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Eu amo escrever. Escrevo porque às vezes não cabe tudo aqui dentro. Porque há sentimentos que só se organizam quando viram palavras, e pensamentos que só fazem sentido quando dançam na página. Amo também olhar o céu e talvez isso diga tudo. Há quem olhe o céu para prever o tempo, eu olho para prever a mim mesma. Há algo em observar as nuvens, as estrelas ou o silêncio azul que me faz lembrar que existe poesia mesmo nos dias comuns. Este blog nasce desse encontro: entre a escrita e o céu. Vai ser um espaço para dividir pensamentos, contar histórias, guardar pedaços de mim e talvez, de você também, que me lê agora. Obrigada por estar aqui. Que você se sinta à vontade. Que cada texto seja como uma janela aberta, onde o vento entra leve e, quem sabe, traz um pouco de luz também

✿Amor sempre....

✿Amor sempre....
Caminho entre flores. O chão continuará pra nós com outras paisagens. Sou o que sou, porque é tudo que sei ser. E todo meu olhar escrito que você nunca aprendeu a ler, permanecerá no descaso para quem não compreende.

23 novembro, 2025

Às vezes

Aleatoriamente um toque de poesia




O jardim parece estar conversando comigo.
As folhas murmuram segredos que não lembro ter vivido. As flores mais perfumadas hoje parecem saber de coisas que meu peito ainda não disse.

Enquanto toca When I Was Your Man,
o vento passa devagar, 
como quem entende arrependimentos antigos.

E eu fico assim: entre o cheiro doce das pétalas
e uma dor que não dói,
mas insiste.

O jardim fala.
Eu escuto.
E, sem dizer nada,
ele me devolve a paz que eu tinha perdido
e nem sabia.

Porque às vezes
o amor vai embora,
mas a primavera fica

Esta noite senti vontade de escrever diferente.
Queria fazer um poema 
mas saiu isso: uma vontade de ser uma planta,
de brotar em silêncio.

Às vezes a gente brota
sem aviso, como semente esquecida no fundo do tempo.

Brota do nada.
Brota de tudo.
Brota de um perfume que acorda memórias,
de uma música que encosta na pele como quem pede perdão por ter seguido na estrada.

E quando a gente brota,
não é para aparecer 
é para existir.

Um pouquinho mais viva,
um pouquinho mais nossa,
como flor que finalmente entende que nascer também é cura.

Hoje, no escuro,
eu desabrochei sem testemunhas.

E o jardim,
cúmplice,
ficou em silêncio só para me ouvir crescer.



Fernanda


Hoje, no escuro,
o mundo parecia recolhido
dentro de si,
como se aguardasse um sinal secreto.
E nesse intervalo suspenso,
tu floresceste,
lenta, silenciosamente,
num gesto tão íntimo
que nem o vento ousou perturbar.
O jardim, cúmplice do mistério,
suspendeu a respiração.
As folhas quedaram-se imóveis,
os ramos inclinaram-se
para não te perderem de vista.
E ali, envolta no manto do luar,
as tuas pétalas abriram-se,
como quem revela um segredo
que apenas a noite merece ouvir.
Não houve aplausos,
nem olhos a testemunhar,
apenas a suavidade da noite
que te acolheu como um véu protector.
E ainda assim,
ou talvez por isso mesmo,
o teu florescer tornou-se mais puro,
mais teu,
como se a própria madrugada
te tivesse escolhido
para perfumares o amanhecer.

Já tinha saudades de escrever um poema Fernanda.
Mas acabei de te ler e senti um impulso ao qual não resisti.
O que escreveste foi maravilhoso. Foi, para mim, deliciosamente inspirador!
É para ti este poema minha amiga.
Um bom domingo para ti.

Albino Santos

Obrigada poeta 

21 novembro, 2025

Quatro relíquias e um rubor

Aleatoriamente um toque de poesia
Diário




Hoje fui ao dentista e já começo assim, para dar o devido peso dramático ao acontecimento. Sente-se, respire, e prepare-se para a revelação que abalou uma sala inteira equipada com luzes frias, brocas ameaçadoras e um cheiro constante de menta farmacêutica:
eu ainda tenho dente de leite.

Hahah podem rir 🤣 

Sim, tantos cafés, tantos capítulos escritos e reescritos, tantas idas e vindas emocionais… ali permaneceu, silencioso, um pequeno vestígio da infância, firme, fiel e aparentemente sem planos de se mudar. Na verdade, não só um 😳 quatro.

