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29 junho, 2025
Onde a poesia mora?
12 comentários:
depois que a letra nasce
não há silêncio
há um choro que só eu ouço
e um medo que ninguém vê
o medo de mostrar demais
de sangrar diante de estranhos
de ser lida com desdém
ou pior: com pressa
porque parir palavras
é também deixar o peito aberto
num mundo que não sabe lidar
com quem sente fundo
a escrita respira fora de mim
e eu, nua, assisto
alguns dizem que é lindo
outros nem leem até o fim
há quem tente vestir meu poema
com a própria assinatura
como se dor fosse transferível
como se parto tivesse atalho
e é aí que mais dói
quando roubam o nome da minha filha
e fingem que nasceu de outra boca
quando arrancam o umbigo do texto
e dizem: “isso é meu”
não é
eu sei cada madrugada que ela levou
cada perda que empurrou esse verso
cada lágrima que virou frase
não quero aplauso
mas exijo respeito
porque minha escrita
anda no mundo com meu rosto
meus olhos, minha história
e quando alguém a toma como se fosse nada
está me dizendo:
“você também é nada”
mas eu sou tudo
o que ninguém teve coragem de escrever
e continuo parindo
mesmo ferida
porque escrever é a única forma
que conheço de sobreviver
(Fernanda)
Boa noite de domingo, querida amiga Fernanda ou Nanda ou Nandinha, seja como for, poeta de alma!
ResponderExcluirVou lhe partilhar a última poesia que li no muro da minha praia:
Você é a prioridade da sua vida?
Em letras garrafais... como grafite.
Eu, indo tomar sol, caminhando pela areia, li e suspirei...
Daquele momento em diante, algo mudou em mim.
Doravante, passei a priorizar mais minha vida.
Acredita que mudou muita coisa e estou mais forte, resiliente?
Creio que poesia é, justamente, aqulo que nos faz ler e mudar devdirecao, uma metanoia no pensar, no sentir e no agir.
Lendo aqui e ouvindo um recital musical do teatro de São Pedro, na tele, lindo, eu me emociono.
Com efeito, ela não mora nos livros.
Quem não é sensível não pode adentrar ou assimar uma poesia.
Não é porvser mau ou má, sim porque o coração está duro demais para fluir nas metáforas da vida.
Parabéns, poeta!
Se achar melhor, poetisa.
Aqui, você me faz jorrar em lágrimas:
"É falar de amor quando ninguém mais acredita, e ainda assim, continuar".
Deus nos ajude a continuar a amar e, amando, poetizar como fez aqui.
Tenha uma nova semana abençoada!
Beijinhos fraternos de paz
Querida Roselia,
ExcluirReceber suas palavras foi como encontrar um bilhete de ternura deixado no meio da caminhada. Sim, poesia é isso mesmo: uma virada de rota silenciosa, uma verdade sussurrada que faz a gente respirar diferente.
Obrigada por partilhar o grafite da praia e, mais ainda, por partilhar o que ele transformou em você.
Que a gente continue amando, sentindo, chorando quando for preciso
e sempre deixando que a poesia nos encontre, mesmo quando tudo parece desencontro.
Um abraço com carinho e poesia,
Fernanda
Beijinhos de paz e gratidão.
O poema vive nas pessoas, e quando encontramos a poesia por aí, até mesmo sem saber que é, e se consegue dizer conforme se quer, traduz-se em alívio na alma, boa reflexão. Um abraço, Yayá.
ResponderExcluirOlá Yayá, sim é verdade mesmo! Outro abraço para você querida.
ExcluirBjinho
É bonito como este aprofunda mais o anterior, "Quando eu era só Fernandinha". Este revela uma madura compreensão daquilo que é poesia, já depois do contato com os clássicos, e como ela está inserida em si, e em todos.
ResponderExcluirConcordei com cada verso escrito aqui. Obrigado por compartilhar essa produção.
Dell,
Excluirque bonito ver seu olhar percorrendo esse caminho entre a “Fernandinha” de antes e essa que agora escreve com os clássicos à espreita do ombro.
Fico tocada por você perceber esse amadurecimento não só da escrita, mas do sentir também. A poesia, para mim, mora justamente aí: no intervalo entre o que fomos e o que ainda estamos descobrindo ser.
Obrigada por caminhar comigo entre os versos.
E por enxergar, com tanta generosidade, a poesia que ainda me atravessa.
Com carinho,
Fernanda!
"Ser poeta é mais que escrever, é sentir, acolher, traduzir o que não cabe em prosa. É escutar a dor do outro e dar-lhe forma, é colher do mundo o que ele nem sabe que oferece."
ResponderExcluirGostei do seu ponto de vista expresso neste magnífico texto.
Boa semana querida amiga Fernanda.
Um beijo.
Jaime,
Excluirsuas palavras chegam como confirmação suave de que a poesia não é só escrita é escuta, é encontro.
Fico muito feliz que tenha percebido esse fio entre o que fui e o que agora vai se tecendo em mim.
A poesia me acompanha como um espelho: às vezes revela, às vezes pergunta.
E ler seu comentário é como receber um sinal de que vale a pena continuar abrindo essa janela.
Obrigada por estar por perto e por ler com o coração.
Com carinho,
Fernanda
Que lindo,Nanda e creio que a poesia mora em cada coração sensível e em quem tem olhos de realmente VER!
ResponderExcluirbeijos, linda semana, chica
Chica,
Excluirque alegria receber suas palavras tão cheias de sensibilidade! Sim, a poesia mora onde há olhar que sente e você tem esse dom raro de ver com o coração.
Obrigada por sempre chegar com ternura e verdade. É isso que mantém a poesia viva!
Com carinho,
Nanda
Eita que texto lindo.
ResponderExcluirSabe que esse etxto é uma poesia em prosa!
Tipo Guimarães Rosa.
De todos que você citou, é o que eu gosto mais.
Ele sabe em prosa, fazer poesias mais belas, que muitos poetas.
O escritor que mais admiro entre os brasileiros, é Érico Verissimo.
Pra mim, se ele fosse europeu e escrevesse O tempo e o Vento, vivendo lá, com certeza seria em dos maiores clássicos universais.
mas aqui a gente não dá tanto valor.
Um abração, e tenha uma linda semana.
André,
Excluirque alegria ler esse comentário tão cheio de generosidade, sensibilidade e bons nomes! Comparar meu texto à poesia em prosa de Guimarães Rosa me emociona. Ele também me atravessa fundo, com esse jeito inventado e essencial de dizer o mundo. E sim, Érico Verissimo é gigante e concordo inteiramente contigo: se tivesse nascido em outro hemisfério, seria celebrado como um dos maiores. Mas há grandeza que resiste até ao descaso. Obrigada por ler com tanto afeto e atenção.
Um abração e uma linda semana também!
Fernanda