✿Aguarde os próximos capítulos...✿

Eu amo escrever. Escrevo porque às vezes não cabe tudo aqui dentro. Porque há sentimentos que só se organizam quando viram palavras, e pensamentos que só fazem sentido quando dançam na página. Amo também olhar o céu e talvez isso diga tudo. Há quem olhe o céu para prever o tempo, eu olho para prever a mim mesma. Há algo em observar as nuvens, as estrelas ou o silêncio azul que me faz lembrar que existe poesia mesmo nos dias comuns. Este blog nasce desse encontro: entre a escrita e o céu. Vai ser um espaço para dividir pensamentos, contar histórias, guardar pedaços de mim e talvez, de você também, que me lê agora. Obrigada por estar aqui. Que você se sinta à vontade. Que cada texto seja como uma janela aberta, onde o vento entra leve e, quem sabe, traz um pouco de luz também

✿Amor sempre....

✿Amor sempre....
Caminho entre flores. O chão continuará pra nós com outras paisagens. Sou o que sou, porque é tudo que sei ser. E todo meu olhar escrito que você nunca aprendeu a ler, permanecerá no descaso para quem não compreende.

09 novembro, 2025

Manoel de Barros.

Aleatoriamente um toque de poesia
Meu quintal é maior que o mundo, de Manoel de Barros. 




Senti como se estivesse caminhando dentro das palavras e cada uma delas fosse uma pedra molhada, um passarinho distraído, um pedaço de infância que o tempo esqueceu de levar.
Manoel não escreve: ele planta. Suas frases brotam do chão, cheiram a rio, têm ferrugem e formiga, falam com o inútil como se o inútil fosse o centro da vida. E é mesmo.

Enquanto lia, fui diminuindo. Fui virando miudeza, musgo, silêncio de lagarto.
Ele me ensinou que há grandeza nas coisas pequenas, e que o verbo mais bonito talvez seja “ser pequeno”. No meio da leitura, lembrei do meu quintal da infância das tardes em que eu acreditava que o mundo cabia dentro de uma latinha de goiabada cheia de tesouros.
Acho que Manoel me devolveu essa latinha.

Quando fechei o livro, o quintal ainda estava ali dentro de mim, crescendo.
E descobri que, afinal, o meu também é maior que o mundo.

Então continuei olhando para o nada que, depois de Manoel, já não era mais nada. Era um formigueiro de sentidos, um abrigo de palavras pequenas tentando nascer. Percebi que a vida é mais feita de chão do que de céu. E que os versos dele não são para entender: são para encostar o ouvido e ouvir o rumor do mundo se refazendo dentro da gente.

Fiquei com vontade de escrever também, mas as palavras pareciam tímidas, como passarinhos que só pousam quando a gente se cala. Então calei. E nesse silêncio, Manoel continuou me falando. Disse que o tempo não é relógio, é rio. Que o amor é bicho que mora em folha. Que quem aprende a ver o inútil descobre o essencial.

Guardei o livro na estante, mas uma parte dele ficou em mim um pedacinho de terra fértil, onde talvez nasçam palavras novas.
E se um dia eu duvidar do tamanho do mundo, é só abrir de novo o livro e lembrar: há infinitos escondidos no quintal.

E daí lendo Manoel de Barros, lembrei de uma querida que o citou aqui no comentário, no meu texto de Guimarães e eu: Maria Luiza. 


Obrigada 🙏🏻 
Fernanda

24 comentários:

  1. Manoel de Barros é uma leitura que nos encanta sempre! Vale entrar nos seus jardins e ali ficar.... Adorei o post! beijos, linda semana, chica

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Querida Chica,

      que lindo ver teu brilho por Manoel de Barros, ele realmente tem jardins onde a gente entra e nunca mais sai do encantamento.
      Concordo: ler Manoel é aprender a ver o pequeno como se fosse sagrado, a encontrar poesia nas coisas mais simples. Fico feliz que tenhas gostado. Beijos e uma semana cheia de descobertas poéticas.

      🙏🏻😘

      Excluir
  2. Ler é como uma viajem no tempo..Quase sempre transforma algo em nós. Gosto de ler. Parabéns pela postagem. Abraços. Um bom dia e uma semana reparadora

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Nal,

      que lindo ver teu gosto pela leitura é mesmo uma viagem que transforma por dentro. Obrigada pelo carinho e pelos desejos bons; retribuo com um abraço e votos de um dia sereno e de uma semana reparadora.

