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Eu amo escrever. Escrevo porque às vezes não cabe tudo aqui dentro. Porque há sentimentos que só se organizam quando viram palavras, e pensamentos que só fazem sentido quando dançam na página. Amo também olhar o céu e talvez isso diga tudo. Há quem olhe o céu para prever o tempo, eu olho para prever a mim mesma. Há algo em observar as nuvens, as estrelas ou o silêncio azul que me faz lembrar que existe poesia mesmo nos dias comuns. Este blog nasce desse encontro: entre a escrita e o céu. Vai ser um espaço para dividir pensamentos, contar histórias, guardar pedaços de mim e talvez, de você também, que me lê agora. Obrigada por estar aqui. Que você se sinta à vontade. Que cada texto seja como uma janela aberta, onde o vento entra leve e, quem sabe, traz um pouco de luz também

✿Amor sempre....

✿Amor sempre....
Caminho entre flores. O chão continuará pra nós com outras paisagens. Sou o que sou, porque é tudo que sei ser. E todo meu olhar escrito que você nunca aprendeu a ler, permanecerá no descaso para quem não compreende.

28 outubro, 2025

Hamlet e Shakespeare

Aleatoriamente um toque de poesia



Há dias em que me sinto como Hamlet: parada no meio da vida, segurando um crânio, perguntando a mim mesma se ainda faz sentido continuar tentando entender o mundo. “Ser ou não ser”, dizem que é a grande questão. Mas eu acho que, para nós, os vivos de hoje, a dúvida é outra: sentir ou não sentir.

Shakespeare, se vivesse agora, talvez escrevesse um Hamlet com smartphone. Um príncipe da Dinamarca que passa as madrugadas rolando a tela, fingindo indiferença enquanto o coração se esfarela. O pai não seria um fantasma que surge entre as brumas do castelo, seria uma notificação perdida no meio de tantas outras, lembrando que algo essencial foi esquecido.

E eu penso: o que seria de Hamlet se tivesse terapia? Talvez menos drama, menos filosofia, menos tragédia, mas também menos poesia. Porque há um tipo de dor que nos ensina a pensar, e um tipo de solidão que nos obriga a encontrar palavras. Foi essa solidão, talvez, que fez Shakespeare tão humano: ele não escrevia apenas histórias, escrevia as hesitações da alma.

Entre Hamlet e Shakespeare há uma polidez. Um escreveu o outro, mas ambos são feitos da mesma matéria: dúvida, culpa, espanto. Shakespeare criou Hamlet, mas foi Hamlet quem revelou o quanto Shakespeare também era humano. Um homem observando o mundo e perguntando, em silêncio, se ainda há sentido em continuar acreditando na verdade.

Às vezes, quando estou cansada demais para entender o que sinto, gosto de pensar que há um pedacinho de Shakespeare em cada um de nós, esse olhar que insiste em ver poesia até na tragédia. E há também um pedacinho de Hamlet, esse espanto diante da própria consciência, essa vontade de entender o que somos antes que o palco se feche.

No fundo, talvez sejamos todos isso: personagens tentando lembrar quem escreveu nossa história.

Fernanda 

Talvez viver seja isso: representar o papel de Hamlet no palco de Shakespeare, tentando dar sentido ao roteiro enquanto o aplauso ainda não vem.

10 comentários:

  1. É sempre um gosto visitar este blogue. Saio sempre encantado com o que aqui leio.
    .
    Votos de Paz e Amor.
    .
    Poema: “ És a flor mais bonita da natureza “ .
    .

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    1. Querido Ricardo,

      Que alegria ler palavras tão gentis! Comentário cheio de afeto e isso basta para aquecer quem escreve. Saber que você encontra paz e encantamento por aqui é um presente.

      Obrigada 🙏🏻

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  2. Que reflexão!
    Ser ou não ser ou sentir ou não sentir? Ou anestesiar-se ? Ser o quê? Sentir como, de que jeito sobre o quê?
    Ah, fomos jogados nesse palco da vida onde uma peça teatral é encenada durante o tempo que estamos vivos e quase sempre voltamos para a coxia ao final do espetáculo sem sabermos quem somos e o que sentimos.

    Pelo texto, receba meus aplausos.
    E pela vida, receba meu abraço.

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    1. Querido Eduardo,

      Que comentário mais bonito e que reflexão profunda deixaram as suas palavras. Você transforma a leitura em prolongamento da própria reflexão, ampliando o texto com essa pergunta que nunca se esgota: afinal, o que é “ser” num mundo que tanto nos exige máscaras?

      Adorei a imagem do palco e da coxia ela traduz com perfeição a sensação de estarmos sempre atuando, tentando descobrir, entre atos e improvisos, a verdade do que sentimos. Há poesia e filosofia no seu comentário, e também ternura: aplausos e abraços são gestos de quem compreende que o viver é, antes de tudo, partilha.

