✿Aguarde os próximos capítulos...✿

Eu amo escrever. Escrevo porque às vezes não cabe tudo aqui dentro. Porque há sentimentos que só se organizam quando viram palavras, e pensamentos que só fazem sentido quando dançam na página. Amo também olhar o céu e talvez isso diga tudo. Há quem olhe o céu para prever o tempo, eu olho para prever a mim mesma. Há algo em observar as nuvens, as estrelas ou o silêncio azul que me faz lembrar que existe poesia mesmo nos dias comuns. Este blog nasce desse encontro: entre a escrita e o céu. Vai ser um espaço para dividir pensamentos, contar histórias, guardar pedaços de mim e talvez, de você também, que me lê agora. Obrigada por estar aqui. Que você se sinta à vontade. Que cada texto seja como uma janela aberta, onde o vento entra leve e, quem sabe, traz um pouco de luz também

✿Amor sempre....

✿Amor sempre....
Caminho entre flores. O chão continuará pra nós com outras paisagens. Sou o que sou, porque é tudo que sei ser. E todo meu olhar escrito que você nunca aprendeu a ler, permanecerá no descaso para quem não compreende.

21 novembro, 2025

Quatro relíquias e um rubor

Aleatoriamente um toque de poesia
Diário




Hoje fui ao dentista e já começo assim, para dar o devido peso dramático ao acontecimento. Sente-se, respire, e prepare-se para a revelação que abalou uma sala inteira equipada com luzes frias, brocas ameaçadoras e um cheiro constante de menta farmacêutica:
eu ainda tenho dente de leite.

Hahah podem rir 🤣 

Sim, tantos cafés, tantos capítulos escritos e reescritos, tantas idas e vindas emocionais… ali permaneceu, silencioso, um pequeno vestígio da infância, firme, fiel e aparentemente sem planos de se mudar. Na verdade, não só um 😳 quatro.

E quem deu a notícia?
O dentista que, por capricho do destino, é também grande amigo de André.

Ou seja: humilhação compartilhada com testemunha garantida.

Ele olhou a radiografia, arregalou os olhos como quem viu um espírito acompanhando meu pré-molar, e decretou com voz de quem anuncia uma profecia:

Fernanda, tenho uma notícia que vai ficar na história. Você tem quatro dentes de leite. Quatro. E todos ficam próximos… próximos dos dois caninos. Me conta, como conseguiu manter os cuidados tão sérios a ponto de guardar essa relíquia até hoje?

Relíquia.
Eu, que nunca ganhei um prêmio escolar por “aluna aplicada”, agora ostento essa: Portadora Oficial de Relíquias Bucais. Hahaha

Fiquei ali, sem jeito, tentando decidir se ria, se me escondia atrás da cadeira ou se perguntava se aquilo poderia render desconto. Minha timidez parecia maior do que todos os dentes os permanentes, os teimosos e os emocionados.

Ele falava com uma empolgação científica, quase querendo me expor numa vitrine do museu da odontologia: Veja, André! Veja isso! É um caso raríssimo! Quatro dentes!

E eu, já imaginando o André me zoando até 2083, só consegui responder:

Acho que eles gostaram de mim. Ficaram.

Talvez meus dentes de leite sejam como algumas memórias daquelas que não se desprendem fácil, que permanecem, mesmo quando o mundo espera que já tenhamos substituído tudo por versões mais adultas, mais alinhadas, mais “corretas”.

Talvez sejam um lembrete de que ainda guardo, entre tantas durezas da vida, um miolo de doçura antiga. Ou talvez seja pura genética, mas, como nao tenho base de nenhum familiar e o orfanato nao deu garantias, gosto mais da versão poética.

Saí do consultório com um protocolo de acompanhamento, uma radiografia dobrada na bolsa e a certeza de que, embora a vida adulta viva tentando nos arrancar tudo ilusões, paciências, amores eu ainda conservo quatro pequenos pedaços da Fernandinha que fui um dia.

E que, por alguma razão, resolveram ficar.🥰



Fernanda




21 comentários:

  1. Bom dia de Paz, querida amiga Fernanda!
    Quei lindo o final do seu post!
    A Fernandina ainda vive... alegre-se!
    Creio que se o dentista fosse 'vidente' veria que não só os dentes de leite estão presentes, mas seu encanto de menina dentro do coração firme e forte estão ainda latentes.
    Uma visita que resultou numa crônica e muito bem humorada.
    Tenha um abençoado final de semana!
    Beijinhos fraternos

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Boa tarde querida Roselia!