      Com carinho,🙏🏻

      Excluir
  3. Bom dia Fernanda! Senti o mesmo quando pela primeira vez li Manoel de Barros. A despalavra por ele usada foi para mim uma enorme surpresa e também me senti muito pequena a caminhar dentro das palavras que eu escrevia e que nada eram ao lado das dele. Ele também ficou para sempre na minha memória a lembrar-me a inutilidade de tantas coisas a que dava valor. Foi tão bom encontrá-lo aqui e ler o que escreveu sobre ele. Obrigada.
    Uma boa semana.
    Um beijo.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Graça,

      que bonito o teu testemunho é exatamente isso: a despalavra de Manoel desnuda o que julgávamos importante e nos deixa leves, pequenos e agradecidos. Também me senti assim na primeira leitura aquela humildade doce diante de alguém que transforma o banal em sagrado. Fico feliz que o texto tenha te encontrado desse jeito.

      Obrigada por partilhares. Boa semana e um beijo,😘🙏🏻

      Excluir
  4. Perfeito seu comentário sobre a poesia de Manuel de Barros. E veja que ele tem "barro", terra, chão, até no nome.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Eduardo,

      adorei tua observação o próprio nome já é mapa: barro, terra, chão.
      Em Manoel/Manoel de Barros o vocabulário parece amassar a linguagem até virar criatura viva; tudo brota do chão, humilde e enorme ao mesmo tempo.
      É como se lêssemos não só palavras, mas pegadas.

      Com carinho,🙏🏻

      Excluir
  5. Não gosto de poesias. Ou não entendo de poesias.
    Morei em Cuiabá quando Manuel de Barros morava lá.
    O que gosto são de pedaços de poesias, talvez.
    Beijo,

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Liliane,

      Não Nao gostar de poesia também é forma de gosto, e não entender é só um convite para olhar de outro jeito. Morar em Cuiabá enquanto Manoel por lá andava é um laço especial: às vezes a cidade guarda ecos do poeta e isso basta para que alguns versos apareçam como pedaços de casa. Gostar de “pedaços” é perfeito fragmentos chegam mais fáceis ao coração.

      Beijo,😘🙏🏻

      Excluir
  6. Boa tarde de Paz, querida amiga Fernanda!
    Adorei o parágrafo:
    "Guardei o livro na estante, mas uma parte dele ficou em mim um pedacinho de terra fértil, onde talvez nasçam palavras novas."
    Somos muito dos livros que lemos e nem percebemos, muitas vezes.
    Também escrevemos com resquícios do que já lemos, certamente.
    Quanto mais lemos, se saboreamos, mais a Inspiração nos abraça.
    Adoro a simplicidade de Manoel de Barros.
    Sua leveza é fascinante.
    Tenha uma nova semana abençoada!
    Beijinhos fraternos

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Querida Roselia,

      que lindo olhar, guardamos mesmo pedaços dos livros como sementes; eles ficam ali, discretos, prontos para brotar em palavras nossas.
      Concordo: quanto mais saboreamos a leitura, mais a inspiração nos envolve; a leveza de Manoel é esse abraço silencioso que nos permite nascer outra vez em cada frase. Uma semana abençoada para ti também.

      Beijinhos,😘 🙏🏻

      Excluir
  7. Bonito texto.
    Ler transforma-nos. E também transforma o que vemos à nossa volta. Cultiva-nos e faz crescer em nós novas vontades e à nossa volta novas paisagens. E quando lemos autores de excelência como é o caso de Manuel de Barros enriquecemos.
    Um abraço e boa semana.
    https://rabiscosdestorias.blogspot.com

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Correia,

      obrigada por esse olhar tão claro lendo-te, sinto essa mesma certeza: a leitura nos cultiva, muda nosso olhar e redesenha a paisagem à volta.
      Manoel de Barros tem esse poder de semear novas vontades na gente; com ele, o mundo cresce por dentro.

