Minha amiga hoje amanheceu com os olhos baixos e o humor torto.
Não era a chuva, nem a falta de café. Era sogra. Ou melhor, sogras.
Como é que você aguenta viver com duas? me perguntou, já no meio da queixa, sem nem dar bom dia. Sorri. Respondi do jeito mais simples que pude: Eu não as vejo só como sogras.
Ela franziu a testa, entre a curiosidade e incredulidade.
Expliquei: São mais que isso. Elas são mulheres com histórias muito maiores que os estereótipos. Já foram filhas, mães novas, mulheres casadas, algumas viúvas talvez, cheias de medos, de coragem, de erros. As minhas, eu as vejo como mães emprestadas pela vida. E, às vezes, como reflexo do que eu mesma posso me tornar.
Mas Fê, elas se metem em tudo, não dá! retrucou minha amiga, já com os olhos mais vivos. Sim, às vezes se "metem". Dão palpites que eu não pedi, olhares que dizem mais que palavras, conselhos com cheiro de antigamente. Mas sabe o que eu penso? Elas se importam. E quando alguém se importa, mesmo de um jeito atravessado, há afeto ali tentando se expressar mesmo que nem sempre com delicadeza.
Respiramos fundo. O chá já esfriava na mesa. Disse a ela que aprender a conviver com sogras é, de certa forma, um exercício de humanidade. É se lembrar que nem todo cuidado vem embrulhado em laço. Às vezes, vem em forma de conselho “intrometido”, de receita repetida, de silêncio barulhento na hora errada.
Mas, se a gente troca o julgamento pela escuta, a crítica pela curiosidade… pode ser que descubra ali, no meio das falas atravessadas, uma mulher que só quer ainda fazer parte da vida de alguém.
E isso apesar do incômodo também é bonito.
Ame como uma mãe falei, por fim. Talvez não dê certo sempre.
Mas, se der, o coração fica mais leve.
E o amor, mais generoso.
Ela me olhou com aquele olhar de quem quer entender, mas ainda tá digerindo o conselho. Fez um muxoxo e disse:
Tá… mas se eu começar a tratar minha sogra como mãe, será que ela vai parar de me perguntar por que meu arroz nunca fica soltinho?
Rimos.
Expliquei que não, provavelmente ela vai continuar perguntando. Vai implicar com o arroz, com a roupa do neto, com o jeito que você coloca a toalha na mesa. Mas é isso: toda mãe tem seu próprio manual invisível de “como as coisas devem ser feitas”. E sogra é só mãe com título alternativo.
Ela soltou uma gargalhada e disse:
Então o segredo é conviver como se a gente estivesse num intercâmbio cultural?
Exato! respondi. A cultura dela é outra. Ela veio de um tempo onde a gente passava hipoglós até em tristeza, onde casa arrumada era sinal de caráter, e onde filho bem alimentado era aquele que arrotava depois da sopa. É outro mundo. Não é contra você. É só o universo dela colidindo com o seu. Mas, veja bem, isso pode dar boas histórias… ou bons memes de grupo da família.
E continuei:
Agora… se forem duas sogras, como é o meu caso, você aprende a mediar conflitos como embaixadora da ONU. Cada elogio vira acordo de paz. Cada almoço, uma conferência internacional. E se elas se unirem contra você? Ah, aí é sinal de que te amam em comum. Quando sogras se unem, é porque você virou assunto principal e não há maior honra que essa.
Ela quase cuspiu o chá de tanto rir.
Você é maluca. disse ela, enxugando o riso.
Sou. Mas sigo em paz respondi. Porque, no fim das contas, é tudo sobre pertencer. E se alguém insiste tanto na sua vida, é porque, de algum jeito torto, já te considera parte da bagunça emocional que é a família.
Ela levantou, ajeitou o cabelo e disse:
Tá. Vou tentar ver a minha sogra com mais ternura. Ou pelo menos com menos drama. Mas se ela falar mal do meu feijão hoje, juro que mando ela plantar o próprio.
Só não esquece de mandar com carinho, tá? Porque sogra, depois dos 60, ouve com o coração e ele é meio “surdo”.
