Qual parte sua precisa ser ouvida agora?

Porque cada livro tem um tempo. E cada tempo tem um livro certo. Basta ouvir a sede. E escolher o que sacia mais do que distrai.

Às vezes, um livro chega antes da dor. Outras vezes, depois. Mas há aqueles que chegam durante no meio do furacão, quando o chão some e a alma quer fugir por algum atalho. E são esses que ficam.

Lembro de uma tarde silenciosa em que minha amiga me ligou só para dizer: Você precisa ler Cartas a um jovem poeta.
Ela sabia que eu andava tropeçando nos meus próprios silêncios. Que andava meio farta das vozes de fora, mas ainda sem coragem de confiar na de dentro. Rilke, com sua doçura firme, escreveu para mim, embora tivesse escrito para outro. Disse que a vida tem que ser vivida na dúvida, que o importante é viver as perguntas. Foi um sopro.

Outro que me encontrou foi A Morte é um Dia que Vale a Pena Viver, da Ana Claudia Quintana Arantes. Li com a garganta apertada, sublinhando tudo. A cada capítulo, ela desmontava o medo da finitude e remontava a beleza da presença. Entendi, ali, que falar da morte é, na verdade, falar da vida mas da vida com gosto, com afeto, com verdade.

E teve o dia em que um desconhecido num sebo me estendeu Tudo é rio, da Carla Madeira. Ele não disse nada, só sorriu como quem já sabia o efeito. Terminei o livro com o peito cheio e os olhos marejados. Descobri que o amor, quando é honesto, também é feito de tragédias lindas e dores que lavam.

Alguns livros não precisam ser clássicos nem premiados. Basta que nos olhem de dentro.
Pequeno Príncipe, por exemplo. Já li em vários momentos da vida e, em cada um, era um livro diferente. Quando criança li na sala de aula, era uma aventura doce. Mas na frente, um consolo. Hoje, uma espécie de oração. Quem sabe, aos 80, ele será meu testamento.

Hoje, eu carrego uma pequena lista na bolsa. Chamo de “livros-bússola”. São poucos, mas certeiros.
E sempre que vejo alguém perdido de si, ofereço um deles não como quem ensina, mas como quem compartilha um abrigo.

Porque, no fundo, a gente não lê pra saber mais. A gente lê pra sentir melhor.
E, quem sente melhor, vive com mais alma.

Se você quiser, posso te ajudar a montar a sua própria estante de reflexões. Com os seus livros-bússola, seus encontros literários, suas páginas sublinhadas com lágrimas. Quer fazer isso juntos? 😊




Fernanda

10 comentários:

  1. Olá, querida amiga Fernanda!
    Lendo seu post posso dizer como você: “eu também já senti isso”.
    Também posso repetir:
    A Fernanda " traduziu o que a gente nunca soube dizer."
    "Viver é isso mesmo: perder e amar na mesma medida”.
    Fiz uma pergunta, na adolescência, que não tive resposta, precisava tanto dela e me calei até hoje com uma pessoa.
    Li muitos livros desde que fui alfabetizada, como toda estudante em colégio religioso tradicional, uma boa literatura, por sinal, os  clássicos.
    Na maturidade, optei pelos de teor espiritual.
    Depois de blogar, alternei o estilo   mais ainda... ampliei meu leque de leituras.
    Não vou catalogar aqui, só lhe dizer que ganhei uma biblioteca do meu padrinho e, não pude reter todos comigo, por motivo particular, uma grande tristeza
    .Livros fizeram assim comigo:
    "Coragem de atravessar a dor com um pouco mais de lucidez."
    Um cuidado especial de Deus para conosco, eu creio, piamente.
    "Um livro chega antes da dor. "
    Sobre sua pergunta:
    "Qual parte sua precisa ser ouvida agora? Tenho adorado ler e escrever romances...
    Descobri que o amor, quando é honesto, também é feito de tragédias lindas e dores que lavam.
    "Bem assim...
    Sem nenhum constrangimento, digo que achei na Bíblia, todo esclarecido que precisava sobre meus sofrimentos, sem tirar nem pôr. Tudo estava lá bem explicadinho. Foram 1 ano e meio na capela do Santíssimo, durante 4 h. diariamente, com exceção do final de semana.
    Nada do que passei escapou aos olhos divinos.
    Foram letras encharcadas de purificação e renovação,
    Tenho anotado tudo que leio e me toca o coração, é minha bússola, quando preciso, recorro e volto  a ler. Encho meu coração de força.
    O pequeno Príncipe reli em 2025, a coleção de Machado, meu eu está pedindo para reler agora, reli na Pandemia.
    Desculpe-me, mas você é Grande nos conteúdos profundos e me faz escrever muito. 
    Li a Fernanda aqui, agora vou reler o que ela me quis dizer com todas as letras embutidas.
    Obrigada e  "O papel tem mais paciência do que as pessoas (Anne Frank).
    Tenha um entardecer abençoado!
    Beijinhos fraternos e boas leituras para nós