      Abraço,🙏🏻

      Excluir
  8. Fernanda, querida, eu tenho essa Antologia, estou
    com ela aqui na frente do pc!
    "Como diz a capa posterior, é um dos poetas mais originais do nosso tempo. Sua obra inaugura um estilo
    único, que transforma a natureza, os objetos e a própria condição humana em expressões poéticas carregadas de
    significado e emoção.
    Essa antologia inédita reúne poemas de todas as fases do escritor, oferecendo um panorama abrangente de sua produção literária."
    Você escreveu muito mais do que isso, escreveu um texto
    poético lindo, cheio de emoção e sensibilidade que estamos
    acostumados aqui nesse cantinho do amor, do carinho e da generosidade para com teus leitores.
    Lindo demais!
    Querida, deixo meus votos de uma feliz semana, e com muitos
    textos que fazem desse cantinho, um lugar muito especial!
    Amo ler você!
    Beijinhos, meu carinho 🙋‍♀️🌹❤️

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Taís,

      que alegria ler teu comentário obrigada por tanto carinho.
      Fico emocionada em saber que tens a antologia ali, perto do PC; ter leitoras que seguram o livro e o coração ao mesmo tempo é tudo para quem escreve né?
      Tuas palavras sobre este cantinho 😊 amor, generosidade, sensibilidade enchem-me de gratidão 🙏🏻e vontade de continuar trazendo textos que nos abracem.🤗
      Uma semana feliz para ti, repleta de leituras boas e momentos ternos.

      😘Beijinhos,

      Excluir
  9. No primeiro contato com este livro, viajei pela minha infancia num cantinho das Minas Gerais, eu era menino do mato e a leitura me proporcionou a viagem de retorno. Falei com meus bichos, meus medos e meus encantos com os passarinhos e bichinhos da terra e das aguas cristalinas nascida das pedras do lugar.
    MUito bom ter Manoel nos olhos e coração Fernandinha.
    Carinho no abraço amiga.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Toninho,

      que comentário mais lindo!
      Fiquei encantada com a forma como você descreveu essa viagem de volta à infância é exatamente isso que a boa leitura faz: abre a memória, devolve o cheiro da terra molhada, o canto dos passarinhos e aquele encanto simples que o tempo não apaga.
      Manoel tem esse dom de despertar o menino do mato que ainda vive em nós, e é uma alegria saber que o texto te levou de volta a esse lugar tão seu.
      Obrigada pelo carinho das suas palavras e por esse abraço que chega cheio de lembranças boas. Que nunca nos falte esse olhar que escuta a natureza e conversa com a alma.
      🙏🏻🤗

      Excluir
  10. Quem sabe, Nanda? Talvez Manoel nos faça recrear, de nos fazer criança ou de refazer ou reinventar a vida como fazem as crianças. Repetir os gestos, falar sozinho. Falar com seus brinquedos, falar com o vento. "Montar no cavalo do vento. Imaginar as crinas soltas do vento..." Manoel de Barros nos ensina a mergulhar nos liames das palavras e das imaginações, Ah, das imaginações. A nada e a tudo sempre em busca de um ancoradouro seguro. "Vô! o livro está de cabeça para baixo. Estou deslendo". Minha filha sempre gostou das despalavras sem nunca ter lido Manoel de Barros, pois. intuitivamente, ela sabia que brincar com as palavras como Manoel de Barros é lidar com os vezos e avessos da captura dos instantes.
    Abraço afetuoso, Nanda!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Eros,

      que delícia ler suas palavras! Você captou com tanta sensibilidade o espírito de Manoel esse convite a reaprender o mundo pelos olhos da infância, a brincar com o vento, a conversar com o que não tem forma.
      Gosto muito dessa ideia de recriar-se, de “desler” a vida, como sua filha tão lindamente intuiu. Talvez seja isso que Manoel nos ensina: a voltar a ser começo, a deixar que o espanto volte a morar em nós. A poesia dele não fala sobre coisas ela acende coisas dentro da gente.
      Obrigada por esse comentário tão cheio de leveza. Suas palavras também brincam, dançam, e nos fazem lembrar que a infância nunca termina apenas muda de casa
      🙏🏻😘