Sogra, no fim das contas, é reflexo antigo: não reflete só o que somos, mas o que ainda vamos ser com mais tempo, mais ruga, mais “teimosia”. Mais cheia de amor.
E se às vezes pesa, é porque afeto também pesa.
Mas sabe? Que sorte a nossa se pudermos rir antes da saudade chegar.
Amo-as com um amor que não se mede e nem explica.
As minha "sogras" mães são amorosas e maravilhosas.
Por isso, amiga, o conselho que te dou é: se der pra escolher entre discutir ou rir… ria.
Sempre maravilhosa. Viver com duas sogras. Saber que elas são mulheres com muita história. Que "Já foram filhas, mães novas, mulheres casadas, algumas viúvas talvez, cheias de medos, de coragem, de erros." Por isso saber mediar os conflitos. Eu nunca vivi com nenhuma sogra. Creio que não deve ser fácil. Mas a sua postura é realmente excelente.
ResponderExcluirUma boa semana.
Um beijo.
Graça querida,
Excluirque comentário mais sensível o seu. É isso mesmo por trás da palavra “sogra” existem mulheres inteiras, com histórias tão complexas quanto as nossas. Mulheres que um dia também se sentiram perdidas, apaixonadas, exaustas, esperançosas. Conviver com isso requer mais escuta do que julgamento, mais humanidade do que estratégia. Obrigada pelo carinho de sempre.
Um beijo grande e uma linda semana pra você também! 😘
Há um preconceito inicial com as sogras por parte das noras, porque elas, as sogras, acham que ninguém melhor que elas sabe tratar dos filhos. Mas se forem seguidos os conselhos da Fernanda, tudo se resolve em harmonia.
ResponderExcluirBoa semana querida amiga.
Um beijo.
Jaime querido,
Excluirvocê tocou num ponto muito real esse território inicial entre sogras e noras muitas vezes já vem minado de expectativas, ciúmes velados e uma disputa silenciosa por um lugar no coração daquele “filho de duas mulheres”. Mas com escuta, delicadeza e um pouco de humor
(que sempre ajuda), a convivência pode virar parceria. Obrigada por sempre ler com tanta atenção e carinho.
Uma ótima semana pra você também!
Um beijo.😘
Que lindo o teu relacionamento com tuas sogras mães! E tua amiga açém das risadas, levou belos ensinamentos... Nada melhor do que relacionamentos com respeito, carinho, amizade entre todos! beijos, linda semana! chica
ResponderExcluirChica querida,
Excluirvocê sempre tão atenta ao que realmente importa: o afeto com respeito. É isso mesmo quando há espaço para carinho e escuta, até as relações mais delicadas florescem. E sim, minha amiga levou risadas, mas também alguns exemplos rsrs 😆 … às vezes a gente aprende mais sorrindo do que chorando.
Um beijo enorme e uma semana linda pra você também! 😘
Fernanda! Duas sogras????
ResponderExcluirAí é demais...
Elas são um casal ou cada uma é de um casamento?
Se forcada uma de um casamento, aí deve ser um terreno minado esse.
E você, conviver tão bem com elas... Deve ser mesmo um anjo!!!
Vamos te beatificar e depois santificar: Nossa Senhora Maria Fernanda so pé grande.
Repita comigo: Amém....
André! Meu filho… Duas sogras, sim! Uma pra cada temporada da novela da vida. Nada de casal, é dupla de enredo mesmo. Risos 🤭 uma mãe de Felipe e a outra de Andre. Cada uma com sua sabedoria, seu tempero, seus silêncios estratégicos. Vou brincar agora: E eu ali, no meio, “tentando não pisar em minas emocionais”, tropeçando em memórias que nem são minhas, e servindo café como quem oferece tréguas.haha
ExcluirMas olha… sobrevivo!
Com afeto, com bom humor e às vezes com fone de ouvido
(porque ninguém é de ferro). Uiii!😉
Agora, essa beatificação aí eu vou aceitar, viu?
Mas “Nossa Senhora Maria Fernanda do Pé Grande” kkkkkkkkkk
foi um toque de genialidade.
Vou mandar bordar numa toalha de mesa!