      Que mensagem mais cheia de carinho agradeço de coração.

      Sorri quando você disse que a “Fernandinha” ainda vive… porque é verdade: às vezes ela se esconde atrás das responsabilidades, mas basta um episódio inesperado até no dentista! para ela aparecer risonha, leve e curiosa, como sempre foi.

      E você disse algo tão bonito: que não são só os dentes de leite que ficaram, mas também um pedacinho daquela menina guardada no peito. Acho que é isso mesmo alguns encantos não caem, não trocam, não perdem raiz. Permanecem. E nos lembram quem fomos e quem, no fundo, ainda somos.

      Obrigada por enxergar humor onde podia haver constrangimento, poesia onde podia haver apenas rotina. Foi uma visita simples… e virou crônica porque a vida tem dessas alegrias escondidas.

      Que seu final de semana seja doce, sereno e cheio dessa paz que você espalha.
      😘🙏🏻

      Beijinhos fraternos e agradecidos.

      Excluir
  2. Uau! Que legal! E, tenho certeza, muito ainda, além dos dentes de leite , tens da tua infância dentro de ti! Que legal! Cuidaste bem deles,rs..

    beijos, ótimo fds! chica

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Chica, adorei! 😂

      É bem isso: além desses teimosos dentes de leite, tem um tantão da minha infância que ficou guardado aqui dentro jeito, lembranças, manias e até umas travessuras adormecidas. Acho que cuidei deles sem nem perceber… e olha só, continuam firmes, rs!
      Obrigada pelo carinho e pela risada gostosa que suas palavras trouxeram.
      Beijos e um final de semana lindo pra você!
      😘🙏🏻

      Excluir
  3. Dente de leite. Somos quatro, disseram felizes. E somos irmãos. Aprendemos quase tudo de mastigação, mas nada sabemos de vento e chuva ou genética. Mas estamos aqui. Somos a reminiscências dos irmãos que se foram. E agora que nos descobriram estamos inquietos porque já não somos sombras, tememos que nos olhem enviesados, incluindo os outros. Um dia nos disseram que seríamos breves e agora pouco sabemos do que somos ou do que nos resta. E assim vamos pascendo a vida que colhemos
    Muitos abraços, Nanda, querida amiga!
    José Carlos

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Eros

      que beleza de texto…
      Esses quatro dentes de leite, nascidos para ser passagem, acabaram virando memória quase testemunhas silenciosas de um tempo que não volta, mas que insiste em morar na gente.

      Gostei quando você disse que eles “sabem de mastigação, mas nada de vento, chuva ou genética”. Parece mesmo: eles aprenderam o necessário para existir, mas nunca imaginaram durar. Talvez por isso estejam inquietos agora porque aquilo que deveria ser breve se fez permanência, e tudo o que permanece nos obriga a pensar sobre quem somos.

      No fundo, acho que eles representam um pedaço de infância que não caiu, que não cedeu lugar, que ficou ali firme, feito raiz teimosa. Não por resistência… mas por ternura. Somos feitos dessas reminiscências que não pediram para ficar, mas ficaram. E, de certo modo, nos protegem.

      Que sigam assim: não como sombras, mas como pequenas luzes que lembram que a vida também é feita de milagres miúdos e inexplicáveis.

      Obrigada pelo carinho e pela poesia. Muitos abraços, meu amigo!

      😘🙏🏻

      Excluir
  4. Já nem falo mais sobre meus dentes. Toda vez que reclamo da sensibilidade e o desgaste e digo que minha vontade é tirar tudo e viver de prótese móvel, o que tenho como resposta é para manter meus dentes, pois ainda são melhores que prótese. E assim ao falar com dentista, médico, amigos etc. Então tá.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Fabiano,

      eu entendo demais esse sentimento! Às vezes gente está tão cansado da sensibilidade, do incômodo, Mas aí vêm dentista, médico, amigo, vizinho e até o papagaio dizendo a mesma frase: “fica com os seus dentes, eles ainda são melhores que prótese.”
      e aquele pensamento surge: então tá, né? Mas sabe? Eu concordo come eles. Conheço pessoas, que estão fazendo tudo para possuir dentes outra vez. Por implante.
      Persista!

