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Eu amo escrever. Escrevo porque às vezes não cabe tudo aqui dentro. Porque há sentimentos que só se organizam quando viram palavras, e pensamentos que só fazem sentido quando dançam na página. Amo também olhar o céu e talvez isso diga tudo. Há quem olhe o céu para prever o tempo, eu olho para prever a mim mesma. Há algo em observar as nuvens, as estrelas ou o silêncio azul que me faz lembrar que existe poesia mesmo nos dias comuns. Este blog nasce desse encontro: entre a escrita e o céu. Vai ser um espaço para dividir pensamentos, contar histórias, guardar pedaços de mim e talvez, de você também, que me lê agora. Obrigada por estar aqui. Que você se sinta à vontade. Que cada texto seja como uma janela aberta, onde o vento entra leve e, quem sabe, traz um pouco de luz também

✿Amor sempre....

✿Amor sempre....
Caminho entre flores. O chão continuará pra nós com outras paisagens. Sou o que sou, porque é tudo que sei ser. E todo meu olhar escrito que você nunca aprendeu a ler, permanecerá no descaso para quem não compreende.

26 setembro, 2025

Fase

Aleatoriamente um toque de poesia





Clarinha chegou, olhos grandes e curiosos, carregando uma inquietação daquelas que só as crianças sabem colocar em palavras simples: Mãe, eu não entendo por que minhas amigas falam tão mal das suas mães. Eu fico muito triste em ouvir isso…

Sentei-me perto dela, como quem recebe uma confidência preciosa. Havia sinceridade no tom, mas também uma pontinha de surpresa, como se o mundo tivesse mostrado uma face dura demais para a sua delicadeza.

Respondi com calma, escolhendo cada palavra como quem entrega um carinho:

Filha, cada pessoa tem um jeito de lidar com o amor. Às vezes, o coração ainda não aprendeu a agradecer e acaba se escondendo atrás de palavras duras. Mas isso não significa que o amor não esteja lá. Só que nem sempre ele aparece do jeito mais bonito.

Ela ficou pensativa. Então completei:

Você é doce e meiga, Clarinha. Talvez por isso estranhe tanto esse modo de falar. Continue sendo assim filha, porque a doçura é uma força. Não precisa se confundir com a dureza dos outros.

Ela encostou a cabeça no meu ombro e, sem dizer nada, me abraçou. Nesse gesto silencioso, senti que tínhamos feito um pacto: o de manter a ternura viva, mesmo quando o mundo insistir em ser áspero.

Clarinha me olhou séria, franzindo a testa como quem está aprendendo a decifrar o mundo:

Mãe, você sempre me diz para ser verdadeira e amiga com todos. Mas eu acho tão difícil lidar com meninas que parecem drásticas no jeito de agir…

Segurei suas mãos pequenas entre as minhas e sorri, tentando aliviar o peso da dúvida que lhe nascia no peito: Filha, a verdade e a amizade não precisam ser aceitas por todos para serem valiosas. O que importa é que você não perca a sua essência. Se alguém é drástico, você não precisa imitá-lo. Pode apenas ouvir, respeitar, e se proteger sem perder a doçura.

Ela balançou a cabeça, pensativa.

Então eu não preciso gostar do jeito delas? perguntou.

Não, amor. Você só precisa escolher o seu próprio jeito de viver. E, se um dia elas quiserem aprender a ser mais suaves, talvez seja com você que elas descubram esse caminho.

Clarinha sorriu, como quem guarda no coração uma resposta simples, mas definitiva. E, naquele instante, percebi: mais do que ensinar, eu estava aprendendo com ela  porque o mundo visto pelos olhos da minha filha é sempre um chamado para ser melhor.

Clarinha me abraçou de repente, apertando forte, e disse com aquele jeito que desarma qualquer cansaço: Eu te amo tanto, mamãe! Que bom que você é minha mamãe, que bom que temos a nossa família, né?

Meus olhos se encheram de água. Antes que eu respondesse, ela completou com um sorriso travesso:
E quando eu digo que tenho várias avós, minhas amigas se surpreendem. Elas perguntam: “Como assim várias?”. Eu digo: “Ué, eu tenho as de sangue, as de coração e as que a vida me deu”.

Rimos juntas.

Acariciei seus cabelos e falei baixinho:

 Isso é um tesouro, filha. Nem todo mundo entende, mas você já aprendeu que família é muito mais do que laço de sangue. Família é quem cuida, quem ama, quem fica perto mesmo de longe.

Clarinha suspirou feliz, como quem descansa em certeza. E eu pensei comigo: naquele instante, não era eu que a ensinava era ela que me lembrava do milagre de ter raízes e asas ao mesmo tempo.

Obrigada, filha, por ser essa mocinha tão cativante disse, com o coração transbordando.

Ela me olhou, rindo do jeitinho que só ela tem, e falou:

 Ah, mamãe, ser filha da Fernanda, como diz o tio Adriano, é ser demais pra qualquer um!

Dei uma gargalhada longa, daquelas que escapam da alma, e abracei Clarinha com tanto amor que a turminha inteira correu, querendo ganhar abraço também. Cada braço que se estendia parecia multiplicar a alegria e o calor do momento.

Fechei os olhos por um instante e sussurrei:

Obrigada, meu Deus, por tantas bênçãos.

E ali, no riso solto, na bagunça de abraços, na simplicidade de um dia comum, senti que o amor se espalha sem medida. Que não há riqueza maior do que esses instantes de afeto compartilhado, onde a vida se mostra plena e leve.


Fernanda

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depois que a letra nasce
não há silêncio
há um choro que só eu ouço
e um medo que ninguém vê
o medo de mostrar demais
de sangrar diante de estranhos
de ser lida com desdém
ou pior: com pressa
porque parir palavras
é também deixar o peito aberto
num mundo que não sabe lidar
com quem sente fundo
a escrita respira fora de mim
e eu, nua, assisto
alguns dizem que é lindo
outros nem leem até o fim
há quem tente vestir meu poema
com a própria assinatura
como se dor fosse transferível
como se parto tivesse atalho
e é aí que mais dói
quando roubam o nome da minha filha
e fingem que nasceu de outra boca
quando arrancam o umbigo do texto
e dizem: “isso é meu”
não é
eu sei cada madrugada que ela levou
cada perda que empurrou esse verso
cada lágrima que virou frase
não quero aplauso
mas exijo respeito
porque minha escrita
anda no mundo com meu rosto
meus olhos, minha história
e quando alguém a toma como se fosse nada
está me dizendo:
“você também é nada”
mas eu sou tudo
o que ninguém teve coragem de escrever
e continuo parindo
mesmo ferida
porque escrever é a única forma
que conheço de sobreviver
(Fernanda)