O jardim parece estar conversando comigo.
As folhas murmuram segredos que não lembro ter vivido. As flores mais perfumadas hoje parecem saber de coisas que meu peito ainda não disse.
Enquanto toca When I Was Your Man,
o vento passa devagar,
como quem entende arrependimentos antigos.
E eu fico assim: entre o cheiro doce das pétalas
e uma dor que não dói,
mas insiste.
O jardim fala.
Eu escuto.
E, sem dizer nada,
ele me devolve a paz que eu tinha perdido
e nem sabia.
Porque às vezes
o amor vai embora,
mas a primavera fica
Esta noite senti vontade de escrever diferente.
Queria fazer um poema
mas saiu isso: uma vontade de ser uma planta,
de brotar em silêncio.
Às vezes a gente brota
sem aviso, como semente esquecida no fundo do tempo.
Brota do nada.
Brota de tudo.
Brota de um perfume que acorda memórias,
de uma música que encosta na pele como quem pede perdão por ter seguido na estrada.
E quando a gente brota,
não é para aparecer
é para existir.
Um pouquinho mais viva,
um pouquinho mais nossa,
como flor que finalmente entende que nascer também é cura.
Hoje, no escuro,
eu desabrochei sem testemunhas.
E o jardim,
cúmplice,
ficou em silêncio só para me ouvir crescer.
Fernanda
Hoje, no escuro,
o mundo parecia recolhido
dentro de si,
como se aguardasse um sinal secreto.
E nesse intervalo suspenso,
tu floresceste,
lenta, silenciosamente,
num gesto tão íntimo
que nem o vento ousou perturbar.
O jardim, cúmplice do mistério,
suspendeu a respiração.
As folhas quedaram-se imóveis,
os ramos inclinaram-se
para não te perderem de vista.
E ali, envolta no manto do luar,
as tuas pétalas abriram-se,
como quem revela um segredo
que apenas a noite merece ouvir.
Não houve aplausos,
nem olhos a testemunhar,
apenas a suavidade da noite
que te acolheu como um véu protector.
E ainda assim,
ou talvez por isso mesmo,
o teu florescer tornou-se mais puro,
mais teu,
como se a própria madrugada
te tivesse escolhido
para perfumares o amanhecer.
Já tinha saudades de escrever um poema Fernanda.
Mas acabei de te ler e senti um impulso ao qual não resisti.
O que escreveste foi maravilhoso. Foi, para mim, deliciosamente inspirador!
É para ti este poema minha amiga.
Um bom domingo para ti.
Albino Santos
Obrigada poeta



