Por mais que tentemos parecer fortes, autossuficientes, resolvidos
a verdade é que precisamos uns dos outros.
Precisamos de um olhar que nos veja quando estamos invisíveis.
De uma palavra que nos alcance quando o mundo parece mudo.
De um toque, ainda que breve, que nos lembre que pertencemos.
Não fomos feitos para a solidão que endurece.
Somos laços, não ilhas.
Somos passagem, não muros.
Na dor, precisamos de ombro.
Na alegria, de partilha.
Na dúvida, de alguém que caminhe ao nosso lado, mesmo que em silêncio.
É bonito ser forte, mas é mais bonito ainda reconhecer que ninguém atravessa a vida sozinho.
Precisamos do outro para nos lembrar quem somos,
para recolher o que esquecemos em nós,
para amar e sermos amados com todas as nossas falhas.
Se há cura no mundo, ela começa no encontro.
Porque quando dois corações se reconhecem, algo sagrado acontece:
o medo se acalma, a alma respira,
e a esperança recomeça.
Precisamos uns dos outros.
E tudo bem. É assim que foi sempre para ser.
Praticar o amor uns com os outros.
Semear é preciso.
Fernanda
Nenhum comentário:
Postar um comentário
depois que a letra nasce
não há silêncio
há um choro que só eu ouço
e um medo que ninguém vê
o medo de mostrar demais
de sangrar diante de estranhos
de ser lida com desdém
ou pior: com pressa
porque parir palavras
é também deixar o peito aberto
num mundo que não sabe lidar
com quem sente fundo
a escrita respira fora de mim
e eu, nua, assisto
alguns dizem que é lindo
outros nem leem até o fim
há quem tente vestir meu poema
com a própria assinatura
como se dor fosse transferível
como se parto tivesse atalho
e é aí que mais dói
quando roubam o nome da minha filha
e fingem que nasceu de outra boca
quando arrancam o umbigo do texto
e dizem: “isso é meu”
não é
eu sei cada madrugada que ela levou
cada perda que empurrou esse verso
cada lágrima que virou frase
não quero aplauso
mas exijo respeito
porque minha escrita
anda no mundo com meu rosto
meus olhos, minha história
e quando alguém a toma como se fosse nada
está me dizendo:
“você também é nada”
mas eu sou tudo
o que ninguém teve coragem de escrever
e continuo parindo
mesmo ferida
porque escrever é a única forma
que conheço de sobreviver
(Fernanda)