E quem deu a notícia?
O dentista que, por capricho do destino, é também grande amigo de André.

Ou seja: humilhação compartilhada com testemunha garantida.

Ele olhou a radiografia, arregalou os olhos como quem viu um espírito acompanhando meu pré-molar, e decretou com voz de quem anuncia uma profecia:

Fernanda, tenho uma notícia que vai ficar na história. Você tem quatro dentes de leite. Quatro. E todos ficam próximos… próximos dos dois caninos. Me conta, como conseguiu manter os cuidados tão sérios a ponto de guardar essa relíquia até hoje?

Relíquia.
Eu, que nunca ganhei um prêmio escolar por “aluna aplicada”, agora ostento essa: Portadora Oficial de Relíquias Bucais. Hahaha

Fiquei ali, sem jeito, tentando decidir se ria, se me escondia atrás da cadeira ou se perguntava se aquilo poderia render desconto. Minha timidez parecia maior do que todos os dentes os permanentes, os teimosos e os emocionados.

Ele falava com uma empolgação científica, quase querendo me expor numa vitrine do museu da odontologia: Veja, André! Veja isso! É um caso raríssimo! Quatro dentes!

E eu, já imaginando o André me zoando até 2083, só consegui responder:

Acho que eles gostaram de mim. Ficaram.

Talvez meus dentes de leite sejam como algumas memórias daquelas que não se desprendem fácil, que permanecem, mesmo quando o mundo espera que já tenhamos substituído tudo por versões mais adultas, mais alinhadas, mais “corretas”.

Talvez sejam um lembrete de que ainda guardo, entre tantas durezas da vida, um miolo de doçura antiga. Ou talvez seja pura genética, mas, como nao tenho base de nenhum familiar e o orfanato nao deu garantias, gosto mais da versão poética.

Saí do consultório com um protocolo de acompanhamento, uma radiografia dobrada na bolsa e a certeza de que, embora a vida adulta viva tentando nos arrancar tudo ilusões, paciências, amores eu ainda conservo quatro pequenos pedaços da Fernandinha que fui um dia.

E que, por alguma razão, resolveram ficar.🥰



Fernanda




20 novembro, 2025

O Valor de Ser Humano

Aleatoriamente um toque de poesia



Não sou de direita nem de esquerda. Não carrego bandeiras que separam, nem leio o mundo apenas em cores ideológicas. Sou humanista. E, no fundo, percebo que ser humanista é uma jornada silenciosa, um modo de caminhar pela vida com atenção aos detalhes que muitos desprezam.

O humanismo se revela nos pequenos gestos: o vizinho que ajuda a carregar sacolas pesadas sem esperar aplausos; a senhora no ponto de ônibus que sorri para o jovem tímido; o homem que devolve a carteira perdida sem pensar em recompensa. São atos quase invisíveis, mas são eles que desenham a verdadeira política da vida a política do cuidado, da empatia, do respeito pelo outro, sem distinção de cor, classe, crença ou credo.

Ser humanista é perceber que cada ser humano é um universo complexo, cheio de histórias, medos, dores e sonhos. É ouvir sem julgar, compreender sem condescendência e agir sem esperar retorno. É acreditar que, antes de ideias, partidos ou teorias, está a humanidade compartilhada, aquele fio que nos liga todos, que nos torna responsáveis uns pelos outros.

No trânsito, na fila do pão, na sala de espera do hospital, na praça, no olhar de uma criança que ainda não conhece a maldade: o humanismo se esconde nesses instantes simples e poderosos. Ser humanista é lutar contra a indiferença, é recusar a violência silenciosa das palavras, da intolerância, do desdém. É lembrar, todos os dias, que ninguém é apenas seu cargo, sua ideologia ou sua posição social todos somos gente, apenas gente.

E talvez, se mais pessoas vissem o mundo por esse prisma, perceberiam que a verdadeira grandeza não está em vencer debates ou impor pensamentos, mas em cultivar a dignidade, a compaixão e a justiça, mesmo quando ninguém está olhando.

Porque, no fim, ser humanista é entender que o essencial não se escreve em leis nem se anuncia em discursos: ele se vive, se sente, se pratica. É a arte silenciosa de transformar o mundo, não com poder, mas com humanidade.