      😘

      Excluir
  5. Olá Fernanda, que texto bacana! Muito legal como transformou uma ida ao dentista em um divertido e poético texto, com direito a reflexão.
    Que estes seus dentes teimosos continuem te lembrando que crescer não precisa ser sinônimo de abandonar tudo, há coisas que fazem questão de ficar.
    E parabéns pelo título de "portadora oficial de relíquias bucais", não é todo mundo que ostenta esta condecoração, rsrsrsrs.
    Ah, gratidão pela passagem lá no blog. Saúde e paz!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Milton,

      que alegria ler suas palavras! Engraçado como a vida faz isso com a gente: a gente vai ao dentista esperando um raio-x e sai com uma crônica, uma risada e uma lembrança da infância agarrada nos dentes literalmente. 😂

      Adorei sua reflexão: crescer não é sinônimo de largar tudo pelo caminho. Algumas coisas ficam porque querem ficar, porque fazem parte da nossa história, porque são teimosas… ou porque, no meu caso, simplesmente não foram empurradas embora. E olha, talvez sejam justamente essas pequenas “relíquias” que nos lembram que ainda existe um pedaço nosso que não envelhece.

      Quanto ao título… “portadora oficial de relíquias bucais” foi a melhor condecoração que já recebi 😊e sem precisar abrir a boca para discurso, rsrsrs. Vou ostentar com orgulho!

      Obrigada pelo carinho, pela leitura e pela presença lá no blog. Saúde, paz e um sorriso leve com dentes permanentes ou não.
      😂
      Beijinho amigo

      Excluir
  6. Eita!
    Dente de leite ainda?
    Caramba, que legal!
    É sinal de que você é cuidadosa.
    Parabéns.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Pois é, André!

      Até eu fiquei surpresa!
      Se dente de leite ainda é sinal de cuidado, então estou no lucro, rs.
      Obrigada e seguimos firmes, literalmente! 😁

      Excluir
  7. Por algum motivo esses dentes de leite ficaram. Nada acontece por acaso!
    O que é certo é que há coisas que ninguém consegue explicar. !!
    Vou te contar algo poético mas que também acontece no lado mais lírico da vida...
    Uma noite, malmequeres floriram num jardim. Ninguém os viu nascer; ainda assim, lá estavam eles, despertos sob a vigília das estrelas, como se a própria lua tivesse soprado vida sobre os seus botões adormecidos. O jardim que na véspera dormia silencioso, hoje sussurra uma alegria quase sagrada. As pétalas se abriram, na doçura do vento que passava sem fazer barulho. Dizem que é ali, entre a beleza tímida dos malmequeres, que nasce a raíz invisível do amor, que muitas vezes floresce quando já não esperamos...
    Quem sabe esses teus dentes de leite, esperem ainda algo que não sabemos...

    Tem um bom fim de semana minha querida amiga Fernanda.
    Um abraço.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Albino,

      que coisa mais linda o que você escreveu…
      Às vezes a vida guarda pequenos mistérios no corpo da gente, como esses dentes de leite que ficaram silenciosos, improváveis, quase secretos. E é verdade: há acontecimentos que a ciência explica, mas o coração prefere transformar em poesia.

      Esse seu jardim de malmequeres nascendo à noite, sem testemunhas, me lembrou justamente isso: existem flores, memórias e pedaços nossos que desabrocham sem aviso, como se estivessem esperando o tempo certo não o tempo do relógio, mas o tempo da alma.

      Talvez esses dentes teimosos sejam assim também: relíquias que não caíram porque ainda sustentam alguma história que eu nem sei que carrego. Talvez sejam lembranças enraizadas, talvez sejam simbolismo, talvez sejam só biologia… mas gosto da ideia de que, no lado mais lírico da vida, nada permanece à toa.

      Quem sabe, como você disse, estejam aguardando algo que ainda não sabemos um sorriso, um reencontro, um florescer.

      Obrigada por transformar um detalhe odontológico em um campo de malmequeres.

      Bom final de semana, meu amigo querido.
      🥰😘

      Excluir
  8. 4 dentes de leite? E os outros não empurraram os de leite?
    E estão inteiros, conservados?
    Nenhum dentista antes viu isso?
    O que vai acontecer? Ele disse?
    Cuido muito dos meus dentes e só perdi os dentes últimos molares que tive a sorte de só ter nascido com 3. E nasceram tortos, por isso foram extraídos.
    Beijo,

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Líliane,

      ter 4 dentes de leite ainda na boca é raro, mas totalmente possível. Isso geralmente acontece porque o dente permanente que deveria empurrar o de leite não se formou (chamamos isso de agenesia), ou porque ele até existe, mas está mal posicionado e não fez a troca acontecer. Por isso, o dente de leite pode ficar firme, inteiro e bem conservado mesmo na vida adulta o que é um bom sinal de saúde.