      Com gratidão e afeto,🙏🏻

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  3. Boa tarde de Paz, querida amiga Fernanda!
    Hoje você me atendeu no pronto socorro.
    Calma!
    Vou explicar...
    O médico bem novo, com seu biotipo, de uma paz maravilhosa, parou o atendimento, me levou a uma pequena cirugia numa uma unha encravada. Anestesias dadas, ele de um trato fino, educado e ético , fez o que precisava.
    Eu só rezava, pois nao tinha o colo do filho que sempre me acompanhava quando morava mais perto.
    A enfermeira fisse ao médico no final do atemdimemto: - Viu? Ainda saiu abençoado. Após eu lhe dizer que Deus o abençoasse.
    Parece que não é comum dizerem assim aos médicos e equipe...

    Bem, vamos aos outros personagens daqui:
    Tragédia não merece vez em nosso coração.
    Sentir está fora de moda...
    Tem uma frase de Shakespeare que gosto que significa "quebrar o gelo".
    Só assim podemos sentir e acabar com as tragédias cotidianas...
    Pessoas inteligentes se questionam ao invés de questionar os outros
    Foi o que você fez aqui.
    Tenha uma tarde de Paz, querida!
    Beijinhos fraternos


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    1. Querida Roselia,

      Que relato mais bonito e humano um encontro de almas em pleno pronto-socorro! ❤️ Enquanto lia, pensei como a vida encontra formas singelas de nos lembrar que o cuidado é também espiritual. O médico, com seu trato delicado, tornou-se instrumento de paz; e você, com sua prece e sua bênção, retribuiu com o gesto mais curativo que existe: a gratidão.

      Gostei demais da sua reflexão final “tragédia não merece vez em nosso coração”. É isso mesmo: sentir, abençoar e agradecer são atos de resistência num mundo apressado.

      Que bom que você está bem, e que sua fé segue firme, iluminando tudo ao redor.
      Beijinhos fraternos e cheios de luz,🙏🏻😘

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  4. *ao invés de questionarem os outros...
    Bjm e 💐

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  5. Fernanda, minha amiga,
    Náo me atrevo a dizer uma palavra sobre o teu belo e eloquente texto. Um texto eu li - não com ligeireza - mas pausadamente, fazendo ao mesmo tempo uma introspecção após breves pausas.
    Cheguei a interrogar-me se haveria algum ponto de contacto entre a medicina e a filosofia. Mas entendi perfeitamente tudo quanto exprimes. Na verdade, todos somos atores ou figurantes no imenso palco da vida, representando de improviso.
    Shakespeare, é um personagem que me fascina. Há muito tempo que não leio nada dele. Mas hoje, peguei num dos seus clássicos e os meus olhos pousaram num soneto que deixo para ti. Espero que gostes.

    Se te comparo a um dia de verão
    És por certo mais belo e mais ameno
    O vento espalha as folhas pelo chão
    E o tempo do verão é bem pequeno.

    Às vezes brilha o Sol em demasia
    Outras vezes desmaia com frieza;
    O que é belo declina num só dia,
    Na terna mutação da natureza.

    Mas em ti o verão será eterno,
    E a beleza que tens não perderás;
    Nem chegarás da morte ao triste inverno:

    Nestas linhas com o tempo crescerás.
    E enquanto nesta terra houver um ser,
    Meus versos vivos te farão viver.

    Fica com o meu abraço, querida amiga.

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    1. Querido Albino,

      Que mensagem mais delicada e cheia de afeto! Senti, em cada linha sua, a contemplação paciente e o cuidado com as palavras, que é tão raro quanto precioso. Adorei a forma como você dialoga com meu texto, fazendo introspecção e trazendo Shakespeare para completar o pensamento um gesto de amizade que é também um presente literário.

      O soneto que compartilhou é encantador: há ternura, consciência do tempo e da efemeridade, mas também uma celebração da beleza que permanece. É impossível não sentir-se tocada por versos tão generosos, que misturam filosofia, sensibilidade e amizade.

      Guardo com carinho suas palavras e devolvo o abraço, cheio de gratidão e afeto.
      🤗

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depois que a letra nasce
não há silêncio
há um choro que só eu ouço
e um medo que ninguém vê
o medo de mostrar demais
de sangrar diante de estranhos
de ser lida com desdém
ou pior: com pressa
porque parir palavras
é também deixar o peito aberto
num mundo que não sabe lidar
com quem sente fundo
a escrita respira fora de mim
e eu, nua, assisto
alguns dizem que é lindo
outros nem leem até o fim
há quem tente vestir meu poema
com a própria assinatura
como se dor fosse transferível
como se parto tivesse atalho
e é aí que mais dói
quando roubam o nome da minha filha
e fingem que nasceu de outra boca
quando arrancam o umbigo do texto
e dizem: “isso é meu”
não é
eu sei cada madrugada que ela levou
cada perda que empurrou esse verso
cada lágrima que virou frase
não quero aplauso
mas exijo respeito
porque minha escrita
anda no mundo com meu rosto
meus olhos, minha história
e quando alguém a toma como se fosse nada
está me dizendo:
“você também é nada”
mas eu sou tudo
o que ninguém teve coragem de escrever
e continuo parindo
mesmo ferida
porque escrever é a única forma
que conheço de sobreviver
(Fernanda)