Historinha
Mamãe, hoje tem história?
perguntou o menor, já com o cobertor até o nariz.
Tem sim amor, respondi.
E é daquelas que brilham até depois que a gente fecha os olhos.
Eles se ajeitaram, atentos, curiosos, com aquele silêncio de quem vai viajar sem sair da cama.
Comecei :
Era uma vez uma Noite muito especial. Não era qualquer noite…
Era a noite em que Jesus caminhava pela Terra e ouviu duas vozes discutindo: a da Raiva e a do Amor.
A Raiva reclamava de tudo, queria respostas rápidas, queria vencer.
O Amor apenas respirava fundo, paciente como quem entende o tempo das coisas.
Jesus se aproximou e disse:
Raiva, venha cá. Você não precisa gritar para ser ouvida.
E como querem que eu fale? resmungou ela, quase tremendo.
Com o coração respondeu Ele. Quando você aprende a falar com o coração, deixa de ferir e começa a proteger.
A Raiva olhou para o Amor. O Amor apenas sorriu, um sorriso calmo que iluminou a noite. E algo incrível aconteceu: a Raiva começou a brilhar também.
Um brilho diferente… um brilho quente, bonito, como se alguém acendesse uma lanterna dentro dela.
O que está acontecendo comigo? ela perguntou, surpresa.
Estás descobrindo que também foste criada para o bem disse Jesus. Só esqueceste disso por um tempo.
E então, meus amores…
aquela noite escura ficou cheia de pontinhos de luz.
Porque quando o amor conversa com a raiva, até o céu aprende a ficar mais claro.”
Quando terminei, eles ainda estavam quietinhos, olhando para mim com aquele misto de encanto e paz.
Boa noite amores🥰
Boa noite mamãe, obrigada 🙏🏻
E eu sei:
hoje, a história não foi só para eles.
Foi para todos nós.
Mamãe, te amamos
E eu mais 🥰
Fernanda

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depois que a letra nasce
não há silêncio
há um choro que só eu ouço
e um medo que ninguém vê
o medo de mostrar demais
de sangrar diante de estranhos
de ser lida com desdém
ou pior: com pressa
porque parir palavras
é também deixar o peito aberto
num mundo que não sabe lidar
com quem sente fundo
a escrita respira fora de mim
e eu, nua, assisto
alguns dizem que é lindo
outros nem leem até o fim
há quem tente vestir meu poema
com a própria assinatura
como se dor fosse transferível
como se parto tivesse atalho
e é aí que mais dói
quando roubam o nome da minha filha
e fingem que nasceu de outra boca
quando arrancam o umbigo do texto
e dizem: “isso é meu”
não é
eu sei cada madrugada que ela levou
cada perda que empurrou esse verso
cada lágrima que virou frase
não quero aplauso
mas exijo respeito
porque minha escrita
anda no mundo com meu rosto
meus olhos, minha história
e quando alguém a toma como se fosse nada
está me dizendo:
“você também é nada”
mas eu sou tudo
o que ninguém teve coragem de escrever
e continuo parindo
mesmo ferida
porque escrever é a única forma
que conheço de sobreviver
(Fernanda)