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Eu amo escrever. Escrevo porque às vezes não cabe tudo aqui dentro. Porque há sentimentos que só se organizam quando viram palavras, e pensamentos que só fazem sentido quando dançam na página. Amo também olhar o céu e talvez isso diga tudo. Há quem olhe o céu para prever o tempo, eu olho para prever a mim mesma. Há algo em observar as nuvens, as estrelas ou o silêncio azul que me faz lembrar que existe poesia mesmo nos dias comuns. Este blog nasce desse encontro: entre a escrita e o céu. Vai ser um espaço para dividir pensamentos, contar histórias, guardar pedaços de mim e talvez, de você também, que me lê agora. Obrigada por estar aqui. Que você se sinta à vontade. Que cada texto seja como uma janela aberta, onde o vento entra leve e, quem sabe, traz um pouco de luz também

✿Amor sempre....

✿Amor sempre....
Caminho entre flores. O chão continuará pra nós com outras paisagens. Sou o que sou, porque é tudo que sei ser. E todo meu olhar escrito que você nunca aprendeu a ler, permanecerá no descaso para quem não compreende.

04 outubro, 2025

Kafka

Aleatoriamente um toque de poesia


Tem dias em que acordo dentro de um livro de Kafka. O despertador toca, mas não é só o som que me incomoda é o absurdo de tudo: o horário, as tarefas, as mensagens que chegam como insetos zunindo na tela. Há algo de profundamente kafkiano na rotina, essa engrenagem que gira sem que a gente entenda direito o motivo.

Kafka, coitado, só queria viver. Mas a vida o transformava em metáfora o tempo todo. O emprego, o pai, os papéis amarelados… e aquele sentimento de ser sempre pequeno demais diante de uma máquina grande demais. Às vezes penso que ele nunca morreu  apenas se espalhou. Está nos e-mails sem resposta, nas filas de espera, nos formulários intermináveis que exigem provar quem somos para ter direito de existir.

A metamorfose dele é a nossa. Acordamos um dia transformados  não em insetos, mas em versões burocráticas de nós mesmos. Vivemos preenchendo lacunas, carimbando sonhos, fingindo que entendemos as regras. E quando finalmente achamos que vamos conseguir explicar tudo, o sistema cai.

Mas Kafka também tinha uma ternura escondida no meio do desespero. Havia nele uma doçura tímida, uma esperança frágil  como quem sabe que a humanidade é uma tragédia, mas ainda assim oferece flores ao carcereiro. É essa delicadeza que o salva, e talvez nos salve também: a de continuar sensível mesmo quando o mundo nos endurece.

No fim das contas, Kafka não escreveu sobre monstros. Escreveu sobre nós tentando, em vão, manter a alma intacta dentro da engrenagem.

Fernanda

Talvez ser humano seja isso: continuar escrevendo cartas de amor mesmo sabendo que o destinatário é o próprio labirinto.

14 comentários:

  1. Bom domingo de Paz, querida amiga Fernanda!
    Estava me despedindo e perdi o longo comentário...

    Somos mais do que um HD atualmente.
    A vida nos impele a uma engrenagem delirante.
    Acordei em meio a madrugada com o canto costumeiro dos pássaros. Daqui a pouco, vou para a Serra.
    Vejo sua foto e a sinto saboreando um momento livre longe dos holofotes...
    Como perder a ternura?
    Vamos seguindo ofertando flores ao carcereiro...
    "A terra é insultada e continua ofeerecendo flores."
    Prefiro o estilo. Kafkaniano, sendo assim...
    Como Santa Teresa ia de claridade em claridade, vamos de ternura em ternura.
    O amor nos impele ao labirinto e, ao mesmo tempo, nos tira dele, sutilmente
    Que post!
    Tenha um domingo abençoado!
    Beijinhos fraternos

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    1. Querida Roselia

      Suas palavras sempre chegam como quem traz um buquê de alma misto de reflexão e afeto. Gostei especialmente. É isso mesmo: a vida tenta nos aprisionar em rotinas, em pressas, em pesos… e a resposta mais sábia é continuar oferecendo beleza, mesmo quando tudo pede o contrário.
      A ternura é, de fato, um ato de resistência. E é bonito pensar, como você disse, que “o amor nos impele ao labirinto e, ao mesmo tempo, nos tira dele”. Que paradoxo lindo e tão humano.

