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Eu amo escrever. Escrevo porque às vezes não cabe tudo aqui dentro. Porque há sentimentos que só se organizam quando viram palavras, e pensamentos que só fazem sentido quando dançam na página. Amo também olhar o céu e talvez isso diga tudo. Há quem olhe o céu para prever o tempo, eu olho para prever a mim mesma. Há algo em observar as nuvens, as estrelas ou o silêncio azul que me faz lembrar que existe poesia mesmo nos dias comuns. Este blog nasce desse encontro: entre a escrita e o céu. Vai ser um espaço para dividir pensamentos, contar histórias, guardar pedaços de mim e talvez, de você também, que me lê agora. Obrigada por estar aqui. Que você se sinta à vontade. Que cada texto seja como uma janela aberta, onde o vento entra leve e, quem sabe, traz um pouco de luz também

Amor sempre....

Amor sempre....
Caminho entre flores. O chão continuará pra nós com outras paisagens. Sou o que sou, porque é tudo que sei ser. E todo meu olhar escrito que você nunca aprendeu a ler, permanecerá no descaso para quem não compreende.

05 julho, 2025

A Fonte Esquecida

Aleatoriamente um toque de poesia




O dia hoje pede História
Eles " mamãe, não esquece hoje é dia de contar histórias"
Eu sorri e fiz que sim. Essa turminha ama ouvir a mamãe deles e ela? Adora.
Vamos lá!

Num vilarejo antigo, no alto de uma montanha, havia uma fonte escondida entre as pedras.
Diziam os mais velhos que suas águas curavam tristezas, acalmavam zangas e despertavam quem estava perdido de si. Mas com o tempo, o povo foi esquecendo. Construíram poços, tanques e barragens.
A fonte, mansa e persistente, continuava a brotar ainda que ninguém mais a procurasse.

As pessoas viviam agitadas. Tinham tudo, menos paz.
Carregavam inquietações como sacos às costas, e seguiam dizendo:
“É a vida.”
 “É assim mesmo.”
“Um dia passa.”

Foi então que uma criança, certa manhã, escutou o som de um fio d’água.
Seguiu o barulho entre arbustos, galhos e silêncio.
E encontrou a fonte  clara, limpa, viva.

Sentou-se ali. Molhou o rosto.
E pela primeira vez, chorou sem medo.
Não sabia de onde vinha a dor, mas a água parecia entender.

No dia seguinte, voltou. E de novo, e de novo.
Até que um ancião curioso a seguiu.
Viu a menina sentada em paz, e não disse nada.
Apenas tirou as sandálias e sentou-se também.

Logo, um ou outro começou a ouvir falar da tal fonte.
Alguns foram por desespero. Outros por esperança.
Mas todos saíam de lá… diferentes.
Mais leves. Mais inteiros.
Não porque a vida havia mudado,
mas porque tinham lembrado de algo que o mundo moderno havia feito esquecer:

A paz não se compra.
Ela se lembra.
Ela se reencontra.
Ela se cultiva em silêncio, onde a alma se despe.

E desde então, a fonte nunca mais esteve sozinha.
Ainda escondida, mas jamais esquecida.

Pois agora, havia olhos que sabiam procurá-la
e corações dispostos a beber dela 
não com pressa, mas com reverência.

Com o tempo, a trilha até a fonte ganhou passos miúdos, vozes baixas e risos contidos. As crianças levavam pedrinhas coloridas e segredos no bolso. Deixavam ali, entre uma folha e outra, promessas de voltar.

Um deles, o menorzinho, perguntou ao ancião:
A fonte vai acabar se todo mundo vier?
O velho sorriu com os olhos e respondeu:
Não, meu pequeno. Quanto mais se bebe dela, mais ela brota. É que é feita da mesma coisa que a esperança: quanto mais se reparte, mais cresce.

E assim, entre idas e vindas, a fonte se fez caminho.
Virou canção que só os atentos escutavam.
E até os adultos aqueles que corriam demais, reclamavam demais, esqueciam demais começaram a ir, mesmo que no início sem saber direito por quê.

Iam.
Chegavam.
Sentavam.
E calavam.

Alguns choravam sem saber, outros sorriam sem querer. Mas todos, sem exceção, saíam com algo novo nos olhos:
um brilho antigo, como quem se lembrava de si depois de muito tempo.

E a fonte?
Ah, a fonte continuava lá, como sempre:
firme, fresca, fiel.

Porque há coisas no mundo que esperam a gente voltar.
E quando a gente volta… elas já sabiam.

Moral da história:

Às vezes, o que a gente mais precisa não está longe nem caro  está quieto, esquecido, dentro da gente.
A pressa do mundo ensina a correr, mas a alma só floresce quando a gente para. Por isso, nunca se esqueça: toda fonte de paz começa com um passo de volta pra dentro.
E quem aprende a ouvir o silêncio, nunca mais se perde de si. 

Olhei em volta, e todos já dormiam bem abraçadinhos... 
Principalmente os dois menores ♥️


Por 
Fernanda!

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depois que a letra nasce
não há silêncio
há um choro que só eu ouço
e um medo que ninguém vê
o medo de mostrar demais
de sangrar diante de estranhos
de ser lida com desdém
ou pior: com pressa
porque parir palavras
é também deixar o peito aberto
num mundo que não sabe lidar
com quem sente fundo
a escrita respira fora de mim
e eu, nua, assisto
alguns dizem que é lindo
outros nem leem até o fim
há quem tente vestir meu poema
com a própria assinatura
como se dor fosse transferível
como se parto tivesse atalho
e é aí que mais dói
quando roubam o nome da minha filha
e fingem que nasceu de outra boca
quando arrancam o umbigo do texto
e dizem: “isso é meu”
não é
eu sei cada madrugada que ela levou
cada perda que empurrou esse verso
cada lágrima que virou frase
não quero aplauso
mas exijo respeito
porque minha escrita
anda no mundo com meu rosto
meus olhos, minha história
e quando alguém a toma como se fosse nada
está me dizendo:
“você também é nada”
mas eu sou tudo
o que ninguém teve coragem de escrever
e continuo parindo
mesmo ferida
porque escrever é a única forma
que conheço de sobreviver
(Fernanda)