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Eu amo escrever. Escrevo porque às vezes não cabe tudo aqui dentro. Porque há sentimentos que só se organizam quando viram palavras, e pensamentos que só fazem sentido quando dançam na página. Amo também olhar o céu e talvez isso diga tudo. Há quem olhe o céu para prever o tempo, eu olho para prever a mim mesma. Há algo em observar as nuvens, as estrelas ou o silêncio azul que me faz lembrar que existe poesia mesmo nos dias comuns. Este blog nasce desse encontro: entre a escrita e o céu. Vai ser um espaço para dividir pensamentos, contar histórias, guardar pedaços de mim e talvez, de você também, que me lê agora. Obrigada por estar aqui. Que você se sinta à vontade. Que cada texto seja como uma janela aberta, onde o vento entra leve e, quem sabe, traz um pouco de luz também

Amor sempre....

Amor sempre....
Caminho entre flores. O chão continuará pra nós com outras paisagens. Sou o que sou, porque é tudo que sei ser. E todo meu olhar escrito que você nunca aprendeu a ler, permanecerá no descaso para quem não compreende.

17 abril, 2025

Asas em Silêncio — Parte VI

Aleatoriamente um toque de poesia







A Semente da Aurora

O outono chegou silencioso, tingindo as ruas de dourado. As folhas caiam como suspiros antigos, e Helena caminhava entre elas com passos leves. Ela já não carregava as dúvidas de antes, mas uma nova inquietação brotava dentro dela: não era mais sobre encontrar ou pertencer. Era sobre construir.

Na escola, começou a notar algo curioso. Os alunos estavam mais atentos, mais abertos. Começaram a escrever com mais profundidade, a fazer perguntas que iam além da matéria. Um deles, certo dia, a chamou de “guardadora de coisas invisíveis”. Ela riu, mas por dentro… compreendeu.

Seu poder não vinha de gestos grandiosos, mas de presença. De ver o que ninguém via, de acolher o que era esquecido. Mas agora, sentia que podia ir além do olhar e da escuta. Podia plantar.

Começou com uma ideia pequena: criar um espaço na escola onde os alunos pudessem apenas… existir. Um lugar de silêncio, arte, conversa e cura. Chamaram de Sala Aurora. Porque, dizia ela, a aurora é o instante em que a noite se dissolve sem violência. Um recomeço calmo.

A sala virou um refúgio. Tinha livros sem nota, tintas sem regra, poemas sem autor. Alguns alunos apenas se sentavam ali para respirar. Outros escreviam bilhetes para si mesmos no futuro. Um garoto colava folhas de árvore em cadernos e as chamava de “orações da terra”.

Helena sabia: aquilo era mais do que um espaço. Era um campo de luz. Um espelho da alma. E não era mais sobre ela — era sobre todos.

Fora da escola, as coisas também começaram a se alinhar. Samuel, inspirado por ela, passou a ensinar fotografia para jovens da comunidade. Capturar a luz do mundo, dizia ele, era uma forma de revelar o invisível. Helena via nele um espelho delicado: alguém que não lembrava de suas asas, mas que voava mesmo assim.

Certa noite, depois de um encontro na Sala Aurora, Helena ficou sozinha ali. As luzes estavam apagadas, só o luar entrava pela janela. Sentou-se no chão, entre papéis, pincéis, desenhos, livros e pequenos sonhos deixados pelos alunos.

Fechou os olhos.

E então sentiu.

Não era uma lembrança. Não era um sonho. Era uma presença.

Uma luz suave envolveu o espaço, e ela soube: não estava sozinha. Era como se todos os pedaços dela — os que viveram, os que amaram, os que falharam, os que esperaram — tivessem voltado.

E no centro de tudo, ali, havia algo ainda mais antigo: o propósito.

Uma voz suave, não audível, mas sentida, tocou sua alma:

“Você não veio para encontrar. Você veio para espalhar. E o amor que você procurava… se transformou em muitos.”

Ela chorou.

Mas era um choro sereno. Um choro de quem compreendeu. Ela havia cumprido sua missão antiga, e agora estava pronta para a nova. Não era mais só um anjo em forma de mulher. Era uma semente de aurora.

E o mundo… estava começando a acordar.

Continua...

2 comentários:

  1. Olá, querida amiga Fernanda!
    "Não era uma lembrança. Não era um sonho. Era uma presença."
    Tanta sensibilidade que sente a presença, não fica só na lembrança...
    Perfeito!
    Tenha um tridui pascal abençoado!
    Beijinhos fraternos

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  2. Interessante a reconstrução da Helena neste novo plano com um processo de ignição de uma sensibilidade acelerada neste semear sentimentos recolhidos.
    Belo trabalho Fernandinha

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depois que a letra nasce
não há silêncio
há um choro que só eu ouço
e um medo que ninguém vê
o medo de mostrar demais
de sangrar diante de estranhos
de ser lida com desdém
ou pior: com pressa
porque parir palavras
é também deixar o peito aberto
num mundo que não sabe lidar
com quem sente fundo
a escrita respira fora de mim
e eu, nua, assisto
alguns dizem que é lindo
outros nem leem até o fim
há quem tente vestir meu poema
com a própria assinatura
como se dor fosse transferível
como se parto tivesse atalho
e é aí que mais dói
quando roubam o nome da minha filha
e fingem que nasceu de outra boca
quando arrancam o umbigo do texto
e dizem: “isso é meu”
não é
eu sei cada madrugada que ela levou
cada perda que empurrou esse verso
cada lágrima que virou frase
não quero aplauso
mas exijo respeito
porque minha escrita
anda no mundo com meu rosto
meus olhos, minha história
e quando alguém a toma como se fosse nada
está me dizendo:
“você também é nada”
mas eu sou tudo
o que ninguém teve coragem de escrever
e continuo parindo
mesmo ferida
porque escrever é a única forma
que conheço de sobreviver
(Fernanda)