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Eu amo escrever. Escrevo porque às vezes não cabe tudo aqui dentro. Porque há sentimentos que só se organizam quando viram palavras, e pensamentos que só fazem sentido quando dançam na página. Amo também olhar o céu e talvez isso diga tudo. Há quem olhe o céu para prever o tempo, eu olho para prever a mim mesma. Há algo em observar as nuvens, as estrelas ou o silêncio azul que me faz lembrar que existe poesia mesmo nos dias comuns. Este blog nasce desse encontro: entre a escrita e o céu. Vai ser um espaço para dividir pensamentos, contar histórias, guardar pedaços de mim e talvez, de você também, que me lê agora. Obrigada por estar aqui. Que você se sinta à vontade. Que cada texto seja como uma janela aberta, onde o vento entra leve e, quem sabe, traz um pouco de luz também

Amor sempre....

Amor sempre....
Caminho entre flores. O chão continuará pra nós com outras paisagens. Sou o que sou, porque é tudo que sei ser. E todo meu olhar escrito que você nunca aprendeu a ler, permanecerá no descaso para quem não compreende.

13 julho, 2025

Mais que sogras

Aleatoriamente um toque de poesia
Crônica



Minha amiga hoje amanheceu com os olhos baixos e o humor torto.
Não era a chuva, nem a falta de café. Era sogra. Ou melhor, sogras.

Como é que você aguenta viver com duas? me perguntou, já no meio da queixa, sem nem dar bom dia. Sorri. Respondi do jeito mais simples que pude: Eu não as vejo só como sogras.

Ela franziu a testa, entre a curiosidade e incredulidade.
Expliquei: São mais que isso. Elas são mulheres com histórias muito maiores que os estereótipos. Já foram filhas, mães novas, mulheres casadas, algumas viúvas talvez, cheias de medos, de coragem, de erros. As minhas, eu as vejo como mães emprestadas pela vida. E, às vezes, como reflexo  do que eu mesma posso me tornar.

Mas Fê, elas se metem em tudo, não dá! retrucou minha amiga, já com os olhos mais vivos. Sim, às vezes se "metem". Dão palpites que eu não pedi, olhares que dizem mais que palavras, conselhos com cheiro de antigamente. Mas sabe o que eu penso? Elas se importam. E quando alguém se importa, mesmo de um jeito atravessado, há afeto ali tentando se expressar mesmo que nem sempre com delicadeza.

Respiramos fundo. O chá já esfriava na mesa. Disse a ela que aprender a conviver com sogras é, de certa forma, um exercício de humanidade. É se lembrar que nem todo cuidado vem embrulhado em laço. Às vezes, vem em forma de conselho “intrometido”, de receita repetida, de silêncio barulhento na hora errada.

Mas, se a gente troca o julgamento pela escuta, a crítica pela curiosidade… pode ser que descubra ali, no meio das falas atravessadas, uma mulher que só quer ainda fazer parte da vida de alguém.
E isso apesar do incômodo também é bonito.

Ame como uma mãe falei, por fim. Talvez não dê certo sempre. 
Mas, se der, o coração fica mais leve.
E o amor, mais generoso.

Ela me olhou com aquele olhar de quem quer entender, mas ainda tá digerindo o conselho. Fez um muxoxo e disse:

Tá… mas se eu começar a tratar minha sogra como mãe, será que ela vai parar de me perguntar por que meu arroz nunca fica soltinho?

Rimos.

Expliquei que não, provavelmente ela vai continuar perguntando. Vai implicar com o arroz, com a roupa do neto, com o jeito que você coloca a toalha na mesa. Mas é isso: toda mãe tem seu próprio manual invisível de “como as coisas devem ser feitas”. E sogra é só mãe com título alternativo.

Ela soltou uma gargalhada e disse:
Então o segredo é conviver como se a gente estivesse num intercâmbio cultural?

Exato! respondi. A cultura dela é outra. Ela veio de um tempo onde a gente passava hipoglós até em tristeza, onde casa arrumada era sinal de caráter, e onde filho bem alimentado era aquele que arrotava depois da sopa. É outro mundo. Não é contra você. É só o universo dela colidindo com o seu. Mas, veja bem, isso pode dar boas histórias… ou bons memes de grupo da família.

E continuei:
Agora… se forem duas sogras, como é o meu caso, você aprende a mediar conflitos como embaixadora da ONU. Cada elogio vira acordo de paz. Cada almoço, uma conferência internacional. E se elas se unirem contra você? Ah, aí é sinal de que te amam em comum. Quando sogras se unem, é porque você virou assunto principal e não há maior honra que essa.

Ela quase cuspiu o chá de tanto rir.

Você é maluca. disse ela, enxugando o riso.

Sou. Mas sigo em paz respondi. Porque, no fim das contas, é tudo sobre pertencer. E se alguém insiste tanto na sua vida, é porque, de algum jeito torto, já te considera parte da bagunça emocional que é a família.

Ela levantou, ajeitou o cabelo e disse:
Tá. Vou tentar ver a minha sogra com mais ternura. Ou pelo menos com menos drama. Mas se ela falar mal do meu feijão hoje, juro que mando ela plantar o próprio.

Só não esquece de mandar com carinho, tá? Porque sogra, depois dos 60, ouve com o coração e ele é meio “surdo”.

Sogra, no fim das contas, é reflexo antigo: não reflete só o que somos, mas o que ainda vamos ser  com mais tempo, mais ruga, mais “teimosia”. Mais cheia de amor.

E se às vezes pesa, é porque afeto também pesa.
Mas sabe? Que sorte a nossa se pudermos rir antes da saudade chegar.

Amo-as com um amor que não se mede e nem explica.
As minha "sogras" mães são amorosas e maravilhosas.
Por isso, amiga, o conselho que te dou é: se der pra escolher entre discutir ou rir… ria.




Fernanda

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depois que a letra nasce
não há silêncio
há um choro que só eu ouço
e um medo que ninguém vê
o medo de mostrar demais
de sangrar diante de estranhos
de ser lida com desdém
ou pior: com pressa
porque parir palavras
é também deixar o peito aberto
num mundo que não sabe lidar
com quem sente fundo
a escrita respira fora de mim
e eu, nua, assisto
alguns dizem que é lindo
outros nem leem até o fim
há quem tente vestir meu poema
com a própria assinatura
como se dor fosse transferível
como se parto tivesse atalho
e é aí que mais dói
quando roubam o nome da minha filha
e fingem que nasceu de outra boca
quando arrancam o umbigo do texto
e dizem: “isso é meu”
não é
eu sei cada madrugada que ela levou
cada perda que empurrou esse verso
cada lágrima que virou frase
não quero aplauso
mas exijo respeito
porque minha escrita
anda no mundo com meu rosto
meus olhos, minha história
e quando alguém a toma como se fosse nada
está me dizendo:
“você também é nada”
mas eu sou tudo
o que ninguém teve coragem de escrever
e continuo parindo
mesmo ferida
porque escrever é a única forma
que conheço de sobreviver
(Fernanda)