Repito com você:
Amém. E com risos! 😄
Kkkk só você mesmo Andre kkkkk
Kkkkkkkkkkkk.
ExcluirBom dia de muito humor, querida amiga Fernanda!
ResponderExcluirVou ter que me esquecer das dores sofridas com sogras para entrar no barco do humor seu.
Então, tive uma sogra, mãe de filho único, imagina daí...
Era muito novinha e não tinha malícia, creio que foi minha sorte para conviver com a mulher má que só percebi anos depois.
Mas não vamos falar mal dos falecidos...
Vou me ater a sogra que sou.
Pode ser, querida?
Meu genro operou varizes (quase teve trombose) e eu lá com comidinha na cama...
Minha nora gosta de bolinho de arroz e eu capricho quando ela vem.
A outra é muito moderna e quer me levar para os botox da vida, vai ficar querendo, rs...
Já tive várias noras e varos genros. Calma, vou explicar!
Minha filha está num único casamento de quas 20 anos, mas começou a namorar cedo e eu o tinha como filho, faleceu num acidente de moto. Os quinze anos dela está com ele na foto. Ele não se dava com a mãe e me adotou (adolescente sabe bem como é).
O marido é filho homem depois de duas mulheres. Então deixo as vezes para a mãe italiana que também você sabe como é...
Não me incomodo mais de ficar de escanteiio com ninguém, honestamente. Faço meu gol quando é preciso.
Aprendi a resignação e continuar vivíssima.
As noras dos filhos que estão no segundo matrimônio são legais, mas eu deixo espaço para elas ficarem com as mães...
Sogra é sogra, já me ensinou minha filha quando me disse quando os bebês eram pequenos que só confiava em mim, kkk.
Enfim, acho que te passei o retrato de como vejo o lugar da sogra (eu).
Ajudar quando solicitada e escrever livros nos tempos vagos, kkk.
Tenha dias de paz com suas duas sogras!
Na falta de uma, sempre é salutar ter uma de reserva se elas são assim com você, vale a pena.
Vou continuar a fazer bolinho de arroz e evitar o Botox até o fim... uma pizza ao genro cada vez que venha.
A vida pede passagem, as sogras também merecem viver em paz.
Temos que desmerecer o título de jararacas, ganho merecidamente em algumas e, noutras, não .
Tenha dias de conciliação que vale a pena!
Beijinhos fraternos
P.S. Procurei manter seu humor, tomara ter conseguido.
Vou me levantar do quarto quentinho para o café. Sogra aposentada merece ficar na cama bem quentinha até quando queira. Depois, fazer uma boa caminhada para Manter a saúde em dia... bjm
Roselia querida,
Excluireu li seu comentário como quem lê um capítulo inteiro de um livro de memórias e dos bons! Daqueles recheados de verdade, ironia fina e generosidade com a própria história.
Menina, que saga! Você já poderia abrir uma consultoria afetiva para sogras, com direito a bolinho de arroz de boas-vindas e uma plaquinha na porta: “Aqui se vive e se deixa viver.” 😉
E veja bem: o combo genro-operado + nora do botox + bolinho + pizza + escanteio estratégico + gol na hora certa é quase um curso de PhD em convivência familiar.
😊 Admiro sua leveza. Porque, sim, a vida dá nó, mas a gente pode escolher bordar flor por cima.
E quer saber? Se toda sogra tivesse esse olhar seu de quem já viu, doeu, curou e escolheu rir mesmo assim o mundo estaria mais conciliado, e a má fama das sogras teria virado lenda urbana.😃
Que bom te ler. Que bom saber que você também escolheu viver em paz.
E, por favor: nunca pare com os bolinhos, nem com os livros. Sogra que escreve e frita é patrimônio afetivo da família.🫶
Um beijo enorme e uma xícara de café (virtual) pra acompanhar essa sua manhã quentinha!
Obrigada 🙏🏻
Obrigada, menina, que comentário mais afetuoso, aliás tem sempre uma palavra ideal e carinhosa a todos. Bravo!
ExcluirSó não vou acreditar cem por cento para não ficar um sogra soberba... ui!
