Tentando chegar em casa, o trânsito está caótico e eu exausta. Muitas vezes sinto que o cansaço não chega de repente ele fica à espreita, paciente, esperando um descuido da alma. E eu refletindo, parada no engarrafamento, com o corpo cansado e a cabeça cheia.
Tenho estado tão ocupada nesses últimos dias. Tantos atendimentos na clínica, idas aos prontos atendimentos dos bairros, histórias que a gente acolhe e leva junto mesmo sem querer. Cuida de um, escuta outro, sustenta dores que não são só nossas. No fim do dia, o silêncio pesa.
Sinto falta de escrever poemas. Falta mesmo!Talvez a poesia tire um pouco do cansaço diário, talvez ela seja esse descanso que não cabe em horas de sono. Escrever também cura ainda que ninguém chame de atendimento.
Por hora, só penso numa chuveirada quente e no meu pijama de bolinha. Pijamas não são só pijamas, são um estado de espírito. Quando visto um, estou dizendo ao mundo que sobrevivi ao dia. O de bolinhas me espera como um abraço mudo, sem perguntas, sem exigências. Ele entende.
Enquanto o trânsito não anda, observo. Um motoqueiro atravessa entre os carros como um louco, numa negligência sem medida. Parece até que a vida, para alguns, é brincadeira como se houvesse sempre outra chance, outro recomeçar automático.
Penso em escrever ali mesmo, no meio do barulho mas o cansaço pede pausa. Talvez a poesia não precise de tempo livre, só de honestidade. Até o trânsito vira crônica quando a gente não desiste de sentir.
Chegar em casa é ritual: jogar a bolsa num canto, tirar o sapato sem culpa, prender o cabelo de qualquer jeito, beijar os meninos, a família. Então a chuveirada, a água levando embora o excesso do dia. E finalmente o pijama. Uniforme da rendição digna.
Talvez eu não esteja escrevendo poemas, mas continuo vivendo poesia. No cansaço, no trânsito, no cuidado com o outro, no simples desejo de descansar. Até o pijama vira personagem principal.
E ali, cansada e inteira, percebo: escrever às vezes é só isso não ir dormir sem antes se reconhecer viva.
E fico ali, já de pijama, sentada na beira da cama, como quem estaciona o corpo depois de um longo percurso. O silêncio da casa não é vazio, é respeitoso. Ele me olha e diz: agora pode descansar.
Penso que talvez eu não tenha parado de escrever só mudei o lugar. Tenho escrito nas pessoas que escuto, nos corredores apressados, nos bairros distantes, nas pausas entre um atendimento e outro. Tenho escrito no cansaço acumulado e nessa vontade quase infantil de sumir dentro de um pijama confortável.
O pijama de bolinha testemunha tudo. Ele sabe das minhas hesitações, das frases que não anotei, dos poemas que ficaram só pensados. Ele não exige produtividade, só presença.
E enquanto a noite avança, percebo que a poesia não me abandonou. Ela apenas aprendeu a esperar. Espera eu desligar o mundo, tirar as camadas do dia, baixar a guarda. Espera eu lembrar que também sou alguém que merece colo.
Amanhã talvez eu volte a escrever versos. Ou talvez não. Mas hoje escrevi sobrevivendo e isso também é literatura.
Apago a luz com uma sensação suave de pertencimento. Não ao dia que passou, mas a mim mesma. E isso, penso antes de dormir, já é muito.
Obrigada papai do alto🥰
Fernanda
Oi, Fernanda! Bom dia! A vida moderna, com sua incessante agitação, se assemelha a um intricado labirinto, não é mesmo? Essa pressa se torna ainda mais palpável na esfera de sua profissão, onde os plantões se acumulam, como estrelas em um firmamento denso. Os engarrafamentos, por sua vez, são um verdadeiro fardo, especialmente nesta época festiva do Natal, quando parece que toda a humanidade decide aventurar-se ao mundo exterior, em busca de presentes e outras trivialidades que a agitação de dezembro traz consigo. Eu concordo com sua perspectiva sobre a escrita como um bálsamo para a alma. Embora nem todos os dias me encontre disposto ou emocionalmente preparado para transcrever meus pensamentos, frequentemente me vejo imerso na prática, quase diariamente. O ato de tomar um banho após um dia de árdua labuta se revela como uma purificação do corpo e da mente, não concorda? Que você desfrute de um merecido descanso, repleto de tranquilidade e renovação minha amiga. Abraço!
