Clarinha chegou, olhos grandes e curiosos, carregando uma inquietação daquelas que só as crianças sabem colocar em palavras simples: Mãe, eu não entendo por que minhas amigas falam tão mal das suas mães. Eu fico muito triste em ouvir isso…
Sentei-me perto dela, como quem recebe uma confidência preciosa. Havia sinceridade no tom, mas também uma pontinha de surpresa, como se o mundo tivesse mostrado uma face dura demais para a sua delicadeza.
Respondi com calma, escolhendo cada palavra como quem entrega um carinho:
Filha, cada pessoa tem um jeito de lidar com o amor. Às vezes, o coração ainda não aprendeu a agradecer e acaba se escondendo atrás de palavras duras. Mas isso não significa que o amor não esteja lá. Só que nem sempre ele aparece do jeito mais bonito.
Ela ficou pensativa. Então completei:
Você é doce e meiga, Clarinha. Talvez por isso estranhe tanto esse modo de falar. Continue sendo assim filha, porque a doçura é uma força. Não precisa se confundir com a dureza dos outros.
Ela encostou a cabeça no meu ombro e, sem dizer nada, me abraçou. Nesse gesto silencioso, senti que tínhamos feito um pacto: o de manter a ternura viva, mesmo quando o mundo insistir em ser áspero.
Clarinha me olhou séria, franzindo a testa como quem está aprendendo a decifrar o mundo:
Mãe, você sempre me diz para ser verdadeira e amiga com todos. Mas eu acho tão difícil lidar com meninas que parecem drásticas no jeito de agir…
Segurei suas mãos pequenas entre as minhas e sorri, tentando aliviar o peso da dúvida que lhe nascia no peito: Filha, a verdade e a amizade não precisam ser aceitas por todos para serem valiosas. O que importa é que você não perca a sua essência. Se alguém é drástico, você não precisa imitá-lo. Pode apenas ouvir, respeitar, e se proteger sem perder a doçura.
Ela balançou a cabeça, pensativa.
Então eu não preciso gostar do jeito delas? perguntou.
Não, amor. Você só precisa escolher o seu próprio jeito de viver. E, se um dia elas quiserem aprender a ser mais suaves, talvez seja com você que elas descubram esse caminho.
Clarinha sorriu, como quem guarda no coração uma resposta simples, mas definitiva. E, naquele instante, percebi: mais do que ensinar, eu estava aprendendo com ela porque o mundo visto pelos olhos da minha filha é sempre um chamado para ser melhor.
Clarinha me abraçou de repente, apertando forte, e disse com aquele jeito que desarma qualquer cansaço: Eu te amo tanto, mamãe! Que bom que você é minha mamãe, que bom que temos a nossa família, né?
Meus olhos se encheram de água. Antes que eu respondesse, ela completou com um sorriso travesso:
E quando eu digo que tenho várias avós, minhas amigas se surpreendem. Elas perguntam: “Como assim várias?”. Eu digo: “Ué, eu tenho as de sangue, as de coração e as que a vida me deu”.
Rimos juntas.
Acariciei seus cabelos e falei baixinho:
Isso é um tesouro, filha. Nem todo mundo entende, mas você já aprendeu que família é muito mais do que laço de sangue. Família é quem cuida, quem ama, quem fica perto mesmo de longe.
Clarinha suspirou feliz, como quem descansa em certeza. E eu pensei comigo: naquele instante, não era eu que a ensinava era ela que me lembrava do milagre de ter raízes e asas ao mesmo tempo.
Obrigada, filha, por ser essa mocinha tão cativante disse, com o coração transbordando.
Ela me olhou, rindo do jeitinho que só ela tem, e falou:
Ah, mamãe, ser filha da Fernanda, como diz o tio Adriano, é ser demais pra qualquer um!
Dei uma gargalhada longa, daquelas que escapam da alma, e abracei Clarinha com tanto amor que a turminha inteira correu, querendo ganhar abraço também. Cada braço que se estendia parecia multiplicar a alegria e o calor do momento.
Fechei os olhos por um instante e sussurrei:
Obrigada, meu Deus, por tantas bênçãos.
E ali, no riso solto, na bagunça de abraços, na simplicidade de um dia comum, senti que o amor se espalha sem medida. Que não há riqueza maior do que esses instantes de afeto compartilhado, onde a vida se mostra plena e leve.
Fernanda
Que conversa boa, hein? E essa menina então? Ainda não entende a diversidade de relacionamentos, muitos não tão suaves.
ResponderExcluirFala pra ela que o tio Edu lhe mandou um abraço.
