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Eu amo escrever. Escrevo porque às vezes não cabe tudo aqui dentro. Porque há sentimentos que só se organizam quando viram palavras, e pensamentos que só fazem sentido quando dançam na página. Amo também olhar o céu e talvez isso diga tudo. Há quem olhe o céu para prever o tempo, eu olho para prever a mim mesma. Há algo em observar as nuvens, as estrelas ou o silêncio azul que me faz lembrar que existe poesia mesmo nos dias comuns. Este blog nasce desse encontro: entre a escrita e o céu. Vai ser um espaço para dividir pensamentos, contar histórias, guardar pedaços de mim e talvez, de você também, que me lê agora. Obrigada por estar aqui. Que você se sinta à vontade. Que cada texto seja como uma janela aberta, onde o vento entra leve e, quem sabe, traz um pouco de luz também

Amor sempre....

Amor sempre....
Caminho entre flores. O chão continuará pra nós com outras paisagens. Sou o que sou, porque é tudo que sei ser. E todo meu olhar escrito que você nunca aprendeu a ler, permanecerá no descaso para quem não compreende.

04 agosto, 2025

O que o varal não esconde

Aleatoriamente um toque de poesia



Tem histórias que a gente conta sem querer.
É só olhar pro varal.

O varal da vizinha da casa azul, por exemplo, vive cheio de roupas miúdas cuequinhas coloridas, camisetas com dinossauros, meias que cabem num punhado de vento.
Ali tem infância pendurada.
Tem mãe que lava de madrugada, quando o menino dorme e o mundo silencia.
Tem cuidado escorrendo pelas linhas.

No outro quintal, o varal é sempre discreto. Duas toalhas, um lençol, silêncio.
Mas um dia, tinha um vestido florido balançando como quem dança.
Era vermelho. E novo.
Deu pra imaginar romance  ou esperança.
Desses que a gente não diz, mas seca no sol pra ver se vinga.

Na minha casa, às vezes esqueço a roupa no varal por dois dias.
Vizinhos já devem ter criado teorias:
“Tá viajando.”
“Tá doente.”
“Tá com preguiça.”
Mas na verdade, às vezes, só tô cansada de recolher o dia.
E deixo lá. Porque roupa no varal também é sinal de vida, mesmo se esquecida.

Varal é o diário íntimo que ninguém tranca.
Tem gente que expõe calcinha sem medo.
Outros penduram por baixo da camiseta, como quem disfarça o afeto.
Tem varal que nunca muda de roupa  sinal de que o tempo parou ali.
Tem outro que vive repleto, quase não dá conta da pressa.

E quando chove, o varal vira promessa.
De que amanhã, com sol, tudo vai secar.
De que a vida, ainda que encharcada, há de reencontrar a leveza.

É bonito ver o que o varal não esconde.
Porque, às vezes, as roupas dizem mais do que as pessoas.
E quando o vento passa, é como se ele lesse a vida da gente com os olhos bem atentos
como quem varre um quintal de dentro.




Fernanda!

2 comentários:

  1. Olá, amiga Fernanda, meus parabéns pelo seu magnífico poema.
    Confesso que não me surpreendi ao sabê-la poetisa, mas disso eu já desconfiava, mesmo porque a poesia sempre aparece em algumas partes de suas belas crônicas. Então, por enquanto sei que se trata de uma cronista e poetisa.
    Nos dois gêneros, você escreve com maestria.
    Uma boa semana, amiga Fernanda.
    Um beijo.

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  2. Olá, querida amiga Fernanda!
    Falar de varal de roupa me reporta à época em que tinha uma casa de quintal grande com filhos solteiros e com varais... filha pequena ainda me ajudando a estender.
    Tempo que nunca mais voltará.
    Os varais aqui expostos têm muita coisa, sensualidade, ternura, relax, vontade de limpar a alma, lavar a vida... têm cor e amor ao lar e à família. Sentimentos pertinentes aos que nas casas habitam...
    Creio que todas os lares esperam o mesmo:

    " A vida, ainda que encharcada, há de reencontrar a leveza."

    É o que todos almejamos no fundo.
    Que encontrem seus sonhos de paz muro adentro, que cada roupa pendurada signifique não só uma espera de brisa a secá-las!... Seja um renovar de limpeza interior além da exterior.
    Tenha uma nova semana abençoada!
    Beijinhos fraternos de paz

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depois que a letra nasce
não há silêncio
há um choro que só eu ouço
e um medo que ninguém vê
o medo de mostrar demais
de sangrar diante de estranhos
de ser lida com desdém
ou pior: com pressa
porque parir palavras
é também deixar o peito aberto
num mundo que não sabe lidar
com quem sente fundo
a escrita respira fora de mim
e eu, nua, assisto
alguns dizem que é lindo
outros nem leem até o fim
há quem tente vestir meu poema
com a própria assinatura
como se dor fosse transferível
como se parto tivesse atalho
e é aí que mais dói
quando roubam o nome da minha filha
e fingem que nasceu de outra boca
quando arrancam o umbigo do texto
e dizem: “isso é meu”
não é
eu sei cada madrugada que ela levou
cada perda que empurrou esse verso
cada lágrima que virou frase
não quero aplauso
mas exijo respeito
porque minha escrita
anda no mundo com meu rosto
meus olhos, minha história
e quando alguém a toma como se fosse nada
está me dizendo:
“você também é nada”
mas eu sou tudo
o que ninguém teve coragem de escrever
e continuo parindo
mesmo ferida
porque escrever é a única forma
que conheço de sobreviver
(Fernanda)