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04 agosto, 2025
O que o varal não esconde
10 comentários:
depois que a letra nasce
não há silêncio
há um choro que só eu ouço
e um medo que ninguém vê
o medo de mostrar demais
de sangrar diante de estranhos
de ser lida com desdém
ou pior: com pressa
porque parir palavras
é também deixar o peito aberto
num mundo que não sabe lidar
com quem sente fundo
a escrita respira fora de mim
e eu, nua, assisto
alguns dizem que é lindo
outros nem leem até o fim
há quem tente vestir meu poema
com a própria assinatura
como se dor fosse transferível
como se parto tivesse atalho
e é aí que mais dói
quando roubam o nome da minha filha
e fingem que nasceu de outra boca
quando arrancam o umbigo do texto
e dizem: “isso é meu”
não é
eu sei cada madrugada que ela levou
cada perda que empurrou esse verso
cada lágrima que virou frase
não quero aplauso
mas exijo respeito
porque minha escrita
anda no mundo com meu rosto
meus olhos, minha história
e quando alguém a toma como se fosse nada
está me dizendo:
“você também é nada”
mas eu sou tudo
o que ninguém teve coragem de escrever
e continuo parindo
mesmo ferida
porque escrever é a única forma
que conheço de sobreviver
(Fernanda)
Olá, amiga Fernanda, meus parabéns pelo seu magnífico poema.
ResponderExcluirConfesso que não me surpreendi ao sabê-la poetisa, mas disso eu já desconfiava, mesmo porque a poesia sempre aparece em algumas partes de suas belas crônicas. Então, por enquanto sei que se trata de uma cronista e poetisa.
Nos dois gêneros, você escreve com maestria.
Uma boa semana, amiga Fernanda.
Um beijo.
Querido Pedro,
ExcluirSuas palavras chegaram como um abraço sereno desses que aquecem a alma num fim de tarde silencioso.
Fico sinceramente tocada com seu olhar tão atento e generoso. Você percebeu a poesia escondida nas minhas crônicas antes mesmo que eu me desse conta de que ela estava ali, à espreita, querendo nascer em verso. Receber esse reconhecimento vindo de você, que também caminha com sensibilidade pelas letras, é motivo de alegria e de incentivo. Seguimos, meu amigo, com a pena molhada de afeto, entre crônicas, poemas e esse fio invisível que nos une: o amor pela palavra.
Uma semana iluminada pra você também.
Com carinho,
😘
Olá, querida amiga Fernanda!
ResponderExcluirFalar de varal de roupa me reporta à época em que tinha uma casa de quintal grande com filhos solteiros e com varais... filha pequena ainda me ajudando a estender.
Tempo que nunca mais voltará.
Os varais aqui expostos têm muita coisa, sensualidade, ternura, relax, vontade de limpar a alma, lavar a vida... têm cor e amor ao lar e à família. Sentimentos pertinentes aos que nas casas habitam...
Creio que todas os lares esperam o mesmo:
" A vida, ainda que encharcada, há de reencontrar a leveza."
É o que todos almejamos no fundo.
Que encontrem seus sonhos de paz muro adentro, que cada roupa pendurada signifique não só uma espera de brisa a secá-las!... Seja um renovar de limpeza interior além da exterior.
Tenha uma nova semana abençoada!
Beijinhos fraternos de paz
Querida Roselia,
ExcluirQue encanto ler seu comentário! Suas palavras parecem um varal de sentimentos estendidos ao vento cada frase uma peça delicada, lavada de memórias e ternura.
Fico com a imagem da filha pequena ajudando a estender as roupas… que cena doce! Também vivo isso, e sei o quanto há de amor no gesto simples de dividir um varal, de torcer juntos a roupa e os dias.
Você traduziu com poesia o que eu apenas tentei sugerir: que há vida pendurada ali, sim. Há cansaço e esperança, saudade e ar poético
E que linda a sua prece: que a brisa que seca também limpe por dentro. Que assim seja. Que cada casa receba, mesmo que em silêncio, essa visita suave da leveza.
Uma nova semana cheia de bênçãos e luz pra você também.
Beijinhos com carinho e paz,
😘
Muitas vezes um estendal é um verdadeiro atentado à imaginação humana.
ResponderExcluir.
Saudações poéticas
..
“” Amor e Saudade ““
.
Ricardo,
Excluirtem varal que parece arte contemporânea em crise existencial. A imaginação olha, suspira… e desiste.
🙏🏻
Ótimas observações!
ResponderExcluirOlhar de escritora. Vê o que nem todo mundo vê em coisas que aparentemente não revelam nada.
Dizem que o lixo fala muito sobre uma pessoa. É verdade, mas você está bem certa, o varal, também.
Eduardo, querido,
ExcluirVocê disse lindamente: o varal também fala. Fala baixinho, mas entrega segredos. Ele conta do ritmo da casa, do tamanho das pressas, das cores que moram ali. Obrigada pelo olhar atento olhar de quem também vê além.
Às vezes, é só isso que a escrita exige: um pouco de escuta… até do silêncio dos panos no vento.
Um abraço com gratidão,
😘
Nanda, acho lindo os varais de todos os tipos!
ResponderExcluirSó há um que não suporto ver...Um senhor beeeeeeeeeeem idoso e porco, vai colocar suas roupas num varal onde todos podem vê-lo PELADO.O bundão branco,o retrato da dor!...Te garaaaanto, figura nada agradável aos olhos e pra completar, as roupas ,toalhas de banho, parecem panos de chão!AFFF...
beijos praianos, chica
Ah, Chica…
ExcluirRisos…
Eu também sou dessas que acha o varal um poema ao vento panos que dançam, memórias que secam, intimidades penduradas no fio da vida. Mas confesso: há varais que mais parecem desatino… E o teu “senhor peladão”, com seu bundão branco ao sol, rsrs,
talvez esteja tentando entrar em contato com a natureza de um jeito radical demais!
(ou só esqueceu o que é pudor e bom senso…)
Toalhas em estado terminal, cuecas que já viveram dias melhores, e aquele corpo nu… sendo testemunhado até pelos passarinhos!
É cada cena, minha amiga, que nem a poesia dá conta 😉 mas o riso, ah, esse ainda salva.
Beijo com cheiro de roupa recém-lavada
(e bem dobradinha) aproveita o mar,
😜😘🙏🏻