      Desejo também uma semana serena, cheia de claridade, ternura e passarinhos.
      Com carinho e gratidão,🙏🏻

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  2. Muito bom,Nanda! Que em meio ao cáos que vemos no mundo, saibamos conservar em nós a paz interior e a doçura ,leveza para os dias melhores tornar!

    Lindo domindo e nova semana!

    beijos praianos, chica

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    1. Querida Chica,

      Sua palavras chegam leves e doces, exatamente como você descreveu. Lembrando que mesmo em meio ao caos, é possível cultivar paz interior e leveza. É um conforto saber que podemos oferecer isso a nós mesmas e ao mundo, dia após dia. Desejo a você também um domingo sereno e uma semana cheia de momentos suaves, quase como ondas que vêm e vão, mas sempre trazendo frescor. 😘🙏🏻

      Beijos praianos de coração,

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  3. Bom dia, Fernanda.
    O seu despertar como se estivesse aparentemente "dentro de um livro de Kafka" denota em show poético de beleza inenarrável a aflição da alma ante a angústia metafórica da rotina neurastênica, tão povoada de sofreguidão e, ao mesmo tempo. de mistérios e encantamentos.
    É isso, minha querida amiga, fazemos parte do mesmo domínio universal, razão pela qual, devemos procurar sempre a sensatez através da serenidade e da introspecção com fé inabalável no porvir e no exemplo das flores que crescem mesmo entre abrolhos.
    Meu carinho e efusivos aplausos, sempre.

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    1. Querido Rosalino,

      Que comentário mais bonito e também generoso! Suas palavras são um verdadeiro abraço literário, trazendo luz e profundidade ao que tentei expressar. Adorei essa imagem das flores crescendo entre abrolhos é exatamente isso que precisamos cultivar: delicadeza e persistência mesmo em meio às dificuldades.
      Sinto-me grata por partilhar esse olhar poético e reflexivo com você. Que possamos continuar buscando a serenidade e a fé no porvir, sempre atentos aos encantamentos que a vida nos oferece, mesmo nas rotinas mais desafiadoras.

      Com carinho e gratidão,

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  4. Caramba, que texto mais...mais!!
    Acordar num livro de Kafka é a melhor metáfora que li nos últimos tempos. Lembrei-me logo de "O Castelo" e "O Processo". Livros sufocantes, que deixam abismados como a vida muitas vezes te enche de pedras no caminho e te jogam no fundo de uma piscina sem te deixar respirar.
    Mas é bom saber que todo labirinto tem uma saída.

    Um belo domingo pra você.

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    1. Querido Eduardo,

      Fiquei tocada com suas palavras! Adorei como você trouxe O Castelo e O Processo para a reflexão realmente, a vida às vezes nos lança em labirintos sufocantes, cheios de obstáculos inesperados, e é como se nos jogasse numa piscina sem água.
      Mas, como você disse, há sempre uma saída e é nisso que encontro esperança: mesmo nos dias mais desafiadores, há caminhos que nos devolvem fôlego, visão e sentido. Desejo a você também uma semana serena e cheia de pequenas saídas luminosas.

      Com carinho,😘🙏🏻

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  5. Fernanda, querida amiga,
    também adoro ler Kafka!... E simmmm... nos livros de Kafka, a ternura não se vê. Está subtilmente dissimulada entre as frazes mais inconcebíveis!... Mas a ternura está lá, no colo doce e macio das palavras, só visível por quem tem a capacidade de olhar mais além!...
    Eu diria que quem tem a sensibilidade para entender Kafka, é alguém que sabe que tudo na vida se tem de procurar... até a ternura!...

    Estou a escrever e os últimos raios de sol entram pela minha janela. Dentro em pouco, o manto da noite fará brilhar as estrelas na sua luz doce e inspiradora.
    Olho o mar... está a começar o crepúsculo. Belo...muito belo!

