Levanto às quatro da manhã.
Faço meu coque.
A casa ainda dorme, o silêncio é inteiro, e nessa hora parece que o tempo me pertence. Há algo de mágico em acordar antes do mundo. Não é cansaço, é escolha.
A primeira coisa que faço é descer e ir para a varanda. Ali, o céu ainda guarda estrelas e a madrugada oferece um colo sereno. Rezo. 🙏🏻
Rezo pelo dia que começa, pelas pessoas que amo, por mim mesma. Não peço apenas, agradeço. Converso com Deus como quem confia segredos.
Cuidar do interior é o maior e melhor trabalho que existe e é nele que encontro força para os outros afazeres. É nesse instante que o coração se organiza, que a alma se lava, que o dia se abre em possibilidade.
É bonito perceber que a rotina, quando regada de sentido, deixa de ser obrigação e se transforma em encontro. E cada amanhecer se torna, de fato, um recomeço.
Lembro que não tive uma infância fácil.
Mas, em vez de contar ausências, aprendi a somar aprendizados. Foi uma infância rica de lições, onde cada dificuldade me mostrou um caminho novo. E por isso sou grata.
Vitimismo não faz parte da minha vida.
Se tivesse escolhido esse atalho, teria ficado presa naquilo que me faltou. Mas preferi a estrada da gratidão, onde cada pedra virou degrau. O que poderia ser peso, transformei em força. O que parecia dor, fez nascer fé.
Hoje entendo: não foram os dias fáceis que me fizeram crescer, e sim os dias que exigiram coragem. Sou filha do que enfrentei e é isso que me sustenta quando o mundo pede firmeza.
Autopiedade? Jamais. Esses caminhos só nos prendem ao que dói e nos fazem reféns da própria tristeza. É como se construíssemos a própria prisão e ainda guardássemos a chave no bolso. Não quero viver assim. Prefiro olhar para frente, mesmo quando a estrada é íngreme.
A vida já me mostrou que cada lágrima pode se transformar em semente, e que o solo mais duro também floresce se houver cuidado. Não nego a dor, mas também não lhe dou o poder de ser dona de mim.
Cresci aprendendo a levantar depois das quedas, a não me demorar nos lamentos e a acreditar que existe sempre algo além daquilo que machuca. Se a tristeza me chama para a cama, a fé me convida para a varanda onde a esperança respira e a alma descansa.
E vamos viver, que o que o Pai quer de nós é essa certeza de que a vida vale, mesmo nos dias difíceis. Ele nos pede confiança, não perfeição. Quer ver em nós a coragem de recomeçar, a gratidão que floresce mesmo em meio às faltas, e a fé que não se apaga diante das dores.
O Pai não exige que sejamos incansáveis, apenas que não desistamos. Quer que sigamos adiante, acreditando que cada passo tem sentido, que cada amanhecer é um presente, e que em cada luta há uma oportunidade de crescimento.
No fundo, o que Ele espera de nós é simples: que vivamos com amor, que não nos deixemos aprisionar pelo vitimismo, e que aprendamos a transformar a dor em força, o silêncio em oração, e o tempo em aliado. 😉
Fernanda