ResponderExcluirA poesia está sempre em ti que a sabe encontrar em tudo do teu dia.Até nos engarrafamentos e cansaços. E nada melhor do que um pijaminha! Adoro e eles,com bolinha, liso ou com flores sabem ser bons e aconchegantes.
ResponderExcluirLindo dia! beijos, tudo de bom,chica
Bom dia bem descansado, querida amiga Fernanda!
ResponderExcluirEspero que tenha desfrutado do pajama de bolinhas...
Eu aproveitei o meu rosinha.
Acordar bem disposta depois de descansar bem é salutar.
Tão cheio de beleza, sentimentos, seu texto.
Na realidade, há tantas formas de escrever depois que você leu o qie viveu...
Quem repara bem (contempla) além do próprio umbigo... tem muito a escrever....näo só em palavras, literalmente falando, mas no coração.
Dezembro é denso, ainda mais para quem está na ativa.
Se até eu, já aposentada, estou repleta deles, quanto mais você.
O bom é que você prepara seu futuro...
Eu vivo já minhas conquistas..
Há pouco, apaguei a luz que deixo acesa noutro cômodo...
Acendeu o sol o dia por aqui..
Tenha sido assim luminoso seu amanhecer!
Beijinhos fraternos
A escrita é um pequeno barco para grandes mares ou grandes aventuras, por isso haveremos de persegui-la para a realização de grandes sonhos. Mas a pergunta que não quer calar de uma uma curiosidade imensa: seu pijama é na cor amarela com bolinhas da mesma cor?
ResponderExcluirE vamos sondando os horizontes sem nos deixar abater pelo cansaço, amiga, em um pequeno barco, neste imenso mar povoado de sombras, sobretudo nesta quadra do ano.
Abraços, querida amiga,
José Carlos
Fernanda, minha querida amiga, os dias passam numa teia fatigada, que nos envolve e nos deixa completamente presos ao desenvolvimento das terefas que nos ocupam todo o tempo, numa correria louca que nos retira toda a tranquilidade que precisamos. Somos completamento dominados pela sucessão de acontecimentos que não podemos evitar.
ResponderExcluirEu sei bem como são esses dias, onde até mal temos tempo para para tomar um simples café.
Mas disseste uma coisa que eu não vou esquecer. Aliás, já te falei nisso. A Poesia!
Smmm!... A Poesia nos leva para uma zona de conforto, onde repousamos das terefas para nos concentrarmos em nós. Apenas em nós. Entramos num outro espaço onde vertemos todas as nossas emoções em fprma de poema... e isso nos acalma, nos conforta, nos dá energia e confiança e nos faz encarar o mundo de uma outra forma. E tu... tens inegavelmente a poesia dentro de ti, ansiosa por explodir! Eu noto isso em cada texto teu, que leio como quem está a ler um poema... sentindo as palavras tocarem na pele, uma vezes profundamente, outras com a leveza de quem sabe que tudo na vida deve ser feito com a suavidade da brisa, quando passa por nós e nos deixa aquela sensação de uma carícia...
Escreve Fernanda! Liberta a Poesia que tens dentro da alma. A Poesia existe para ser livre, sem amarras, e gritar ao mundo tudo o que a alma sente!
Vou ficar à espera!
Grato pelas maravilhosas palavras que me deixaste.
Com todo o meu carinho,
albino.
Que belo texto. Um retrato fiel da realidade cada vez mais cruel de usma simples rotina que, aqui, merece cuidados. Engarrafamentos causam desconfianças, apavoramentos, pois não se sabe quando homens em suas motos apenas querem compartilhar o espaço, pois também estão indo a algum lugar, ou se estão se aproximando para roubar.
ResponderExcluirSeu texto é, sim, pura literatura autobiográfica que, aogra, também tem um quê poético, pois há o sentimento em torno do serviço, do cansaço satisfatório, da alegria de chegar em casa e do que diz o silêncio que lhe é a companhia tranquilizadora no momento, ele que lhe vê pronta de pijamas, querendo dizer que está indo para a cama. Mas ele ainda lhe oferece momentos bons que se pode aproveitar antes de fechar os olhos.
Desculpe a ausência. É inevitável.
Mas é bom poder vir e ler com gosto o que escreve.
Eu adoro voltar para minha casa e encontra-la limpa e cheirosa. Mas eu gosto de sair, mesmo que agora, sair seja tão perigoso.
ResponderExcluirBeijo,