    Uma noite linda para ti, Fernanda.

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    1. Querido amigo Albino,

      Que comentário mais delicado e sensível! Muito boa a forma como você descreveu Kafka: a ternura escondida nas entrelinhas, visível apenas para quem sabe olhar além, com paciência e sensibilidade. É exatamente essa percepção que torna a leitura dele tão intensa e transformadora.
      Achei bem poética a imagem do crepúsculo e do mar entrando pela sua janela. Que beleza essa conexão entre a leitura, o mundo e a contemplação.
      Desejo a você uma semana tranquila e iluminada.

      Obrigada!

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  6. Bom, como não li Kafka, não sou capaz de opinar, mas há muita coisa nos livros, que remetem a um olhar precioso do ser humano, sobre suas qualidades e, principalmente, os defeitos. Existem obras que conseguem transmitir a condição humana de maneira interessante.

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    1. Fabiano,

      Adorei seu comentário! Mesmo sem ter lido Kafka, você captou algo essencial: a literatura tem esse poder de refletir nossas qualidades e defeitos, mostrando a complexidade do ser humano de maneiras inesperadas. É incrível como certas obras conseguem nos provocar essa percepção, mesmo que de forma sutil ou metafórica.
      Agradeço muito sua leitura e reflexão é sempre bom ver como textos podem tocar cada pessoa de um jeito único, mesmo que ainda não se conheça toda a obra.

      Com carinho, 🙏🏻

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  7. Sim, a nossa vida muitas vezes parece ter saído de um livro de Kafka. Este mundo em caos roubou-nos a serenidade, embora, por um impulso quase hereditário, seguimos os sonhos em que nos procuramos com o perigo a espreitar a nossa sombra. Confesso que não gosto muito de ler Kafka. Reconheço-lhe todo o valor literário, mas em todos os livros que li o Homem sai sempre numa espécie de derrota que me sufoca. É sempre um prazer enorme ler o que escreve, minha Amiga Fernanda.
    Uma boa semana.
    Um beijo.

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    1. Querida Graça,

      Que comentário sensível! Adorei a forma como você descreveu a vida como saída de um livro de Kafka tão caótica, tão desafiadora, mas ainda assim marcada pelo impulso de seguir sonhos, mesmo com sombras à espreita.
      Entendo perfeitamente sua percepção sobre os livros dele. Kafka realmente nos confronta com situações desconcertantes e finais que nos deixam um nó na garganta. Mas é justamente essa intensidade que nos faz refletir sobre a condição humana, sobre nossas derrotas e resistências.
      Fico feliz que tenha gostado do meu texto. Que sua semana seja serena, mesmo em meio ao caos do mundo, e cheia de pequenas descobertas de luz e ternura.

      Um beijo carinhoso,😘🙏🏻

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depois que a letra nasce
não há silêncio
há um choro que só eu ouço
e um medo que ninguém vê
o medo de mostrar demais
de sangrar diante de estranhos
de ser lida com desdém
ou pior: com pressa
porque parir palavras
é também deixar o peito aberto
num mundo que não sabe lidar
com quem sente fundo
a escrita respira fora de mim
e eu, nua, assisto
alguns dizem que é lindo
outros nem leem até o fim
há quem tente vestir meu poema
com a própria assinatura
como se dor fosse transferível
como se parto tivesse atalho
e é aí que mais dói
quando roubam o nome da minha filha
e fingem que nasceu de outra boca
quando arrancam o umbigo do texto
e dizem: “isso é meu”
não é
eu sei cada madrugada que ela levou
cada perda que empurrou esse verso
cada lágrima que virou frase
não quero aplauso
mas exijo respeito
porque minha escrita
anda no mundo com meu rosto
meus olhos, minha história
e quando alguém a toma como se fosse nada
está me dizendo:
“você também é nada”
mas eu sou tudo
o que ninguém teve coragem de escrever
e continuo parindo
mesmo ferida
porque escrever é a única forma
que conheço de sobreviver
(Fernanda)