Eduardo! 😄
ExcluirAh, essa menina linda ainda tem muito a aprender sobre os caminhos tortuosos e encantadores dos relacionamentos… Mas vou passar seu abraço, pode deixar!
Obrigada por sempre trazer essa leveza e esse bom humor às nossas conversas.
😘🙏🏻
Bom sábado de Paz, querida amiga Fernanda!
ResponderExcluirCheguei de viagem de outra cidade na Serra capixaba. Fui a um concerto.
Estou ainda extasiada... depois de 3h de viagem.
Para dar soninho, vim ler um tiquinho.
Não sabia que Iria me aguardar um post cheinho de ternura materno/filial...
Sabe o que lhe desejo?
Que Deus cuide da sua menina e que ela continue sua amiga
para sempre!
Lembrei-me da minha filha quando adolescente...
Um diálogo cheio de verdades aprendidas e praticadas.
Filha de peixe, peixinha é.
Sejam ambas felizes e abençoadas!
Beijinhos fraternos
Querida Roselia
ExcluirQue bom receber suas palavras! Fico imaginando você ainda encantada depois de 3h de viagem e de um concerto que deve ter sido maravilhoso. 🎶
Obrigada pelos desejos lindos para minha menina… e que sorte a minha tê-la como amiga! Realmente, momentos assim nos fazem lembrar e valorizar a ternura e a cumplicidade entre mãe e filha.
É bonito também perceber que você se lembrou da sua filha adolescente e como você bem disse, “filha de peixe, peixinha é”! Que essa felicidade e bênção continuem iluminando nossas vidas, sempre.
Beijinhos fraternos com muito carinho! 😘
Nossa MaFe!!! Que postagem linda!
ResponderExcluirDoce, meiga e deliciosa de ler.
Que bom que você está mostrando esse lado da ternura para a Clarinha.
Um dia o mundo vai mostrar seu lado malvado, mas ela vai estar vacinada e vai saber suportar e passar ilesa.
Muito legal, minha amiga.
E esse momennto de pais e filhos, são impagáveis, né?
quando eloes crescem um pouco, a gente sente saudade desse tempo em que eram mais crianças.
Um abraço minha amiga!!
Bom final de semana.
André!
ExcluirQue bom receber suas palavras!
Fico feliz que tenha sentido a doçura e a ternura que tento cultivar com a Clarinha. É exatamente isso: mostrar amor e cuidado agora é preparar o coração dela para enfrentar o mundo com coragem e leveza. E sim, esses momentos com os filhos são impagáveis… depois sentimos saudade, mas também nos alegramos ao ver o crescimento e a autonomia deles.
Obrigada pelo carinho de sempre! Um abraço apertado e uma semana linda pra você!
Querida Fernanda, é tão bonito o que escreveste!... A grandeza da tua alma exprime-se em cada uma das tuas palavras,
ResponderExcluironde tudo é amor, ternura, carinho, júbilo , emoção e uma enorme capacidade de entender o mundo!
Li várias vezes o teu texto e cada vez que lia, senti que a vida pode ser tão maravilhosa quando libertamos o coração para o amor!
Não vou escrever mais... tudo o que escreveste é uma benção de Deus!
Um bom fim de semana para ti.
Albino
ExcluirQue alegria receber suas palavras tão cheias de carinho e sensibilidade!
Fico profundamente tocada ao saber que meu texto conseguiu transmitir um pouco dessa ternura e amor que sinto pela vida. Ler sua mensagem me faz lembrar que, realmente, quando libertamos o coração para o amor, a vida se revela maravilhosa em cada detalhe.
Muito obrigada pelo reconhecimento e pelo afeto que você me envia. Que seu fim de semana seja igualmente abençoado e cheio de luz! 🙏🏻
What a beautiful, tender conversation to read. Your daughter Clarinha has such a gentle heart, and it is so clear how much love and wisdom you are pouring into her.
ResponderExcluirThe way you explained that harsh words don't mean the love isn't there, and that "sweetness is a strength," is just wonderful parenting. And her concept of having "grandmothers by blood, grandmothers by heart, and grandmothers that life gave me"—that is just so pure and profound! What a treasure.
www.melodyjacob.com
Muito obrigada, Melody!
ExcluirSuas palavras aqueceram meu coração.
A Clarinha realmente tem um coração doce, e me sinto muito grata por poder acompanhar e ajudá-la a compreender o amor, a gentileza e as várias formas que a família pode assumir.
Adorei que você percebeu o que ela disse sobre “avós de sangue, avós de coração e avós que a vida me deu” é incrível como as crianças conseguem expressar verdades profundas com tanta pureza.
Obrigada por compartilhar seu carinho; significa muito para mim!😘🙏🏻