      Excluir
  11. Olá, amiga Fernanda, depois que a Taís me falou sobre essa sua postagem, sobre Manoel de Barros, assaltou-me a curiosidade.
    Ele sempre foi um de meus poetas favoritos, ao lado de tantos outros poetas brasileiros, como Manuel Bandeira, Drummond, Jorge de Lima, Cassiano Ricardo, Mário Quintana, Jorge de Lima, Murilo Mendes e tantos outros.
    Manoel de Barros deixou uma obra poética, como você sabe, que o coloca no mesmo patamar desses poetas que acabo de citar, com a sua poesia voltada para a terra onde vivia dando importância para os pequenos seres, que viviam nas matas, no capim como besouros e outros
    bichinhos, que pareciam grandes para o poeta.
    Daí, Fernanda, ter gostado muito desta postagem falando de um poeta tão importante para o Brasil.
    Uma excelente semana, amiga.
    Meu abraço daqui do Sul.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Pedro,

      que alegria receber suas palavras tão gentis! 🙏🏻
      Fico feliz em saber que Manoel também habita o seu coração poético. Ele tem esse dom raro de transformar o ínfimo em infinito de dar grandeza às miudezas, como quem devolve alma às coisas simples. Concordo com você: Manoel de Barros está, sim, entre os grandes não por querer ser grande, mas justamente por ter olhado para o pequeno com reverência. Sua poesia tem cheiro de terra molhada, de infância e de silêncio bom.
      Obrigada por partilhar esse olhar tão sensível e por se aproximar com tanto carinho. Receba meu abraço cheio de gratidão e ternura, daqui também, com o mesmo vento que sopra poesia.

      🙏🏻

      Excluir
  12. Acabei de suspirar, Fernanda, após ler-te, Escreves com fascínio porque és uma fascinação, assim como a Elis Regina canta e crês e tens a fé como Adélia Prado, que disse num texto apaixonante que postei pela qualidade de crença dela sobre sentir e crer que ainda existe "um grão de salvação nas coisas desse mundo" . Manoel de Barros está aqui e eu o leio de pouquinho em pouquinho, tal a minha emoção. Já leste Rubem Alves, em "PERGUNTARAM-ME SE ACREDITO EM DEUS" É de tirar o fôlego. Preciso pedir á neta colocar seu blog na barra urgente, pois só o encontro lá no amigo Toninho Dias alegres!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Querida Maria Luiza,

      que comentário tão cheio de carinho🥰 Há nele uma delicadeza rara, esse modo de costurar arte, fé e emoção como quem borda à mão um tecido sagrado.

      Tuas referências a Elis, Adélia e Manoel de Barros formam um pequeno altar poético, onde cada nome é uma vela acesa.

      E, no centro, brilha a tua sensibilidade, que percebe nos textos, nas músicas e nas orações esse “grão de salvação” de que falava Adélia.

      A forma como falas de Rubem Alves é puro encantamento ele mesmo ficaria feliz em saber que suas palavras ainda tiram o fôlego de quem lê com o coração.

      Sim, já li Rubens! Rubem… com essa ternura sábia que fala mais ao coração do que à razão.
      Enquanto tantos tentam explicar Deus, ele o reencontra no simples no cheiro da terra molhada, no silêncio que consola, no amor que se dá sem alarde.

      Lendo esse texto, percebo que a fé não é um discurso, mas um estado de alma. Acredito, como ele, que Deus mora nos detalhes, nas entrelinhas, no instante em que o olhar se detém e o coração se aquieta. E talvez seja isso mesmo o milagre: ver Deus sem precisar provar que Ele existe.

      Teu olhar generoso me comove e me confirma o que tanto acredito: há pessoas que leem com a essência, e tu és uma delas.🥰😘🙏🏻

      Excluir

depois que a letra nasce
não há silêncio
há um choro que só eu ouço
e um medo que ninguém vê
o medo de mostrar demais
de sangrar diante de estranhos
de ser lida com desdém
ou pior: com pressa
porque parir palavras
é também deixar o peito aberto
num mundo que não sabe lidar
com quem sente fundo
a escrita respira fora de mim
e eu, nua, assisto
alguns dizem que é lindo
outros nem leem até o fim
há quem tente vestir meu poema
com a própria assinatura
como se dor fosse transferível
como se parto tivesse atalho
e é aí que mais dói
quando roubam o nome da minha filha
e fingem que nasceu de outra boca
quando arrancam o umbigo do texto
e dizem: “isso é meu”
não é
eu sei cada madrugada que ela levou
cada perda que empurrou esse verso
cada lágrima que virou frase
não quero aplauso
mas exijo respeito
porque minha escrita
anda no mundo com meu rosto
meus olhos, minha história
e quando alguém a toma como se fosse nada
está me dizendo:
“você também é nada”
mas eu sou tudo
o que ninguém teve coragem de escrever
e continuo parindo
mesmo ferida
porque escrever é a única forma
que conheço de sobreviver
(Fernanda)