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Roselia, que testemunho mais precioso…
      Você transformou comentário em partilha, e partilha em oração. Senti suas palavras como um abraço que conhece a dor não de ouvir falar, mas de ter atravessado com fé.
      Ler o que você escreveu é lembrar que somos muitas em uma só passarela :
      a que buscou respostas na juventude, a que encontrou consolo nas letras sagradas, a que ainda se comove com o Pequeno Príncipe e se renova com a profundidade de Machado. E o que você disse sobre os livros “um cuidado especial de Deus” é algo que guardarei comigo. Porque também creio nisso, piamente. Eles chegam antes da dor. Ou chegam quando a dor ainda não sabe pedir colo. Obrigada por me reler com olhos tão cheios de brilho .
      Você é dessas belas pessoas que fazem a escrita valer a pena. Um entardecer sereno pra você também, minha amiga. E que nunca nos faltem palavras onde Deus decide nos encontrar.

      Beijinhos com afeto e admiração.😘

      Excluir
  2. Nanda, gostei da ordem do dia das suas leituras, da sua espontaneidade em contar para os amigos onde estão as perguntas sem as respostas nos livros consumidos. Gostei da sua receita para quem a quiser e até mesmo o divã para suas recomendações. Não li tudo que você leu e foi indicado aqui, mas li tantas outras coisas, ou obras, e há tantas empilhadas para serem lidas. Repito, gosto da sua espontaneidade, do seu despojamento ao dizer tudo o que pensa, tudo que sente com uma espontaneidade fora de série. Pois é, a felicidade está no próximo livro posto na cabeceira esperando o revirar das páginas, o marcador e o lápis assinalando qualquer coisa dentro e fora do que parece estranho até o virar da primeira e das paginas seguintes.
    Um abraço, Nanda!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Eros tão querido, que alegria ler você assim com essa escuta atenta, quase de quem folheia a alma do outro com o mesmo cuidado com que lê um bom livro. Fico feliz que a ordem caótica (ou intuitiva?) das minhas leituras tenha te interessado. É verdade: há perguntas que só sabemos formular depois que um livro nos cutuca por dentro. Às vezes, ele não responde, mas muda o lugar da dor.
      Adorei essa imagem do “divã das recomendações” que seja mesmo, um espaço de trocas leves, sinceras, onde os livros sejam direção e não vitrines. E sim, a felicidade mora nessa espera: no livro que nos aguarda na cabeceira, no marcador meio torto, nas anotações à margem, no parágrafo que parece escrito só pra gente.
      Obrigada por me reler com olhos generosos.
      E que nunca nos falte lápis, página e coragem pra assinalar aquilo que dói bonito.