      Como os permanentes não empurraram, o dente de leite não perdeu raiz e não caiu. E realmente, olhando só “a olho nu”, nenhum dentista é capaz de saber se o permanente está ali ou não isso só aparece em um raio-x panorâmico. Por isso pode ser que ninguém tenha percebido antes.

      O que vai acontecer agora depende exatamente do exame que já fiz: Se o permanente existir e estiver no lugar certo, pode ser feita a troca.
      Se existir, mas estiver torto ou fora da posição, talvez precise de aparelho.
      E se não existir permanente, o dente de leite pode ser mantido enquanto estiver saudável e só no futuro pensar em implante ou outra reposição, se for necessário.

      No meu caso tá super normal.


      No seu caso, perder apenas os molares tortos e cuidar bem dos dentes mostra que você fez tudo certo. Algumas pessoas nascem até com menos dentes, e isso é só uma variação genética, não um erro.

      Beijo!

      Excluir
  9. Oi, Fernanda! Ótima crônica que você escreveu. Olha, você é uma mulher de sorte eu diria por ainda ter quatro dentes de leite na boca. Isso é difícil de acontecer, mas não impossível, desde que a boca esteja em ordem. A vida é cheia dessas ironias, não é verdade? Um sorriso infantil em meio ao caos do dia a dia dentro duma boca saudável. A saúde bucal é uma vitória, mesmo que pequena, nesse mundo onde tudo se desgasta, inclusive os dentes. Abraço minha amiga!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Luciano,

      você disse tudo a vida adora essas ironias que arrancam um sorriso da gente. 😄
      Se sobraram quatro dentes de leite e um bocado de saúde, então já é mesmo uma pequena vitória.

      Obrigada pelo carinho da leitura e das palavras, meu amigo.
      Abraço grande! 🤗

      Excluir
  10. Uma raridade para contar historias de uma menina guerreira, que nunca desistiu de vencer, guardando o coração da menininha, os dentes surgem como marca desta menina.
    Um abração e feliz fim de semana Fernanda.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Que comentário cheio de carinho, Toninho!

      Adorei essa imagem da “menina guerreira” que segue firme sem perder o coração de menininha. Esses dentes teimosos viram quase um símbolo uma lembrança divertida de que a essência permanece, mesmo quando a vida exige coragem.

      Obrigada pelo abraço e pelo olhar tão generoso.
      Um feliz fim de semana pra você também!
      Com carinho,
      🥰🙏🏻

      Excluir
  11. Que coisa, hein???
    Acho que nunca vi caso igual. Como eles ficaram e não caíram para dar espaço aos permanentes?
    Mistério...
    Deve ter sido essa sua alma de criança que acabou influenciando os dentinhos de leite a ficar.

    ResponderExcluir

depois que a letra nasce
não há silêncio
há um choro que só eu ouço
e um medo que ninguém vê
o medo de mostrar demais
de sangrar diante de estranhos
de ser lida com desdém
ou pior: com pressa
porque parir palavras
é também deixar o peito aberto
num mundo que não sabe lidar
com quem sente fundo
a escrita respira fora de mim
e eu, nua, assisto
alguns dizem que é lindo
outros nem leem até o fim
há quem tente vestir meu poema
com a própria assinatura
como se dor fosse transferível
como se parto tivesse atalho
e é aí que mais dói
quando roubam o nome da minha filha
e fingem que nasceu de outra boca
quando arrancam o umbigo do texto
e dizem: “isso é meu”
não é
eu sei cada madrugada que ela levou
cada perda que empurrou esse verso
cada lágrima que virou frase
não quero aplauso
mas exijo respeito
porque minha escrita
anda no mundo com meu rosto
meus olhos, minha história
e quando alguém a toma como se fosse nada
está me dizendo:
“você também é nada”
mas eu sou tudo
o que ninguém teve coragem de escrever
e continuo parindo
mesmo ferida
porque escrever é a única forma
que conheço de sobreviver
(Fernanda)