Beijinhos com gostinho de pé de moleque que acabei de fazer após caminhada... ah! e os bolinhos, eu tenho feito nas forminhas de cupcakes assados e ficam tão saborosos... arroz dormido, tempero verde, queijo ralado, cenoura se desejar, ovo e um colherzinha de amido de milho (uma leveza), já fiz até com brócolis...
Olha meu 'espírito de sogra' se intrometendo no seu cardápio, rs...
Roselia, seu “espírito de sogra” é tudo que a gente quer na cozinha e na vida: afeto, humor e bolinhos com queijo ralado! 😂
ExcluirE esse jeito de misturar carinho com receita me ganhou pé de moleque depois da caminhada? Isso é autocuidado com sabor de infância! Pode se intrometer no meu cardápio à vontade, viu? Com essa leveza e esse tempero que só você tem, sua cozinha vira crônica, e sua fala dá vontade de sentar na varanda pra ouvir mais. Beijinhos com gosto de brócolis bem temperado e risada compartilhada!😉
Great blog
ResponderExcluirThank you, Rajani! So glad you enjoyed it your words may be short, but they brought a big smile. 😊
ExcluirHope to see you around here more often!
Olha, tive que rir com essa tua postagem...morar com duas sogras deveria te habilitar a ganhar um Oscar de paciência e controle emocional...hahhh
ResponderExcluirMas as sogras são muito esteriotipadas né? É certo que em sua maioria, acho, são chatas, principalmente as mães dos homens que quase sempre entram em rota de colisão com a nora.
Dei sorte porque a minha sogra quase não dá nenhum pitaco aqui em casa, apesar de morar no andar de baixo e a minha esposa já não tem mais sogra, mas quando tinha, era considerada filha.
Morar com sogra e levar tão de boa como você leva, com muita inteligência emocional, paciência e afeto, merecia habilitação, outra vez, digo, a um Oscar.
Eduardo, ri alto com esse “Oscar de paciência”! Acho que se tivesse uma categoria “Convivência em território afetivo-minado com leveza e dignidade”, eu concorria, viu? 😂
ExcluirE você tem razão: sogras são muito estereotipadas umas merecem, outras só estão tentando amar do jeito que sabem. No meu caso, é como conviver com dois canais de rádio ao mesmo tempo: um fala de passado, outro de futuro, e eu ali no meio tentando sintonizar o presente sem fritar a antena!
(Brincadeirinha). Elas são maravilhosas sério!!!
Mas confesso que morar com sogra é um intensivão emocional. Tem que amar na mesma dosagem senão 😅 .hahahah😂
Se a gente passa por isso com afeto e ainda rindo… olha, já estamos mais avançados que muita terapia por aí! 😅
Obrigada pelo carinho nas palavras e pela risada compartilhada!
Valeu!
Beijão 😘
Fernanda, querida, você merece um Óscar pelo equilíbrio, pelo carinho, pela paciência pelo emocional nota 10! Verdade, amiga! Eu nunca vi algo igual na minha vida!
ResponderExcluirDava-me muito bem com minha sogra, sem dúvida, mas não morava com ela kkk.
E você morando com duas, e se dando muito bem, deve ser uma convivência muito carinhosa, coisa de mãe! Claro que bato palmas, você conseguiu, amiga, "tirou de letra... 😅 como dizemos aqui, quando a coisa deu certo!
Beijinhos e meu carinho!
Taís, sua mensagem é um abraço daqueles que chegam com flor e bombom junto! Amo minha sogras do
ExcluirFundo do ♥️ mas vou brincar por aqui.
Morar com duas sogras realmente merecia, no mínimo, um troféu com glitter e trilha sonora de superação! 😂 Mas o carinho, o respeito e principalmente o senso de humor ajudam muito a manter tudo no prumo (ou quase, né? Porque às vezes o prumo balança, rs).
Adorei saber que você também teve uma boa relação com a sua sogra! No fim, quando tem afeto de verdade, dá pra tirar de letra mesmo com umas risadas no meio.
As minhas são realmente preciosas.
Beijinhos cheios de gratidão e esse carinho bonito que atravessa palavras!
😘