      Um abraço cheio de páginas e pausas, 😊
      Nanda. 😘

      Excluir
  3. Olá Fernanda,
    Que texto maravilhoso!
    Acredito que os livros nos posicionam melhor na vida; meu sobrinho um dia desses me perguntou porque tenho livros, a unica coisa que me veio rapidamente para dar uma resposta a um menino de 10 anos foi... "eu leio pois assim consigo ou tento fazer boas escolhas..." mas te confesso que muitas vezes dou um tempo de leituras e me coloco no modo observação.
    Sobre o seu comentário lá na casa acredito que as pessoas que tem blog ainda nos dias de hoje é a nova "resistência", k.
    Eu queria visitar, escrever e ler por isso não migrei para o youtube e instagram, quando estou a visitar alguém estou inteira de verdade, olhando, imagens, versos, e pautas.
    "Somos a Resistência da web, k; todos nós que ainda cultivamos os nossos blogs.
    Paz e Bem a ti e aos teus.
    janicce.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Janicce, que alegria te ler aqui com essa delicadeza que caminha entre livros, olhares atentos e silêncios cheios de significado.
      A resposta ao seu sobrinho é daquelas que ficam no coração: “eu leio para tentar fazer boas escolhas…” que beleza! Quanta verdade simples há nisso. Ler é também isso: aprender a escolher com mais consciência e menos impulso, mesmo que nem sempre acertemos.
      E eu concordo com você: somos mesmo a resistência.
      Não pela rigidez, mas pela ternura. Pela escolha de estar inteira, presente, lendo verso por verso, prestando atenção. Há um amor silencioso nesse gesto de visitar um blog como quem visita uma casa com respeito, tempo e alma.
      Que bom te encontrar nessa trincheira doce da palavra escrita. Paz, bem, e boas leituras sempre,
      com carinho,

      😘

      Excluir
  4. Concordo plenamente! Gosto muito de ler e já tenho muitos livros lidos, e entendo bem o quanto menciona que alguns livro devem ser lidos com o coração! Aquele livro especial, aquela história com que nos identificamos, ou aquela personagem que nos fascina!

    Bjxxx,
    Pinterest | Instagram | Subscreve a nossa newsletter

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Teresa olá,
      Alguns livros realmente só se revelam quando os lemos com o coração aberto como quem escuta uma confidência ou reencontra algo que já morava dentro da gente.
      Sinto tanto isso: certos personagens ficam com a gente como velhos amigos, e algumas histórias nos acompanham por anos, feito bússolas silenciosas.
      É sempre bom dividir esse amor pelos livros com quem também lê com alma.
      Um beijo carinhoso e muitas leituras que toquem fundo!

      😘

      Excluir
  5. "os fazem refletir não sobre o que temos que fazer da vida, mas sobre como podemos senti-la mais profundamente" - Ajudam a lidar melhor com tudo ao redor. Aos meus olhos, isso dialoga muito com seus textos recentes, "Os grandes homens da paz" e "Mais que sogras". Percebermos as grandes coisas daqueles que vivem em silêncio, e a diminuir algumas coisas que vemos como grandes problemas.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Dell, que sensibilidade a sua em captar esse fio transparente entre os livros e a vida vivida com mais profundidade. Sim… às vezes não é sobre “o que fazer”, mas como sentir, como enxergar com outros olhos, como suavizar as urgências e reconhecer a grandeza de quem vive no silêncio. Fico tocada por você ter lembrado de “Os grandes homens da paz” e “Mais que sogras” textos onde tentei mesmo fazer isso: diminuir o barulho e aumentar o olhar.
      Obrigada por essa escuta generosa que vai além das palavras e alcança o sentido mais sutil. Seguimos juntos, lendo a vida devagar.😜

      😘

      Excluir

depois que a letra nasce
não há silêncio
há um choro que só eu ouço
e um medo que ninguém vê
o medo de mostrar demais
de sangrar diante de estranhos
de ser lida com desdém
ou pior: com pressa
porque parir palavras
é também deixar o peito aberto
num mundo que não sabe lidar
com quem sente fundo
a escrita respira fora de mim
e eu, nua, assisto
alguns dizem que é lindo
outros nem leem até o fim
há quem tente vestir meu poema
com a própria assinatura
como se dor fosse transferível
como se parto tivesse atalho
e é aí que mais dói
quando roubam o nome da minha filha
e fingem que nasceu de outra boca
quando arrancam o umbigo do texto
e dizem: “isso é meu”
não é
eu sei cada madrugada que ela levou
cada perda que empurrou esse verso
cada lágrima que virou frase
não quero aplauso
mas exijo respeito
porque minha escrita
anda no mundo com meu rosto
meus olhos, minha história
e quando alguém a toma como se fosse nada
está me dizendo:
“você também é nada”
mas eu sou tudo
o que ninguém teve coragem de escrever
e continuo parindo
mesmo ferida
porque escrever é a única forma
que conheço de sobreviver
(Fernanda)