Fernanda

19 novembro, 2025

Minha mão é o carregador de celular

Aleatoriamente um toque de poesia





Havia, naquela manhã particularmente luminosa, uma circunstância curiosa que me levou a refletir sobre a íntima relação entre minha mão e o carregador de celular. Devo admitir, com certa ironia própria das mulheres que observam o mundo com mais atenção do que ele merece, que cheguei à estranha conclusão de que minha mão, afinal, é o carregador. 😓

Explico-me pois sei que, sem explicação adequada, essa ideia poderia parecer fruto de um 😶 sentimentalismo excessivo (e quem me conhece sabe que possuo muitos, embora raramente os confesse).

Acontece que o celular, esse pequeno tirano moderno, já não aceita simplesmente ser deixado à própria sorte. Ele exige ser carregado enquanto é usado. E, para isso, necessita da minha mão firme, paciente e absurdamente disponível. Se, por um instante, resolvo descansar o braço, ele cai; se tento apoiar o fio numa posição mais vantajosa, ele reclama com aquele bip agudo que lembra um jovem cavalheiro aflito por atenção.

Pois bem: ali estou eu, com o aparelho apoiado na palma, e o fio dependurado como um adereço dramático, sustentando tudo com uma devoção que, se fosse dedicada a André, seria considerada desafiadora. Haha 

Percebi então que minha mão age tal qual um instrumento indispensável ao funcionamento do mundo moderno. Ela se tornou uma tomada ambulante, um ponto de energia portátil, um apoio constante para algo que parece sempre à beira da exaustão. E, ainda assim, não posso deixar de notar o quão familiar essa dinâmica me soa.

Não temos todas nós, em algum momento da vida, servido de “carregadoras emocionais das pessoas ao nosso redor? Amigas, familiares, amores todos, em maior ou menor grau, já dependeram da nossa mão estendida, firme e silenciosa, para não despencarem no chão da própria vida." 😜

E, como acontece com meu celular, raramente alguém percebe o esforço. A mão dói, mas ninguém vê. O fio repuxa, mas ninguém nota. É da natureza humana, talvez, exigir apoio com uma inocência que beira o abuso e da natureza feminina, com frequência preocupante, oferecê-lo sem cálculo nem crédito.

Enquanto segurava o aparelho naquela postura quase heroica, permiti-me uma pequena rebeldia: desliguei tudo. Simples assim. O celular, surpreso, apagou o brilho; o fio tombou com dignidade duvidosa; e minha mão pobre mártir segurou-se a ele  e repousou sobre o colo dos dedos com suspiro imaginário. Risos...

E nesse exato momento, concluí que minha mão é o carregador de tudo do celular, das expectativas, das urgências alheias mas só funciona se estiver bem cuidada.

Jane Austen certamente diria, com aquele humor elegante e ferino, que nenhuma dama deveria desperdiçar sua força em objetos ou pessoas que não são capazes de se carregar sozinhos ao menos de vez em quando.

E, confesso, por mais que eu admire a tecnologia, admiro ainda mais essa sabedoria discreta que brota quando desligo o mundo e deixo minha mão, finalmente, descansar de suas funções elétricas e emocionais. hahaha 

No fim das contas, até uma heroína precisa, vez ou outra, desconectar-se para continuar sendo heroína.
Boa noite 😴 


Fernanda

A canção de coisas que passam

Aleatoriamente um toque de poesia




Há um rumor leve no tempo,
como se o dia respirasse devagar,
lembrando-nos que tudo foge
pelos dedos da memória.

As horas vêm com passos de água,
tocam a pele,
acariciam o instante,
e se vão
sem despedida.

E eu fico aqui,
à beira do que não sei contar,
recolhendo fragmentos:
um sopro de vento na janela,
o voo rasante de um pássaro,
a sombra breve de alguém
que não verei de novo.

Tudo me ensina suavemente
que existir é perder-se um pouco,
mas também reencontrar-se
na delicadeza das pequenas coisas:
o brilho de uma folha,
a simplicidade de um gesto,
o silêncio que repousa
sobre o mundo adormecido.

E assim sigo,
com meu coração de pétala,
sabendo que a vida é um rio claro
que passa sem ruído,
e mesmo assim
nos transforma.



Fernanda

Este poema fiz, logo que fiquei sem Felipe